sábado, 26 de janeiro de 2013

Covarde... Disso eu sei que não passo.


Covarde... Disso eu sei que não passo.

Alguém sabe o que é nunca poder contar com ninguém? Perder as esperanças nas pessoas mais próximas??? Ter medo de ter que precisar e depois ser cobrado??? Ser humilhado??? Não, tenho certeza que poucos sabem do que eu falo.

Muitos me perguntam o por que do meu gostar da solidão. Poucos sabem o quanto a solidão me protege deste mundo mesquinho, sem graça e cheio de taxas, preços e valores a serem cobrados e recebidos e pagos e extirpados.

Lembro-me de minha infância, onde meus colegas me elegiam para ser o idiota da turma, aquele que a quem sempre cabiam as piores troças, os piores apelidos, as piores humilhações. Lembro-me de ser o “esquisito” e por gostar de leitura ganhei a alcunha de “ Cientista” numa forma velada de me chamarem de louco.

Minha adolescência, repetindo minha infância em perseguições. Meus novos e antigos amigos a me roubarem os amores, a me excluírem de tudo em que eu não pudesse ser (in)útil. Minhas incertezas desta fase foram esquecidas, pois não havia espaço para isso. Eu só podia sofrer, fugir das normas, revoltar-me e sonhar com um porvir em que eu poderia mudar isso, em que eu seria o rei!!! O ultimo dos baluartes da justiça e puniria os culpados de minha vida tão linda e nutrida aos olhos dos outros. Mas tão infeliz de se ver de dentro de mim mesmo. Eu escutava os comentários de que nunca seria ninguém, que não daria para nada que prestasse porque não estudava, não se vestia, não falava, não vivia dentro dos padrões distorcidos da saudade de tudo que nunca sentiram, tiveram ou viveram.

Mas eu cresci!!! Trabalhei!! Amei!! Lutei!!! Virei um adulto com ilusões mil, para que o mundo a minha volta fosse moldado de acordo com meus padrões. Virei um adulto que detestava crianças, principalmente as que me lembravam a mim mesmo. Virei um adulto sem família, sem irmãos, sem amores, e no lodaçal das minhas tristezas que ninguém nunca conseguiu enxergar, tentei afoguei a criança que um dia habitou em meu peito. Virei um adulto rancoroso e ressentido. Larguei a mão de Deus e tornei-me o mais cético dos homens.

Mas ninguém é imutável, e a maturidade chegou para mim. Descobri o quão era maravilhoso trepar por amor e só por amor trepar, senti o sabor de ser leal e sentir-se amparado, vi o quão ridículo era viver de mentiras e de ilusões mesmo acreditando ou não nelas.

Conheci a mulher de minha vida, com ela eu viajei, ela me ajudou a largar os restos das mentiras de minha criação. Me amou como ninguém jamais amou, me deu forças para lutar, para trilhar, para ser eu mesmo sem ter que se preocupar com planos de ninguém. Ela me protegia, me aninhava em seus braços que foram para mim um porto seguro. Me deu dois filhos maravilhosos, me deu tudo o que o dinheiro, o estudo, e o tudo enfim nunca poderiam me proporcionar. Deixei de ser adulto e virei um homem. Fiel, Amigo, Carinhoso, Atencioso... Mas por causas nunca explicadas em detalhes reais, tudo isso acabou. E fui considerado o culpado. E a mulher que amei tanto me chamou de traidor, de mentiroso, de ausente, de canalha, de cafajeste e pegou tudo que construímos e partiu, levando meus filhos.

Viajei pelos meus sertões, procurei amores, vivi lutas, perdi amigos, morreram parentes, nasceram outros. Descobri que poderia transformar meu trabalho em lazer e meu lazer em uma forma de trabalhar. E voltei para a casa de meus pais.

Morando em uma casa que nunca foi a minha, descobri o quanto insignificante eu era.... sempre fui um animal noturno que produzia enquanto os outro dormiam.

Saudades de meus filhos que não me deixam ver... sinto falta de alguém que me ame... quero fugir desta casa que para mim representa uma prisão com a melhor comida do mundo, não quero esta gaiola de prazeres onde o amor nunca é perene. Ninguém sabe o que é viver como eu vivo, sendo exaltado em uma hora pela honestidade e sendo humilhado na outra pela falta de um sucesso que nunca quis. Quero fugir...

Covarde... Disso eu sei que não passo, porque fazem duas horas que estou tentando ter coragem para sair desta vida, para sumir deste universo, para enforcar meus problemas, para suicidar minhas aflições e não tenho coragem. O cheiro de pólvora no cano da arma, a frieza do metal em meu ouvido, o “click” relaxante do tambor a girar. Tudo tão fácil! Me bastaria coragem... mas... Covarde... Disso eu sei que não passo.

Até quando???

Marcelo bosta,fodido,deprimido,arrasado,cansado da vida
20.03.2001
aqui, nesta gaiola dourada, bem alimentado, bem vestido, aquecido e infeliz.

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