sábado, 16 de março de 2013

Sob meu critério (Parte 07) – Marcelo Silva


Acordei em seu colo, sendo velado pelo seu olhar carinhoso e tendo o que restava de meus cabelos em seus dedos que os acariciavam. A primeira visão que tive foi de seu sorriso a me receber de volta ao mundo. Olhei para o relógio e vi que eram nove horas da noite, dormi por horas seguidas em seu colo e notei que agora já fazia 24 horas que estávamos juntos em nosso lugar secreto. Falei para ela sobre a duração de nossa jornada e ela sorriu e deu de ombros, falando que não acreditava que o jogo tinha terminado ainda. Perguntei se ela não se preocupava com as pessoas que deviam estar à sua procura, mas ela sorriu e falou que não iria adiantar ter essa preocupação, pois ainda esperava o fim de todas as partidas.

Tentei levantar e senti uma fisgada no pescoço, notei que ela havia amarrado uma faixa de seda ao meu pescoço e prendeu a outra ponta em sua canela. Com um olhar de fúria, eu a fulminei e ordenei, cerrando os dentes, que ela soltasse. Ela sem esboçar nenhuma reação além um pequeno sorriso cínico, desatou meu pescoço e me levantei.


Peguei comida e bebida para nós dois, e ainda possesso e furioso a servi e me sentei no colchão, de frente para ela. Comecei a fitar seus olhos que escondiam algo de intrigante a assustador, ela percebeu minha curiosidade e displicentemente abriu suas pernas, se exibindo para mim enquanto se deliciava com o que trouxe para ela.

Do nada, ela começou a mexer em seus pelos sem olhar para mim. Levantei-me e fui até a mesa e trouxe uma toalha macia, um guardanapo, o sabonete liquido, uma pequena tesoura e um aparelho de barbear. Segurei-a pela nuca e delicadamente a deitei, abrindo suas pernas e deixando seu monte de Vênus à mostra. Delicadamente e em silêncio eu comecei a podar a folhagem de seu jardim mais intimo, segurando cada pequeno tufo de pelos e cortando-os rente a sua pele. A cada porção retirada eu depositava no guardanapo delicadamente. Cada vez que fitava seu olhar entre uma poda e outra, ela me sorria, mas não era seu sorriso normal. Era algo ainda indecifrável, algo de poder e vingança parecia brotar de seus olhos.

Cada movimento era um ritual, cada passo era tratado com reverencia, até que só restaram as pontas curtas e aparadas de seus pelos. Espalhei o sabonete pelos restos dos pelos e delicadamente comecei a retirar com o aparelho. Eu fazia movimentos suaves e precisos, e cinicamente procurava apoiar um dos dedos em seu clitóris enquanto com a outra mão manejava o barbeador.

Ela gemia e sorria com a mesma enigmática expressão que me fazia arquear as sobrancelhas num claro sinal de curiosidade e receio. Quando terminei, enxuguei as marcas finais do sabonete e olhando de perto para verificar a tarefa, comecei a dar pequenos beijos, que foram crescendo e se tornando mais intensos, até que estava completamente grudado e profundamente sugando e lambendo sofregamente tudo o que podia. Ela ficou de lado e segurava minha cabeça com as mãos, mantendo-me cativo com suas pernas a apertar minhas orelhas e suas mãos a me puxar em sua direção. Não demorou muito e quase sem ar e com a circulação sendo segura pelas suas coxas, eu senti seu gozo chegando rápido e bebi cada gota de seu prazer que vinha em porções generosas, quentes e deliciosas.

Ela passou alguns segundos parada e depois, enquanto eu comia alguns cookies, ela deitando-se de lado sobre o braço direito esticado, apoiou o rosto sobre a mão esquerda e me perguntou: “Então você me ama?”

Ao lembrar que antes de desfalecer deixei escapar minha confissão, engasguei e comecei a tossir, espalhando migalhas de comida por todo o colchão e tentei parar o meu sufocamento com goles generosos de água. Ela sorriu e rolando deliciosamente veio até mim, se ajoelhou na minha frente, colocou as mãos em minha face e se aproximou. Eu podia sentir o calor de seu rosto e seu hálito quente. Ela me olhou bem no fundo de meus olhos e falou: “Mas eu não te amo, isso é apenas um jogo.”

Aquelas palavras tiveram o efeito de um mergulho em água gelada. Imediatamente me recompus e me levantei. Retirei tudo de cima do colchão e agora tomado por um sentimento ambíguo entre a fúria e a decepção, me controlei para não arremessar tudo que havia pela frente na parede. Não conseguia mais olhar para seus olhos, ela ficou quieta e apenas me olhava com uma das sobrancelhas mais alta que a outra e um meio sorriso de lábios cerrados.

Eu não consegui pensar mais com clareza, meus movimentos ficaram descoordenados e sentia que o controle escorria pelos meus dedos. Fui até o canto onde estavam os baldes de água e virei um inteiro em cima de minha cabeça. Aquilo fez meu centro voltar e respirando fundo fui até a mesa e peguei uma toalha e uma muda de roupa. Me vesti cuidadosamente, primeiro a cueca, depois a camisa preta de mangas longas, depois a calça social preta, meias, sapatos e por ultimo o cinto que ainda estava úmido em cima do balcão.

Ela se levantou e veio até o limite do colchão, e com um sorriso falou: “Que bonito! Vai sair bebê?”. Com um pequeno sorriso que segurava todo o veneno que queria jorrar de dentro de mim, me aproximei e sem aviso dei-lhe uma bofetada fraca no seu rosto com as costas da mão e pus o indicador direito em riste nos meus lábios e falei: “Schiu!!! O jogo recomeçou!”. Aparentemente, ela jamais esperaria essa reação e sentou-se se encolhendo junto à parede. Comecei a repetir pausadamente as quatro regras: “Regra número 1: eu mando e você obedece. Regra número dois: você só irá falar quando for permitido. Regra número três: Muito provavelmente, quando você sair daqui, nunca mais ouvirá falar de mim. Baseando-se nisso, a terceira regra é não sentir-se envergonhada com nada! SEMPRE me olhe nos olhos! Regra número quatro: Qualquer quebra de uma das regras anteriores, voltamos de novo ao ponto de partida com você vendada e amordaçada. Voltaremos ao clorofórmio, à musica, à venda e à mordaça.”.

Fui até a mesa e lá abri o estojo com as laminas do estilete, e pus as dez dentro de um pote plástico. Fui até a caixa térmica e cobri as laminas com gelo. Peguei o tubo que estava junto ao balcão e segurando por uma de suas pernas a arrastei para o centro do colchão sem olhar para trás. Virei ela de costas, retirei o roupão negro e prendi seus tornozelos ao tubo mantendo suas pernas abertas e depois prendi cada ponta do tubo nas argolas no chão nas esquinas do colchão. Na mesa peguei outro tubo idêntico e repeti o processo em seus pulsos, deixando-a com os braços e pernas abertos, estendidos e presos.

Retirei sua coleira e pus a mordaça e a venda, não tendo mais nenhum cuidado com nada. Quanto mais eu avançava, minha fúria crescia e meu desejo de provocar-lhe dor se transformava em um tesão que fazia me doer as mandíbulas de tanto que as forçava uma contra a outra. Ela ficou estática, imóvel. Sua respiração estava normal e pausada. Fui até a mesa de lá trouxe um plug anal e após lubrificá-lo o introduzi vagarosamente entre suas nádegas, que respondendo a toda a reação de seu corpo a se contorcer de dor, fechava-se vigorosamente, tentando impedir a invasão. Pela mordaça eu escutava seus gritos e gemidos, e me satisfazia cada vez mais. Prendi seus cabelos firmemente a uma corda e puxei seu pescoço para trás e prendi a outra ponta no tubo, deixando ela ser puxada pelos cabelos, forçando sua cabeça para trás. Sempre que ela tentava baixar um pouco a cabeça, a corda roçava no plug e provocava-lhe mais dor e mais gritos abafados pela mordaça.

Ela tentava expulsar o intruso de suas entranhas, mas o plug era anatomicamente preso por suas carnes. Fui até a mesa e trouxe uma vela e um isqueiro Zippo dourado. Acendi a vela e deitei-me ao seu lado e deliciosamente esperei a cera começar a derreter, antegozando o prazer das imagens que começavam a permear minha mente. Posicionei a vela sobre seu ombro esquerdo e observei ela tentando identificar o cheiro, inspirando entrecortadamente até encher os pulmões, mas esse movimento fazia sua dor aumentar e ela mordia a mordaça com força. A primeira gota desprendeu-se lentamente da vela e ao alcançar sua pele explodiu formando uma pequena estrela de inúmeras pontas, que imediatamente se solidificou. Ela tentou encolher os ombros, mas única coisa que conseguiu foi uma contorção de dor seguida de vários gemidos e alguns palavrões que eu conseguia identificar entre seus grunhidos.

A segunda gota foi em seu outro ombro, fazendo com que tudo se repetisse novamente. A terceira gota eu deixei que caísse no inicio da fenda de suas nádegas, essa foi maior que as restantes devido ao avançado derretimento da parafina, pela chama que dançava como um derviche alucinado. Antes de se solidificar, a cera escorreu alguns centímetros entre suas nádegas que instintivamente contraiu, provocando uma vã tentativa de sacudir os pés que estavam firmemente atados e imóveis. Aleatoriamente sai pingando meu doce deleite por toda as suas costas e aproveitando cada momento do seu castigo.

Depois, fui impregnar seus braços, subindo com a cera quente a partir de seu ombro em direção ao seu pulso. Suas mãos se fechavam no ar, tentando agarrar algo que não existia e sua respiração agora era arfante, seus gritos foram sendo substituídos por gemidos cada vez mais baixos e longos. Quando me posicionei do outro lado para trabalhar em seu outro braço, notei que ela começava a massagear o plug vagarosamente com o movimento de suas nádegas, coloquei a vela no chão e com a boca próxima ao seu ouvido . Bati vigorosamente no plug com o dedo médio esquerdo por três vezes e falei: “espero que esteja se divertindo!”. Ela não esboçou nenhuma reação e continuou com seus gemidos e contrações.

Após desenhar seus dois braços com as gotas quentes, fui para suas pernas e me posicionando do seu lado esquerdo, comecei a pingar em uma de cada vez, alternando entre suas duas pernas e subindo. A cada centímetro que avançava, ela começou a mostrar seu prazer, pois cada pelo de suas costas se levantavam com tanta força que na sua base formavam-se pequenas protuberâncias, arrepiando não só seus pelos, mas sua pele também.

A cada gota que se solidificava em suas pernas, suas nádegas mastigavam o plug com mais força ainda, cada vez mais demoradamente apertando e segurando a respiração. De tanto forçar seu corpo que se contorcia, seus cabelos começaram a deslizar da corda, deixando ela com a cabeça praticamente livre aos movimentos de seu pescoço. Enfiei os dedos da mão esquerda dentro de seus cabelos em sua nuca e fechei-os com força, segurando e puxando eles com rapidamente para trás, falei bem alto: “Você fica onde e como eu quero!”. Joguei a vela que se apagou ainda no ar, num canto de uma parede distante e segurei o plug, girando lentamente de um lado para o outro, provocando-lhe um misto de dor e prazer onde a dor se sobressaia.

Ela começou a gemer mais alto e contrair-se na região dos seus quadris, então ainda segurando seus cabelos com força comecei a forçar a sua retirada que ela tentava impedir, prendendo o objeto de seu desejo como se fosse a ultima coisa que quisesse fazer em sua vida, movendo vigorosamente a cabeça em sinal de negação. Eu puxava mais um pouco e soltava, fazendo ele voltar para seu interior onde ela o acariciava com movimentos repetidos e rápidos. Demorei-me mais nesta deliciosa tortura e ela começou a se jogar para frente e para traz, iniciando mais um orgasmo longo, dolorido e extenuante. Por um momento me peguei admirando-a com ternura, mas rapidamente afastei essa sensação quando lembrei-me de suas palavras: “Mas eu não te amo, isso é apenas um jogo.”

Ela desfaleceu, e o único movimento que seu corpo produzia, alem da respiração ofegante eram algumas contrações das nádegas, cada vez mais distantes entre si.

Larguei seus cabelos e deixei-a entregue ao aproveitamento de seu prazer. Aos poucos sua respiração foi se normalizando e ela adormeceu ainda presa e com o plug dentro de si. Me levantei, peguei mais uma lata de cerveja e um cigarro e fui até a cadeira. Sentado, acendi o cigarro e abri a cerveja e bebi vagarosamente, aproveitando cada gole e respirando aliviado e satisfeito. Logo após o ultimo gole, ela começou a acordar e se sentir incomodada com o plug. Fui até ela e falei que ia retirar ele, por trás da venda vi que ela cerrou os olhos e prendeu a mordaça com mais força, se preparando para a retirada. Deitei minha cabeça em suas costas que estavam pontilhadas de pingos de cera, e com o rosto bem perto de suas nádegas e comecei lentamente a retirar. Ela tentava relaxar, mas cada movimento meu a fazia se contorcer de dor, sem nenhum prazer aparente. Me demorei muito tempo na retirada, para que eu pudesse observar sua carne e pele se distendendo ao máximo, sendo repuxadas para fora e provocando o que parecia ser o resultado choques elétricos que se espalhavam em todas as direções, jogando aleatoriamente minha cabeça que repousava em suas costas. Quando finalmente retirei, ela estava novamente ofegante e tentava contrair-se, mas a cada movimento ela sentia mais dor, até que relaxou novamente.

Peguei uma das lâminas de dentro do gelo e com a ponta gélida dela comecei pelos pés a retirar cada gota de cera solidificada em sua pele, que ainda não havia sido arrancada pelo seu contorcionismo de prazer e dor. O toque frio do aço provocava pequenos saltos de seu corpo e cada vez que uma das laminas perdia sua baixa temperatura, aquecida por sua pele que parecia ferver, eu a trocava por outra mais gelada. Quando não restava mais nada em sua pele, a não ser pequenas marcas rosáceas no alabastro alvo que revestia seu corpo, pus o pote com as laminas na mesa e voltei ao colchão. Recoloquei sua coleira e soltei seus braços e pernas. Retirei sua mordaça e sua venda e ordenei: “De joelhos!”, ela obedeceu e sentei-me na cadeira e mandei que ela se aproxima-se ainda de joelhos, ela engatinhou até o limite de seus movimentos no colchão e parou, ajoelhada e olhando para mim. Agora seu olhar estava novamente como deveria: Submisso e dominado. Acendi mais um cigarro e fumei em silencio. Quando terminei, me inclinei para frente e com os dedos das mãos entrelaçados e os braços apoiados em meus joelhos falei: “Tudo isso é apenas um jogo. Eu faço as regras e posso fazer qualquer coisa que quiser com você, inclusive mentir. Eu não te amo! Isso é apenas um jogo para o meu prazer, nada mais!”

Sua feição começou a mudar para uma cara de pranto e as lágrimas começaram a rolar de seu rosto. Ela soluça tentando segurar o pranto mordendo os lábios inferiores e apertando seus olhos com força. Por dentro eu me consumia e um grito se formava em meu peito. Minha garganta se contraiu e tive que buscar todas as minhas forças para não a pegar em meus braços e a abraçar, falando que eu estava mentindo. Mas me contive e me levantei e subi no colchão, me pondo de pé à sua frente, quase encostando-se a ela. Mandei que se levantasse e ela se levantou e começou a enxugar suas lágrimas. De meu bolso, retirei uma camisinha e segurei na mão sem que ela notasse. Mandei que tirasse minhas roupas e ela o fez vagarosamente enquanto ainda soluçava. Quando terminou sua tarefa, ela ficou de pé na minha frente e falei que o jogo estava chegando ao fim, que agora seria minha vez de sentir prazer e segurando-a pelos cabelos a fiz se ajoelhar a minha frente. Já completamente excitado, mandei que abrisse a boca e me coloquei dentro dela, deixando que ela começasse a beijar e sugar meu apêndice ereto, ela começou de forma mecânica, ainda soluçando baixinho. Aos poucos ela foi acelerando e segurou minhas nádegas e começou a querer tomar toda a extensão que não cabia dentro de sua boca. Logo, ela estava entregue àquela maravilhosa felação. Ora eu fechava os olhos e movia minha face em direção ao teto, ora me voltava à maravilhosa cena que se desenrolava abaixo dos meus olhos. Às vezes ela olhava para mim e via que suas lagrimas haviam cessado. Agora era possível identificar um olhar mais excitado e mais compenetrado em sua ação. Quando já não agüentava mais, retirei sua boca de mim a segurando pelos cabelos e entreguei o preservativo. Ela o retirou de sua embalagem e me vestiu com o látex frio e escorregadio. Em seguida me ajoelhei na sua frente e beijei sua boca, que ainda guardava o sabor de minha excitação. Deitei-a e a cobri com meu corpo, cheirando seu pescoço e prendendo suas mãos com as minhas. Ela abriu suas pernas e me encaixei entre elas. Eu roçava a ponta de meu corpo, dardejando sua pélvis em busca da entrada de sua feminilidade, e finalmente após me posicionar certeiramente, ergui meu torso e a olhando nos olhos comecei lentamente a adentrar seu corpo. Centímetro por centímetro e parando a cada pequeno avanço dentro de sua intimidade, que a essa altura já parecia um lago de sucos quentes que mesmo por trás do látex aqueciam-me por dentro dela.

Quando nossos pelos se encontraram, eu a abracei ternamente e beijei sua face e espremi nossos corpos em um abraço onde ela enlaçou minha cintura com as pernas, fazendo sumir os últimos resquícios do que ainda não fora engolido pelas suas carnes quentes, gostosas e úmidas. Lentamente comecei a me movimentar, acelerando cadenciadamente até que éramos dois animais se engalfinhando entre braços e abraços, entre beijos e mordidas; entre olhares e gemidos. Ela iniciou um primeiro gozo onde esticou seu pescoço para trás, mostrando novamente sua jugular a palpitar por trás da coleira. Cravando as unhas em minhas costas ela se pendurou no meu corpo, batendo furiosamente sua cintura contra a minha. Eu ainda estava absurdamente longe de chegar lá e continuei, e continuei mais e mais. Por mais que me esforçasse, a cada vez que sentia os arrepios prévios de meu prazer eu me lembrava de suas palavras: “Mas eu não te amo, isso é apenas um jogo.” E todo o meu prazer partia lentamente, se afastando de mim num caminhar devagar, triste e continuo. Ainda dentro dela eu a segurei a coloquei por cima de mim, ela apoiou as mãos em meu peito e começou a cavalgar-me como uma louca, e quando seu segundo orgasmo a tomou por completo ela desfaleceu em meu peito e assim ficou até que comecei a perder a rigidez e lentamente fui sendo expulso de dentro dela.

A negação de seu amor, me levou a potencia e a virilidade. Aquelas palavras ficavam dançando dentro de minha mente, zombando de mim e fazendo com que eu me sentisse inútil, desolado e sozinho. A sensação era cruel e fria, me tomava por inteiro como se minha alma lentamente me abandonasse, como se meus olhos fossem ficando cegos e sem luz. Coloquei-a ao meu lado e ela ficou naquele estado entre a morte e a vida, entre a consciência e o sono. Levantei-me e retirei o látex vazio, como se fosse um troféu à minha falta de hombridade e com ira e fúria, o joguei contra a parede. Ele parou no alto por algumas frações de segundo e se desprendeu, indo de encontro ao chão, caindo em derrota tal e qual eu me sentia. Fui até o balcão e num salto de costas, subi e me sentei. Eu olhava para a parede, mas não a via. Na minha mente eu viajava para longe e tentava entender todo aquele turbilhão de emoções em que ora me afogava. Às vezes eu olhava para o colchão e a via respirar em um cochilo suave e relaxante. A visão de seu corpo e a certeza de minha inutilidade masculina começou a me minar as forças e baixei a cabeça olhando para meu membro flácido e inerte, fechei os olhos e uma explosão se fez em meu peito, inchando-me a traquéia. Mais uma pancada em meu âmago e minha respiração tornou-se difícil. Por ultimo, quando olhei para ela mais uma vez não me contive e as lágrimas começaram a escorrer de meus olhos silenciosamente. Agora parecia que nada mais fazia sentido, revi meus passos desde sempre e me lembrei de minha recordação mais antiga: o muro de um hospital onde eu estava nos braços de alguém sob o sol fresco da manhã. A memória do céu azul e da sensação de tranqüilidade me fizeram abrir a boca, deixando escapar um suspiro que fez com que mais lágrimas descessem de minha face, molhando minhas coxas e meu sexo. Não sei quanto tempo passei nesse pranto silencioso e vergonhoso, mas quando olhei para o relógio vi que eram 1:30 da manhã.

Em um salto rápido, desci do balcão e fui até os baldes, onde lavei meu rosto, enxuguei e fui até ela que ainda dormia. Deitei-me silenciosamente ao seu lado com a barriga para cima. Tentei adormecer, mas as palavras não saiam de minha mente: “Mas eu não te amo, isso é apenas um jogo.”. As horas se arrastavam e seu corpo nu dormindo ao meu lado parecia segurar os ponteiros do relógio. Até que ela começou a acordar e falou que estava apertada, que precisava de um banheiro. Avisei que o banheiro eu havia tentado recuperar o melhor possível, mas que não era grande coisa. Ela brincou, falando que seria capaz de fazer até dentro de um chiqueiro de tão apertada, mas não consegui rir, apenas um sorriso amarelo brotou de um dos cantos de minha boca.

Soltei sua corrente a mostrei a porta do banheiro que eu havia limpo, desinfetado e pintado. Ela entrou e tentou fechar a porta, mas tive o cuidado de retirar a fechadura. Ela pediu para me afastar, pois não conseguira usar o vaso comigo na porta. Deixei a corrente estendida em direção ao balcão e me sentei na cadeira à espera de sua saída. Ela saiu e novamente a prendi no colchão pela coleira e vestindo minhas roupas fui até seu carro. Abri o porta-malas e retirei o estepe que eu havia esvaziado. Em cima da mesa havia alguns tubos de reparo de emergência para pneus e como ele não estava realmente furado, com apenas um dos kits, enchi o pneu. Coloquei o macaco, ergui o carro e troquei o pneu. De volta à mesa peguei seu vestido e uma calcinha nova e lavada que havia trazido e sem olhar em seus olhos, estendi a mão e entreguei a ela.

Reunindo o que me restava de força e dignidade, levadas pelas malditas palavras dela falei: “O jogo terminou, você está livre”

(continua)





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