domingo, 3 de março de 2013

Sob meu critério (Parte 01) – Marcelo Silva

São seis da manhã, uma brisa fresca entra pela janela levando embora as últimas cenas do sonho findado a pouco. Levanto-me e meio torpe pelo sono que ainda me abraça eu me dirijo ao banheiro e tomo um banho. Esvazio minha bolsa de trabalho e lá ponho objetos aparentemente aleatórios: cordas de seda, luvas de cetim negro, pétalas de rosas, óleo de calêndula e e uma gargantilha de veludo vermelho.

Resolve sair a pé, para melhor antegozar os planos que estão em minha mente. Na rua as pessoas passam apressadas e o sol já mostra a que veio neste dia. São sete e trinta da manhã e me posiciono na esquina de seu trabalho e espero. Acendo um cigarro e observo a fumaça serpentear para o alto, a brisa da manhã já se foi e um gato mia aos meus pés. Ele é negro e forte, caminha entre minhas pernas e me lança um olhar enigmático. Acaricio seu pelo e sinto arrepios percorrerem minha espinha ao tentar imaginar qual a textura dos pelos da púbis dela. Percebo uma movimentação pelo canto dos olhos e eis que ela surge! Caminhando de forma frágil porém elegante. Ela é uma felina! O gato me olha e agradeço a ele por me fazer companhia.



Observo suas roupas, ela veste um vestido branco de alças. Ao longe posso perceber que ela está apenas com uma peça intima, praguejo por conta disso. Isso vai acelerar o processo de desnudar-lhe. Ela ajeita seus cabelos negros, expondo a jugular e isso acelera minha respiração, percebo que minhas narinas estão dilatas e meu peito ofegante. Tenho que me conter para não atravessar a rua e por tudo a perder. Repasso os passos em minha mente e nisso relembro de como a conheci em uma rede social, as imagens se sucedem como um trem desgovernado que descarrilha dentro de minha cabeça. Lembro-me de cada poesia que escrevi, de cada momento que esperei por ela na frente da tela de meu computador. Volta-me à memória a imagem de suas sobrancelhas negras que desenham um olhar enigmático, seus lábios finos que sorriem como se não fizesse parte deste mundo, sua pele clara de alabastro permitir-me-ia observar seu fluxo sanguíneo a pulsar por baixo da seda viva que envolve seu corpo.

Me perco por alguns segundo nas lembranças e a vejo procurar suas chaves na bolsa, ela olha para os lados como se senti-se observada, ela olha em minha direção e sou tomado por um pânico que faz minha garganta secar. Mas ela não me percebe. Sorte... Muita sorte...

Ela passa pelo pesado portão metálico e escuto um sistema de alarme sendo desativado. A rua está deserta e os únicos sons são dos pardais que a muito já estão ativos. Localizo o carro dela estacionado do outro lado da rua e me aproximo, esvazio o pneu traseiro mais próximo à calçada, tendo o cuidado de não ser notado. A caçada começou!

Me assusto com algo que me toca as pernas, é o gato que me seguiu e curiosamente fica a observar a porta por onde ela entrou. Gatos... Sempre lendo nossas mentes...

Me recomponho, pelo vidro do carro eu ajeito o pouco cabelo que me resta, verifico o alinhamento de meu cinto e ajeito a gola da camisa.

Ao atravessar a rua, estou em êxtase. Sinto cada saliência das pedras do calçamento, nos meus ouvidos os sons que ecoam da manhã parecem ensurdecedores, minhas têmporas pulsam e sinto um fio de suor escorrer de minha face. Toco a campainha e é ela quem vem me atender. Seu sorriso me derrete e respondo com outro sorriso e me apresento. Falo que ali perto mora uma amiga e pergunto se ela sabe onde fica o endereço. Ela abre a porta completamente e me convida a entrar, e como um vampiro, sinto que agora posso invadir livremente aquele lugar. Permaneço em pé enquanto ela procura uma lista telefônica. A essa distancia eu sinto o perfume de sua pele, escondido por baixo de fragrâncias artificiais, seu cheiro chega até mim como uma névoa e invade meus pulmões. Aspiro profundamente e ela se vira com a lista aberta nas mãos. Seu hálito fresco esbofeteia-me a face e cerro os dentes com força em uma tentativa de controlar o fogo que arde e queima dentro de mim, sinto que estou ficando excitado. Estar ali tão perto de minha presa, sozinho com ela, é muito tentador. Mas consigo me controlar. Seus olhos são muito mais belos e enigmáticos ao vivo, ele se debruça sobre o balcão para apontar-me o endereço, por alguns segundos eu tenho um vislumbre de seu colo, do desenho de seus seios; do porto-seguro onde pretendo descansar depois de possuí-la.

Com um sorriso, eu agradeço a informação e pergunto sobre uma foto na parede, onde ela aparece abraçada com alguém, elogio a foto e ela responde que trata-se de uma foto dela com o marido. Me esforço para não transparecer uma ponta de ódio que se finca no meu peito. Tento acha sua aliança de casamento no dedo, mas só encontro a marca dela. Do seu braço direito, pende uma pulseira de prata, com várias pequenas réplicas de objetos variados.

Sinto o cheiro de café e pergunto se ela pode me informa de algum lugar próximo onde eu possa tomar um café. BINGO! Ela me convida para tomar um café que acabou de fazer. Enquanto ela se afasta em busca do café, posso observar seu corpo, suas curvas e seu andar. Suas nádegas ficam levemente marcadas pela sua lingerie branca e cavada, o movimento de suas ancas é hipnotizante.

Ela traz duas xícaras fumegantes de café preto e as põe em uma mesinha na recepção, novamente seu colo se mostra rapidamente e ela se senta e me convida a sentar. Ela cruza as pernas elegantemente e sorve o café aos poucos, seus lábios fazendo biquinho ao soprar o café me tortura, e para disfarçar eu tento tomar o café que de tão quente e comigo tão tenso, queimam minha boca. Disfarço e levanto-me, agradecendo-a e estendendo a mão para cumprimentá-la. O toque de sua pele!!!!!!! Há!!!! Sinto o pulsar de suas veias quando nossas mãos se tocam, em minha boca surge um gosto misto de sangue e açúcar, é como se eu estivesse renascendo naquele momento. Dispeço-me e saio para a rua. Do outro lado da rua o gato atravessa e vem em minha direção, e ela que me acompanhou até a porta comenta que aquilo foi estranho, que aquele gato não chegava perto de ninguém e que ela o achava lindo e misterioso. Em silencio, eu me abaixo e pego o gato no colo, ele parece entender o que quero e como um cúmplice se espreguiça lentamente no meu colo. Ela observa incrédula e recua quando eu estendo os braços e pergunto se ela deseja tocá-lo. Com medo ela põe as pontas dos dedos da mão esquerda no peito, logo acima do inicio da junção dos seios, e com a mão direita se aproximando cautelosamente em direção ao gato. Ela o toca e solta um maravilhoso sorriso, começa a fazer carinhos nele e sem que eu esperasse, põe a mão entre o gato e meu peito querendo pegar ele no colo. Ele aceita ser pego por ela, mas ao puxar o gato para si, sua pulseira se enrosca no botão de minha camisa. Ver ela presa de alguma forma, sem poder usar as mãos que seguravam o gato e com um olhar de medo de que o gato pudesse a arranhar, fez minha visão ficar turva, minha boca secou instantaneamente e minhas pernas perderam a sustentação. Ela só notou minha condição quando conseguiu pegar o gato no seu colo e assustou-se com minha palidez e perguntou-me se eu estava me sentindo bem e respondi que parecia que minha pressão arterial havia caído um pouco, ela sem soltar o gato me chamou para dentro novamente e pediu que me sentasse um pouco até passar. Colocou o gato na cadeira e pegou minhas mãos com uma delicadeza que só as princesas de contos de fada possuem. Falou que estavam frias e se eu não queria alguma coisa, algum tipo de ajuda. Agradeci e falei que era um mal estar passageiro, que devia ser do calor.

Alguns minutos depois, começaram a chegar outras pessoas que trabalhavam com ela, ela contou a todos a estória do gato e me despedi de todos e saí para a rua, imediatamente o gato me seguiu e quando virei a esquina e fui dar um tchau para ele esticou o rabo ao máximo, numa maneira tremula e me olhou diretamente nos olhos. Não sei se foi por conta do mal-estar, mas poderia jurar que ele piscou para mim.

(Continua...)



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