sábado, 23 de maio de 2009

Ventre Negro - Capítulo 02

Na lua cheia de setembro, o cheiro de chuva no ar fez com que todos passassem a fitar os horizontes desde o alvorecer até o ocaso, mas foi preciso chegar o final dos dias de novembro para que a chuva chegasse com uma torrencialidade dilúvica tão grande que as lavadeiras que lavavam roupas na pouca lama que restava no leito do rio foram engolidas pela cabeçada da cheia que de tão grande e veloz, chegava antes mesmo do barulho dela própria. Um mês de chuvas bíblicas foram suficientes para destruir tudo o que restava do pequeno vilarejo que foi o vale do agreste.

As notícias da catástrofe foram recebidas com desdém pelos poderes constituídos que logo suspenderam as verbas de ajuda. Até o clero tratou de apressar as obras que tratavam da edificação de uma igreja na região, para assim aproveitar-se das chuvas para se vangloriar de seu intimo contato com Deus.


Os primeiros dias de novembro encontraram o vale todo verdificado e florido, parecia que o éden havia renascido na terra. O velho ipojuca espumava de vida, e a miríade de peixes era tão fabulosa que as redes jogadas pelos novos colonos eram fracas para tanta fartura e rebentavam numa explosão de peixes que saltavam até pelas margens.

No grotão parido pelos estrondos, escutava-se o borbulhar da água acumulada em seu interior. Os mais jovens e afoitos trataram de descer sua encosta para ver a quantidade d’água acumulada e falavam que nunca mais faltaria água na região. O grotão foi aos poucos sendo cercado de casas e um ano depois, no ano zero do novo século, nascia Gulutarã, que foi batizada assim pelos barulhos d’água do grotão e dos estrondos que nunca cessavam na região.

Era fevereiro de 1900, Gulutarã já contava com uma cadeia publica com dois soldados magros do pescoço fino, calçavam alpercatas de couro e vestiam uma farda de alvorada azul desbotado e carregavam cassetes de ipê como única arma para o controle legal do lugar.

O delegado era um enteado de um cabo eleitoral de um deputado que foi eleito sem Ter tido nenhum voto, mas que era um alcagüete de primeira e logo foi promovido ao posto que ocupava em gulutarã. Em seus desmandos de ébrio fardado, vivia metendo os pés pelas mãos e a cada dia, era mais temido do que respeitado, mais difamado do que conhecido; mais evitado do que cumprimentado. Era o cabo hélio, um negro afilado que primeiro batia, espancava e matava para depois perguntar quem era a vítima de seus caprichos sádicos e autoritários.

A igreja erguida pelo clero jazia no fim da rua principal, esquecida por todos pelo simples fato de que não contava com um padre. O único pároco da região residia a mais de 10 léguas e só aparecia na cidade para recolher os donativos mensais e quando alguém de posse tinha que batizar, casar ou encomendar a alma de alguém.

A única autoridade reconhecida no lugar era a de uma velha cigana, que por não poder mais correr o mundo, fincou as estacas de sua centenária barraca em gulutarã e ali ficou para esperar a morte, que lhe acompanhava desde criança, quando toda a sua tribo naufragou nos mares índicos e só ela sobreviveu por que, segundo ela, a morte teve pena de leva-la e prometeu seguir-lhe até que ela tivesse um lugar com a certeza de um tumulo eterno.

Ninguém fazia nada sem antes consulta-la. O plantio, a colheita, os casamentos, os batizados; enfim: tudo era regido, abençoado e ditado pela boca da cigana, onde já não havia mais nenhum dente. Sua risada tinha o poder de assustar as crianças, e seu cajado com a caveira de um macaco em seu topo era motivo de medo e apreensão, pois todos juravam que os olhos do macaco já morto eram capazes de seguir os passos de quem adentrava a tenda da velha anciã.

Um velho lenhador, que era filho dos primeiros habitantes do lugar era a autoridade jurídica do lugar. Seus conselhos eram lei e as pequenas e grandes confusões eram resolvidas por ele das formas mais inusitadas.

Podiam acabar em uma grande confraternização das partes, com direito a aguardente de garapa de mandacaru fermentada ou podiam acabar embaixo de uma bela sova que ele distribuía a golpes de folha de facão. Pois ele tinha uma objetividade quase que imaginável, sua lógica era de uma simplicidade salomanica e quando ele falava todos escutavam e esperavam a hora de começar a farrar ou a correr para se livrar de seus destemperos, quando não escapavam nem mesmo os cachorros vadios que tambem entravam embaixo da lei de seus espancamentos generalizados.

Mas, as autoridades patriarcais e matriarcais não se batiam bem.

Certa vez, o cabo Helio resolveu intervir em um dos julgamentos do velho lenhador e só escapou de morrer no pau, por causa dos dois soldados amarelos que o carregaram para longe do lenhador, mas fugiram com o delegado enquanto suas costas eram sovadas pelos braços hercúleos do velho lenhador. Depois desse dia, o cabo Helio passou a jurar o velho de morte e nunca mais os dois se encontraram. E se alguém não quisesse ver desgraça, não convidassem os dois para o mesmo local.

Era junho de 1900, quando durante os festejos juninos, os estrondos reapareceram com força e intensidade total, as casas mais frágeis ruíram. As pequenas barragens de areia desmoronaram, levando a água estocada durante o inverno, os rádios não funcionavam mais e as vacas não conseguiam soltar mais leite nem mesmo para seus próprios bezerros.

O perfume das flores do grotão começou a exalar seus perfumes narcotizantes cada vez mais fortes, e do fundo do grotão se escutavam gritos, miados, esturros e gemidos, como se tivessem jogado onças, crianças e amantes todos juntos e de uma vez só no funda da furna escura.

Os mais afoitos que resolveram descer a escuridão, incentivados pela curiosidade alheia, nunca mais regressaram. E no meio do mês de julho, alguém escutou o choro de uma criança vindo do fundo do grotão.

Pensava-se que era uma das crianças do lugar, mais uma rápida contagem certificou a todos que não era nenhuma criança conhecida. Organizaram equipes de busca durante meses, mas ninguém achava nada, e os que achavam que acharam algo eram tomados por uma fúria louca que os fazia insanos até que esquecessem o que achavam que tinham visto.

Os mais velhos começaram a se afastar cada vez mais do lugar, afinal nenhuma criança era capaz de passar dois meses chorando sem comer ou dormir. Já era Agosto quando alguém avistou no fundo do grotão, a sombra mínima de alguém a boiar nas águas escuras da furna.

Conseguiram içar o corpo e se assustaram ao ver que era a mais bela criança que todos já haviam visto. Aparentava mais ou menos uns cinco anos, sua pele era de uma delicadeza que só era permitida às pétalas das rosas, seus olhos tinham a vivacidade e a sagacidade dos felinos, seu olhar penetrante gelava quem tivesse a ousadia de fitar-lhe o semblante sério e sem nenhum sinal de sorriso, sem nenhuma alegria.

Os seus movimentos eram extremamente compassados e suaves, parecia mais com uma serpente que gente vivente, era capaz de levantar-se quase que ereto sem por as mãos no chão, como se fosse um mastro que fosse içado por cordas. Falava uma língua estranha e ininteligível, mas sua presença era tão forte que ele se fazia entender apenas pelo seu olhar, tão penetrantes quanto o mais fino e afiado punhal.

Ao levarem-no ate a cigana, esta estremeceu os dedos raquíticos e esqueléticos e foi taxativa: Matem-no agora antes que ela traga a dor e o sofrimento à nossa terra!

As mulheres a amaldiçoaram dizendo que tão bela criatura só traria felicidade para o vilarejo. Ao levarem-no até o velho lenhador, este se reservou ao direito de não opinar, mas simplesmente incendiou a própria casa e construiu outra, o mais distante possível do grotão e falava aos mais íntimos que aquela criança trazia dentro de si a luz da beleza apenas para encobrir o caos e as trevas que habitavam em seu coração.

O cabo Helio resolveu levar a criança até a comarca mais próxima para formalizar o achado de uma criança que talvez fosse de outro recanto da região.

Mas ao tentar por o menino na carroça para leva-lo, este lhe deu uma mordida, ao que o cabo revidou com um bofetão digno de ser aplicado no rosto do mais insensível e perigoso dos assassinos.

Foi quando pela primeira vez, o menino demonstrou sou estranha força psíquica que ninguém entendeu, nunca.

O menino olhou o cabo no fundo dos olhos e trincou os dentes, começou a resmungar num dialeto incompreensível e dos olhos do cabo começaram a brotar lagrimas de sangue, suas mãos suavam uma pasta negra e visguenta, ele começou a se afogar em seu próprio fôlego, vomitando rios de uma gosma amarela parda que borbulhava quando tocava o chão.

Acorreram ate o cabo na tentativa de salva-lo, mas já era tarde. Era como se um veneno estivesse lhe corroendo por dentro. De fato, depois de sete dias de coma onde suava sangue, o cabo começou a apodrecer de dentro para fora. Nem mesmo as poções da cigana conseguiram uma melhora. Ele começou a feder como um cadáver, suas veias se dilataram e incharam além de se movimentarem por conta própria dentro de sua pele. Parecia que havia serpentes zigue-zaguenado pelo seu corpo.

Este fenômeno fez com que a população se divide-se entre apoiar a cigana na idéia do infanticídio e mudar-se para longe do grotão junto com o velho lenhador, outros preferiram ignorar o fato como uma estranha coincidência, como mais um fato sobrenatural entre tantos ocorridos na região.

Após a morte do cabo Helio, não se viu grande falta de sua autoridade. E isso consolidou a posição da cigana e do velho lenhador.

(Continua)

Campos do senhor

Um dia ao embarcar mais uma vez nesta descida, encontrei você, e você procurava algo que eu poderia oferecer, você queria prazer, carinho, romance...

De meu canto, observei com o canto de meus olhos o canto suave de sua voz. E neste canto de encantos, encontrei-me dominado e apaixonado pela musa, pela deusa de voz doce.

Fecho os olhos e imagino meu peito devastado pelo sopro nuclear da saudade arrasadora que ela me faz, vejo prédios, passam praças; cantam vozes, mas ela não chega até mim. Vasto mundo vasto sem porteiras, por que me fizestes assim? Que fiz para merecer este coração apaixonado e esta alma de poeta, regidos por um juízo de passarinho? Por que eu tinha que vir a este mundo com esta necessidade tão grande de trocar amor com as pessoas?

Nenhuma resposta do vasto mundo, fica apenas a certeza de que nunca mudarei, pois a poesia é meu pão de cada dia, o amor é o ar que respiro, e você é a mulher que hoje desejo.

Na minha mente reside apenas o vazio de sua ausência, no meu peito habita a solidão cruel de sentir-se só estando acompanhado, a terrível vontade de ser amado por alguém. Por que somos assim? Será que é inerente à humanidade querer sempre mais? Será correta esta busca incansável pelo novo, pelo desconhecido; pelo amor?

De onde vem esta minha paixão pelo desconhecido? O que ela fez? Qual poção mágica ela me enviou pelo olhar? Por que sinto esta falta de ar quando penso nela? De que é feito a matéria dos sonhos? Por que essa louca vontade de tê-la em meus braços?

Às vezes tenho gana de quebrar o vidro de minha alma e deixa-la escorrer pelos campos do senhor, para sair em forma de nevoa à caça da pantera negra que se esconde na escuridão do desconhecido, já não penso mais direito, já não sinto mais nada, apenas resta a desilusão de saber que jamais seremos apenas um do outro, mas é sempre bom sentir-se vivo, é ótimo saber que podemos conquistar e sermos conquistados. É maravilhoso saber-se feliz, mesmo estando no perigoso fio da navalha de uma aventura de sexo e prazer, de amor e romance.


Caruaru
Inferno astral doce e quente
26 de dezembro de 2001

O MAL - Um conto pseudo-fictício de uma mente (in)sana - Parte 02

Mas eu nem sempre fui assim, houveram fatos que me fizeram ver a imoralidade perversa da felicidade.

Ele era uma pessoa estranha, obsessivo e maníaco, com um certo charme que me atraiam. O tipo de pessoa que já passou por todas as culturas, filosofias, políticas e letras. Com todos os motivos do mundo para ser amargo e infeliz, ele sempre sorria.



Às vezes tinha vontade de socar aquele sorriso cínico que ostentava em sua face. Nem quando foi diagnosticado o seu segundo câncer ele abalou o riso meio simples, meio maquiavélico.

Eu o conheci num bar, seu habitat natural, fui seduzido pela sua conversa firme, usava um técnica interessante de manipulação da conversa e sempre acabava levando o ponto ao seu ponto de vista.

Naquele momento, ele flertava com 3 mulheres diferentes, sentadas em mesas diferentes e com padrões também completamente diferentes entre si, achei absurdo seu comportamento estranho, mas ri assim mesmo quando o vi levar um fora de uma delas, depois um tapa na cara de outra e por fim ser acudido pela terceira. Depois perguntei como tinha conseguido ficar com a terceira e ele me respondeu com uma simplicidade obscena: “fácil, menti.”

Gostei dele e após outros encontros, ele me convidou para caçar, que na época era um de meus hobby prediletos. Seu arsenal era maravilhoso. Dois rifles 22 de repetição com luneta telescópica que chegava até a tirar a graça da caçada. Ri do fato dele estar usando luvas e um casaco de mangas longas que não combinavam com o calor infernal que nos abraçava. Nos embrenhamos no mato e ficamos horas conversando em sussurros ate que acertei a asa de um pássaro e ele caiu agonizante. Para não gastar munição a toa, peguei o pássaro e torci o seu pescoço e ele riu calado, não dei atenção e fomos em frente. Saímos de lá com varias peças de caça penduradas pelos pés, ao chegarmos em minha casa, avistei uma barata e pisei nela e ele riu novamente num tom desafiador.

Indaguei-o sobre o porque dos sorrisos e ele me falou: “Bom... pássaros e insetos já vi que consegue. Falta um alvo mais a altura.”. Não entendi bem na época, pois ainda não tinha vislumbrado todo o quadro. Achei que ele tava brincando, mas aquele tom de voz marcou-me como o momento que comecei a entender algumas missões, algumas pessoas; algumas coisas.

Comemos e mesmo tendo me interessado pelo que ele havia dito, não toquei mais no assunto.

Na manha seguinte fui até a sua casa, um sobrado isolado nos limites da cidade. Seu interior de piso de ipê com teto alto e parede cor de menta destoava da bagunça de livros, revistas, embalagens de fast-food espalhadas pelos móveis. De seu computador zunia uma música minimalista numa cadencia suave que enchia todo o ar.

As fotos espalhadas pelas paredes mostravam uma vida agitada e feliz, com imagens de seus filhos, parentes e de sua ex-esposa. Atrevi-me a perguntar sobre eles mas minhas palavras esbarram num silêncio sério e triste.

Ele me recebeu vestido com a mesma roupa do dia anterior, inclusive com as luvas de couro. Estranhei, mas na hora achei que era mais uma de suas manias exóticas.

Tomamos umas cervejas e depois jogamos algumas rodadas de dominó regadas a uma excelente cachaça. Já estava meio alto e nos levantamos para espairecer um pouco.

Os fundos de sua bela casa dava para o rio, numa parte onde ele era rodeado de algarobas frondosas, algumas já haviam caído e seus troncos mergulhavam na água enquanto suas raízes secas apontavam para o céu.

Estávamos a vários metros de altura em relação ao chão de seu quintal, uma maravilhosa vista nos esperava. Enquanto o céu já se desbotava pelo drinks que havia bebido, os pássaros sobrepunham suas vozes sobre a harmonia monótona de Phillip Glass que tocava sem parar dentro da casa.

Enquanto eu divagava absorto em meus pensamentos, ele foi até o interior e veio com os rifles usados no dia anterior. Achei que iríamos treinar um pouco, já que não havia ninguém por perto, a residência mais próxima ficava a alguns quilômetros de distancia. De fato, brincamos um pouco com as armas e depois desatamos numa conversa regada a mais cerveja.

Falávamos de técnica de tiro, de armas e munições e não sei em que momento a conversa enveredou para moral, ética e uns conceitos que ainda não entendia bem. Deliberadamente ele me guiou pela conversas, manipulando minhas respostas e ponderações até que começamos a discutir sobre a moralidade de matar. Discorremos sobre esse assunto por horas, o sol já se deitava no horizonte pintando o céu com um alaranjado meio vermelho, fazendo do firmamento um palco sombrio para os últimos pássaros que passavam em revoada.

No meio do assunto, ele exemplificou a horda de mendigos que assolavam as cidades, com seus furtos, com a sujeira e a violência que teria aumentado com a vinda deles.

Nessa época, a cidade passava por um surto de crescimento econômico, e as alvíssaras da fartura se espalharam pela região trazendo mais pessoas para a sombra dessas promessas de uma vida melhor. A cidade sofreu varias transformações, e uma delas foi o aumento da violência e da pobreza.

Estrategicamente disposto sobre a mesa, havia um jornal cuja manchete destacava os números da violência, com estupros, assassinatos, roubos e toda a sorte de malefícios atribuídos à população advinda de fora em busca do “eldourado”. Ele foi lendo em voz alta e repetindo números e palavras, como se quisesse que as informações ficassem gravadas nas minhas retinas. Ao final da didática aula sobre as estatísticas locais, ele levantou-se e foi para a murada da sacada, me chamou e falou: “Olhe embaixo daquela arvore!”. Forcei a vista e na quase escuridão do ocaso distingui um vulto, uma forma humana deitada na sobra das arvores, alguém esfarrapado, um mendigo eu achei. Ele estava deitado de costas para nós sob a sombra de uma velha algaroba que se debruçava sobre o leito dor rio. Já havia visto alguns como ele que vez por outra apareciam nos arredores: Sujos, maltrapilhos. Almas indigentes sem rumo ou utilidade.

Ele pegou o rifle com o qual havíamos caçado e apontou para o mendigo, achei que estava brincando e pedi para ele ter cuidado pois poderia provocar um acidente. Mal acabei a frase e escutei o estampido que ao invés de me trazer a tona da realidade, ecoou pelo que parecia ser uma eternidade, senti meus olhos esbugalharem e minhas pernas cederem ao peso do meu corpo. Eu olhava para ele e não acreditava: ele atirou em alguém! Minha boca estava seca, tudo girava, sentia minhas víceras se revolvendo dentro de mim e por mais que tentasse falar alguma coisa, não conseguia esboçar nenhuma reação.

Ele continuava impassível, acendeu seu cigarro, tragou profundamente e soprou a fumaça para cima. Olhando para a brasa ele perguntou:: “Qual a imoralidade que pratiquei agora? Quem é o verdadeiro juiz de nossos atos? Que falta aquele ser do outro lado rio fará ao mundo?” tentei argumentar, mas nada fazia sentido, meus lábios estavam secos e minha garganta parecia que havia sido queimada. Ele continuava a me olhar como se nada tivesse acontecido, eu evitava olhar para o rifle mas não parava de pensar que eu estava com um louco, com um homicida e que provavelmente eu seria o próximo de sua lista de expurgos. Ele sentou-se, abriu a geladeira portátil e me jogou uma cerveja. Naquela hora eu teria bebido qualquer coisas, pois não conseguia nem mais respirar direito.

Reuni minhas forças e falei que era melhor ir embora. Ele sorriu e me apontou o outro lado do rio: “é melhor nos livrarmos dele antes”. Argumentei que não queria nenhuma participação, que estávamos bêbados e que era melhor eu ir embora. Então escutei algo que fez meu universo desmoronar: “Mas você participou sim! Afinal,suas digitais estão nesse rifle, qualquer exame em suas mãos vai mostrar os resquícios de pólvora de nossa caçada de ontem.”.

Senti vontade de pular em cima dele, mas me contive ao ver o rifle em suas mãos enluvadas. As luvas! Foi para isso que elas serviram juntamente com o casaco de couro! Minhas digitais na arma, resquícios de pólvora pelas minhas mãos e braços!.

Enquanto eu pesava todo o acontecido, ele se levantou e me estendeu um celular com uma mão e o rifle com a outra e mandou que eu escolhesse: ligar para a policia ou terminar o que ele havia começado. Como assim? Terminar o que? Ele então revelou que não havia sido um tiro fatal e que se observasse bem ele ainda respirava. Eu olhava, mas já era impossível distinguir um detalhe desses, ainda mais pela distancia, pelo álcool e pela noite que já havia chegado.

Mas se ele está vivo, podemos fazer algo por ele! Mas como que lesse meus pensamentos ele me deu uma terceira opção: ligar para o hospital vir salva-lo e continuar com a sua vida miserável atrapalhando a vida de outras pessoas, espalhando suas doenças e misérias, disseminando mais um batalhão de indigentes pela rua. Porem eu ainda teria que explicar minhas digitais na arma.

Minhas mandíbulas doíam de tanto ranger o dentes pensando em uma saída. Enquanto isso ele martelava minha cabeça repetindo todas as estatísticas que havia lido antes. Ligar para a policia ou para o hospital estava fora de questão, as duas opções me levariam a um processo ou até mesmo à prisão em flagrante. Falei que deveríamos ir até o outro lado do rio e vermos de perto. Ele topou, saltou da cadeira e me entregou o rifle e falou: “mas depois que você provar o quanto é bom de mira!” argumentei que havia bebido, que estava escuro mas de nada adiantou. Ele tirou um pequeno binóculo do bolso e mirou no outro lado do rio e falou: ”vamos... estou esperando!”.

Não sei bem o que aconteceu comigo naquele momento, mas pela luneta do rifle observei que nada se mexia do outro lado, que o tiro dele deveria ter sido fatal mesmo e que um tiro a mais em um cadáver não seria de todo ruim já que serviria para me tirar daquela situação maluca.

Respirei fundo, calculei a mira e para tentar mostrar segurança perguntei “Onde você quer?”, “na cabeça” ele respondeu. Passei longos segundos analisando pela mira telescópica para ver se via algum sinal de movimento... nada!

Respirei mais fundo e fixei a mira na nuca do corpo inerte do outro lado e puxei o gatilho. Um longo estampido ecoou.

Quando dei por mim, estávamos dentro de um bote atravessando o rio, munidos de lanternas pás e enxadas. Ao tocar na outra margem, um frio percorreu minha espinha. Descemos e ao iluminar o corpo ele exclamou: “Belo tiro!”, tentando parecer calmo, falei: “Mas foi o seu que o derrubou primeiro.” E ele respondeu: “O meu? Você esta vendo alguma outra perfuração? Você por acaso está vendo algum sangue saindo de outro lugar que não seja o buraco que você fez na cabeça deste infeliz?”

Gelei na hora! Não conseguia acreditar em tudo o que estava acontecendo. Senti que minha visão se turvava e que minhas pernas tremiam. Vi luzes piscando na minha frente e aos poucos a escuridão se apoderou de mim e desfaleci.

(Continua)

Rapel

Esta noite tive um sonho...

Estava no alto de um pico, admirando o fato de estar ali e ter dominado aquele colosso, venci a sua impossibilidade e o conquistei, e agora me restava o caminho de volta.

Seu topo era coberto por uma densa mata negra que emoldurava seu cimo, tentei descer por suas laterais mas existiam duas grutas de onde emanava um suave perfume que me embriagou e tive que prussicar de volta ao topo.

Refiz minha ancoragem e desci pela sua frente deslizando por sua testa e vi suaves desenhos e contornos que formavam sua face.

Na cavidade de seus olhos encontrei duas jóias preciosas e hipnotizadoras.

Na negativa de seu nariz pude sentir um hálito milenar e inebriante antes de dar um lance que me jogou em sua boca de dentes brancos como a mais alva das pombas brancas.

Do queixo ao colo, faltou-me corda e tive que me lançar a sua direita, onde pousei em seu ombro moreno e quente, delicadamente esculpido.

De lá pude avistar seus montes pontudos, onde pude ancorar-me e continuar minha descida. Mas não quis continuar naquele momento, esperei que o sol baixasse e deitei-me em seu colo macio.

Rapelei seu ventre rijo, sentindo o calor de suas carnes firmes. Acomodei-me em seu umbigo para de lá montar nova base e continuar descendo até uma outra mata negra de vegetação baixia.

Esse lance foi o mais difícil e também o mais delicioso. Pois esta via exalava um cheiro que aguçou meus sentidos e deixou-me com a adrenalina a mil por hora, meu peito arfava e um vento frio me gelava a espinha.

Ao chegar no centro desta mata, deparei-me com uma fenda perigosa e escorregadia, que num vacilo meu, sugou-me e prendeu-me em seu interior. Tentei todas as técnicas possíveis para minha libertação, mas foi em vão. Esta fenda prendeu-me de uma forma que só pude me libertar quando ela assim o quis.

Estava exausto e minhas forças se esvaiam como a água fria escorre entre os dedos. Toda a minha perícia não foi o suficiente para passar ileso por este setor.

Agora me encontrava pendurado, flácido e agarrado no que me restava. Lancei minhas cordas e vi que minha decida estava apenas a meio caminho. Desci suas coxas grossas e pude constatar o belo desenho de suas ancas, seus pelos a cobrir tudo como uma suave relva. O seu umbigo agora estava encoberto pela vegetação de seu púbis. A única visão de cima que tinha eram de seus bicos tensos e retesados, como os chifres de um touro miúra prontos a desferir o golpe fatal no toureiro que ousasse arriscar-se a enfrenta-los.

Desci vagarosamente, deliciando-me com o perfume sutil que emana de sua pele. Ao fim da via, estava estacionado em seus joelhos esculpidos de forma harmoniosa e detalhada, faltava pouco.

O chão agora era mais próximo, meu fim agora também era próximo. Estava no fim de minha jornada e ao fim de minhas forças. Lancei a ultima via e aterrisei em seus pés e beijei-os em forma de agradecimento e orgulho.

Desci ao seu sopé e afastei-me para admirar tão bela via, pude constatar o quanto era pequeno perto de sua imensa beleza. Mas me senti grande em poder abrir uma nova via onde tantos já passaram, pois aquela via era única, era minha.

Estava suado e tremendo, tenso e relaxado ao mesmo tempo. Senti vertigens em meu corpo e comecei a viajar em um enorme e incomensurável gozo de prazer pela conquista alcançada.

Então comecei a acordar e ver que o sonho não era sonho, era a lembrança do corpo da mais bela ninfa dos bosques, sonhei com um passado recente onde sonhei que fui feliz.

Marcelo Manoel da Silva
Caruaru, 17 de dezembro de 2001
Tardinha, depois de Jonhy Bravo no Cartoon NetWork

sábado, 16 de maio de 2009

Ventre Negro - Capítulo 01

Os primeiros sinais começaram a aparecer dois anos antes da terra parir o grotão no agreste, eram discos luminosos que riscavam o céu sempre antes do anoitecer. Seis meses depois todos os pássaros sumiram do vale que compreendia desde o morro do bom Jesus até onde o rio Ipojuca fazia uma curva e serrava uma pequena montanha de pedra ao meio. Os mais velhos atribuíram o fenômeno à seca que neste ano era mais causticante que nunca, quem andava sob o sol não podia sentir o suor a escorrer, pois a pele de tão seca reabsorvia os suores antes mesmo dele sair.

Faltando um ano para a virada do século, todas as fêmeas do vale, incluindo as mulheres, abortaram suas gestações sem nenhuma explicação aparente. Por estas épocas, boa parte da pouca população começou a fugir do lugar, com medo dos estranhos acontecimentos que começaram a acontecer em todo a região do agreste. Na margem direita do velho Ipojuca, onde as águas cavaram as pedras e formaram uma corredeira, surgiu um imenso jardim de flores silvestres desconhecidas, donas de um perfume tão forte, que os viajantes se desviavam de seus caminhos, atraídos por dolorosa sensação de nostalgia que emanava do local.

Em abril de 1899, o governo estadual decretou estado de calamidade pública em toda a região, pois todo os rebanhos morreram, os reservatórios secaram e o cheiro de carniça na região fazia com que aparecessem ulceras nas narinas daqueles que se recusaram a deixar o vale do agreste. Era julho de 1899 quando mesmo depois dos festejos juninos começaram a se ouvir explosões que estremeciam a terra, alguns pensavam que eram bacamarteiros que ainda disparavam suas seculares armas em pedido de benção e chuvas aos padroeiros do mês junino, mas os mais sensíveis logo descobriram que as explosões que faziam cair o reboco das paredes e até tremer a olhos o monólito imenso da Pedra do cachorro, não eram escutadas pelos ouvidos. Os fantásticos estrondos eram sentidos dentro do peito, que de tão fortes faziam tremer os tímpanos e aparentar que eram sons audíveis. Eram acontecimentos estranhos e terríveis para uma população isolada e supersticiosa. O povo que muito pouco ou quase nada sabia do mundo, sentia que o medo se instalava no lugar.

Por estas épocas, o vale do agreste era um sítio esquecido pelo mundo, onde nunca se soube de nada relativo ao progresso. Era apenas um arruado de casas que começava na margem do rio e terminava no pé do morro do bom Jesus. Não existia luz elétrica e a única comunicação com o mundo, além do rádio, eram os tropeiros trazendo-lhes notícias, mantimentos, alegrias e facilidades do novo século que se aproximava. Além dos tropeiros, às vezes se achegavam ao lugar uma tribo de ciganos que vagavam pelos sertões em busca de freguesia para suas alquimias, encantos e truques mágicos. Aos tropeiros eram dispensadas as poucas regalias do lugar, mas aos ciganos restavam apenas o direito de passagem rápida e a fama falsa de milenares ladrões de crianças e cavalos. Mas se desconfiavam do povo nômade, inexplicavelmente tinha a mais absoluta fé em suas predições e nunca deixavam de segui-las, mesmo se uma destas predições mandasse o infeliz incauto jejuar durante três dias, e ao quarto dia se alimentasse de lodo, raspa de fundo de panela e asas de grilo. Como única forma de curar uma dor de amor desfeito.

Além do telegrafo instalado na estação ferroviária que nunca chegou a receber nenhum trem (pois as serras que separavam o vale do agreste do mar eram intransponíveis, mas as estações que receberiam as composições ao longo da linha foram todas inauguradas com festas regadas a promessas e politicagens.), a única comunicação com o mundo era os poucos rádios que existiam no local, mas as notícias de chuvas e fartura que vinham de longe faziam com que os habitantes se sentissem cada vez mais tristes, e mesmo as músicas mais belas e alegres eram incapazes de trazer-lhes o sorriso de volta a face. Mesmos os mais alegres e otimistas já nem se lembravam do som de suas próprias risadas. Os rádios não eram mais ligados para que não trouxessem más lembranças boas.

O povoado exalava uma tristeza sem fim, desde os mais jovens até os anciões traziam nos cantos da boca as marcas da falta de sorrisos, da melancolia que já fazia parte da vida que viviam

(continua em uma outra postagem)

Suicídio

O amor nasce, cresce, produz e morre. E nessa viagem alucinante ele deixa marcas muito profundas nas pessoas que participam dessa ego-trip. De todas as mulheres que tive nos braços, guardo boas lembranças, bons momentos. De todas as emoções que não pude viver, guardarei o gosto amargo da decepção.

Quem comanda nossas vidas? Quem é o juiz de toda a humanidade? Por que será que nós vivemos sempre a procura do que não temos, por onde andará aquela menina que tornou-se mulher em meus braços? Ainda existirá minha lembrança na memória daquela mulher que me ensinou tanto e aprendeu tão pouco?

É, tenho pecados bons e bons pecados para amargar e rever o quanto minha vida foi fútil, nem a morte poderia expurgá-los por completo, O poeta falava que cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é, e assim o é. Mas nem todo o amor do mundo pode valer a aventura de perder-se nos sonhos de outrem. Cada fantasia, desejo ou sonho que realizamos tem o seu preço, a vida cobra pedágio.

Palavras são fáceis de serem ditas. Mas sonhos e desejos devem ser resguardados para as noites solitárias, onde possamos expor tudo para a única pessoa que merece nossa confiança: Nós mesmos...



Sonhos devem ser perseguidos, e desejos realizados. Fantasias devem ser vivenciadas. Mas é melhor que guardemos nossos segredos para nós mesmos.

Por isso é melhor o silencio que a realização, é a coisa do limite. Corremos pelos campos até a cerca e paramos, depois lutamos com ela até derrubá-la e quando o fazemos, não aproveitamos o momento e saímos correndo até encontrar outra cerca.

Meu coração pulsa ao compasso do descompasso da vida. E nestas viagens quebro a cara, sou traído por mim mesmo. A crueldade da verdade amarga é como fel em minha boca, o que sinto sobe pelas minhas entranhas e esbarra em meus dentes cerrados, trancados para que nada seja conhecido por ninguém.

Não sei saber sobre nada! e nessa falta de ciência eu vou caminhando entre eu e vocês, vou planando num vôo rasante livrando-me dos fios e dos dogmas sociais e religiosos que me fazem sentir-se sujo, pervertido; louco.

Onde estão meus sonhos de criança? Para onde foram os planos de minha juventude que guardei numa gaveta e foram esquecidos? São tantas perguntas e nenhuma resposta, são dores fortes e profundas das quais nada se leva, apenas se é levado.
A sanidade sempre terá perguntas rudes e palavras duras para comentar minhas emoções, prazeres e sonhos exóticos que minha mente canta. Minha mente arremete e remete meus pensamentos a tempos de dezembro, tempos de angústia e dor; tempos de tentativas de novas descobertas. Sou um coração que não para de pulsar. Mesmo sendo esse pulsar repulsivo, um pulsar sem o controle de um pulso firme de morais e dogmas.

Sonhos, mais sonhos; sempre sonhos...

Até quando eu farei de minha vida um palco para meus sonhos? Até quando? Preciso me encontrar...

Marcelo M. Silva
No limiar do precipício, na borda do abismo; Preste a finalmente ter a coragem para dar um passo a frente.
03/10/1998

Cibernia

Amanheceu mais uma vez, e como o vampiro que mora dentro de mim detesta o sol das manhãs, eu viro-me para o outro lado da cama. O transito sob minha janela faz questão de avisar-me que a jornada recomeçou, na minha boca jazem os restos do lanche da madruga, que agora imploram por ser escovados. Os primeiros cheiros da vida invadem meu quarto e encontram minhas narinas e eu tento dormir mais um pouco.

De repente lembro-me de alguém e salto da cama, e num salto de sobressalto aterriso em meu computador e ligo-o com uma curiosidade infantil e uma ânsia animal. Conecto-me desconectando-me do mundo intercontinentalmente globalizado para mirar meu olhar e checar meu e-mail.

A máquina fria alegra-me meu dia dizendo-me: “You have new e-mail in your mail-box”

Abro-o e vejo você em letras frias, mas de teor calcinantemente fervente, sinto meu peito disparar e a cada letra unida à outra, vão formando-se palavras e delas as frases que fazes e sabes que me conquistariam.

Sinto-me revigorado, um arrepio de excitação percorre meu corpo, partindo de meus calcanhares, espalhando-se pelas pernas, invadindo meu corpo, ruborizando minha orelhas e fechando meus olhos.

Minha vontade agora era estar ao teu lado, minhas mãos em tuas mãos, meus olhos em teu corpo, teu corpo em minha mente e minha alma em tuas mãos.

Há... Quisera poder levitar e alçar vôos de encontro as correntes de ar que me levariam até você agora...

Eu entraria pela janela de teu trabalho, pousaria bem atrás de você e levantaria os cabelos de tua nuca e aspiraria teu perfume até o ultimo centímetro cúbico disponível em meus pulmões. Depois beijaria mordendo teu pescoço e te abraçaria por trás, com a leveza de um colibri e a paixão de um furacão.

Quando você se desse conta e resolvesse olhar para trás, eu estaria saindo novamente pela tua janela, e me esconderia no topo da primeira arvore ou edifício que encontrasse, só para ver você na janela a me procurar.

E lá ficaria te guardando, vigiando e protegendo.

Mas eu acordei de novo e vejo que nem posso voar, mas sonhar é preciso e sempre vale a pena quando a alma não é pequena.

Sinto saudades de minha gaita, para agora tocar canções de amor com o pensamento em você, deixar que o som melancólico e nostálgico da harmônica impregnasse as paredes de meu quarto e saísse por todas as frestas da casa e invadisse os ouvidos alheios levando meus risos e prantos de amor por estas ruas, lares e copas das arvores para que as cigarras me acompanhassem numa sinfonia de sensuais lembranças e dores terríveis causadas pela terrível constatação da distancia entre nos dois.

Há... Musica, que falta você me faz, que lacuna minha gaita deixou; agora só posso escrever e não mais emitir os sons que meu peito canta e encanta-me os sentidos torpes e entorpecidos pela descoberta de uma nova paixão.

Sempre estarei com o pensamento em você, estarei banhando-me de velhos dogmas, velhas paixões, velhas ilusões causadas pelo doce engano da juventude que habitava em meus braços. O sábio uma vez falou que a maturidade desconfia da juventude porque já foi jovem um dia. E ele tinha toda razão. Fidelidade não é pacto ou obrigação, é união de pessoas que se harmonizam num mesmo comprimento de onda, são notas dissonantes que vibram na mesma freqüência, são duas pessoas entregues uma a outra num balé de romance, descoberta e paixão.

Se um dia se encontrares no meio de um penhasco e abaixo de você estiver serpentes peçonhentas a tua espera e acima de você, tigres lutarem pelo direito de te abater, procura ao teu redor, busca um lindo morango que estará nascendo na impossibilidade do rochedo e não se impressiones por ele estar ali. Pega-o e leva até tua boca, saboreio com o mais profundo respeito e aproveite este momento ao máximo, pois nossas vidas são breves e efêmeras como as mariposas, e possuem a mesma fragancia.

Sinto falta de você e persigo sua imagem como um cão farejador a busca da caça. Sua voz foi muito pouco para mim que agora quero teu corpo, tua alma; tudo enfim.

Você raptou minha atenção, aprisionou meus dedos, trancafiou meu olhar, obstruiu minha conexão. Mas um dia é da caça e outro do caçador e amanhã será um novo dia onde te raptarei e te levarei para meu covil de lobo solitário, rasgarei tuas roupas e te desnudarei de dogmas e empecilhos psico-sociais. Vou roubar todos os teus beijos, dilapidar teu coração, aprisionar teu ser junto ao meu e lutar por esta louca paixão que agora nos envolve.

De que são feitos nossos sonhos? Qual a matéria que compõe as fantasias, quem é o juiz da humanidade? Destino estranho e fatídico que nos une separados e nos separa quando unidos pela tela fria de um computador. Destino cruel que arrebata nossas emoções e guia-nos através de mares nunca dantes navegados. O que é o destino? Será esta imensa seqüência de fatos e estranhas coincidências que fez que nos encontrássemos quando precisávamos de carinho? De atenção? De romance?

Não sei, só sei que quanto mais sei descubro que nada sabia e agora sinto-me perdido neste arrastão de emoções e ilusões saudosas, saudade de tudo que nunca senti, ouvi, beijei; toquei.

Onde será o fim dessa nossa estrada? Viveremos felizes para sempre? Ninguém sabe, e isto é o que torna a viagem mais prazerosa, isto é que nos impulsiona para frente à procura do endereço de nossa felicidade.

Amar é viver, recordar é viver, sofrer é viver. E se passamos por esta vida sem ter amado, sem ter vivido um amor, sem ter sofrido pela vivencia de um amor é por que nossas vidas terão sido em vão.

Marcelo Manoel da Silva
Caruaru, 08 de Janeiro de 2002 10:25
Uma manhã chuvosa na qual os pássaros fizeram um longo vôo para nunca mais voltar.