sábado, 26 de janeiro de 2013

Ode à Luiza


Ode à Luiza , minha musa ; minha princesa encantada.

A noite cai, bêbados passam, amantes de sua própria loucura. O relógio marca 21:37 e nada dela.

Minha musa surge do nada e na tela fria eu espero que suas letras apareçam, trazendo de volta uma alegria juvenil que há muito não sinto. Minha musa que me inspira não me mostra a face, e na inspiração, respiro o gás venenoso do tédio e da solidão. A musa se esvai por entre meus dedos.

Ela nada me prometeu ou garantiu, por mim ela nada fez. Mas sei que depois dela jamais serei eu mesmo. É mística a sensação de bem-estar que ela me proporciona, é como se o tudo e o nada se mesclassem num balé louco, sem cores; sem formas.

Sua voz é de menina, e o seu sorriso também. Ela canta palavras doces e pela linha telefônica escuto os músculos de sua face a formarem o mais doce e belo sorriso que eu jamais nunca vi.

A noite continua a cair, os carros passam e as nuvens no céu escondem nossa pequena estrela, a estrela que me guia até os pensamentos na musa. No andar de baixo, uma família discute algo, a gata no meu teto faz questão, através de seus miados, de avisar a todo o quarteirão que está no cio. O apito do guarda a se perder na imensidão desta noite vazia, me faz refletir sobre minha vida. Vida minha, por que me entregas tão belo presente na forma de minha musa, só para depois obstacolar meu caminho pela falta que ela me faz.

Quando fecho os olhos, imagino sua pele macia de seda do oriente a verter os suores de uma excitação provocada por mim. Imagino sua pele como a pele de um pêssego maduro, ela me confidenciou que os seus pêlos são dourados e os olhos castanhos. Será que já a encontrei e não me dei conta? Será que o destino já não nos colocou bem juntinhos, num ônibus, num bar; no ar?

Como disse o poeta, “disparo balas de canhão, é inútil pois existe um grão-vizir...” , por mais que eu tente acertar o seu coração, ele permanece intocado, resguardado pelo amor de seu companheiro. Espero que ela seja amada, que ela tenha poesias e flores ao despertar. Desejo que todas as suas noites sejam de prazeres e luxurias para que ela nunca se sinta infeliz. Rogo aos céus para que ele a faça muito feliz, que ele torne sua vida um mar de rosas, que ele nunca a magoe com palavras duras e carinhos de mercador, que ele nunca, nunca mesmo pense em traí-la com outra.

Desejo a minha musa, toda a felicidade deste e de outros mundos, pois a vida as vezes parece uma carroça louca, que desce este abismo sem fim num tropeço de sensações multicores, onde temos tempo apenas de olhar pela lateral e ver o que estamos perdendo. E nesta jornada ao fim do buraco estamos todos no mesmo barco, separados pelas classes, castas e credos nossos de cada dia.

Um dia ao embarcar mais uma vez nesta descida, encontrei a minha musa, ela procurava algo que eu poderia oferecer, ela queria prazer.

De meu canto, observei com o canto de meus olhos o canto suave de sua voz. E neste canto de encantos, encontrei-me dominado e apaixonado pela musa, pela deusa de voz doce.

Fecho os olhos e imagino meu peito devastado pelo sopro nuclear da saudade arrasadora que ela me faz, vejo prédios, passam praças; cantam vozes, mas ela não chega até mim. Vasto mundo vasto sem porteiras, por que me fizestes assim? Que fiz para merecer este coração apaixonado e esta alma de poeta, regidos por um juízo de passarinho? Por que eu tinha que vir a este mundo com esta necessidade tão grande de trocar amor com as pessoas?

Nenhuma resposta do vasto mundo, fica apenas a certeza de que nunca mudarei, pois a poesia é meu pão de cada dia, o amor é o ar que respiro, e minha musa é a mulher que hoje desejo.

22:14, na minha caixa postal reside apenas o vazio de sua ausência, no meu peito habita a solidão cruel de sentir-se só estando acompanhado, a terrível vontade de ser amado por alguém e tendo o amor mais sublime que poderia desejar. Por que somos assim? Será que é inerente à humanidade querer sempre mais? Será correta esta busca incanssável pelo novo, pelo desconhecido; pelo amor?

De onde vem esta minha paixão pela musa desconhecida? O que ela fez? Qual poção mágica ela me enviou pelo e-mail? Por que sinto esta falta de ar quando penso nela? De que é feito a matéria dos sonhos? Por que essa louca vontade de tê-la em meus braços?

Não sei as resposta, só sei que as vezes penso que nunca a terei, que nunca a verei; pois a mesma teima em esconder-se de mim, talvez pelo medo; talvez por não querer nada além da amizade e respeito que sempre fiz questão de mostrar que nunca mudarão.

Não sei de nada, só sei que nada sei; só sei o que ela me deixa saber e a cada centímetro que ela me presenteia, fico cada vez mais nas nuvens, fico cada vez mais apaixonado pela musa sem face, pela mulher sem rosto.

As vezes tenho gana de quebrar o vidro do monitor e entrar conexão adentro, à caça da pantera negra que se esconde na escuridão do desconhecido, já não penso mais direito, já não sinto mais nada, apenas resta a desilusão de saber que jamais seremos apenas um do outro, pois conhecemos os limites desta nossa fantasia. Sabemos que já o somos felizes com nossas famílias, mas é sempre bom sentir-se vivo, é ótimo saber que podemos conquistar e sermos conquistados. É maravilhoso saber-se feliz, mesmo estando no perigoso fio da navalha de uma aventura de sexo e prazer, de amor e romance.

Há... minha musa... onde andarás agora???

Marcelo Manoel da Silva
Caruaru, 30 de novembro de 1998
Noite fria e solitária...
22:43

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