sábado, 26 de janeiro de 2013

E chega a hora de mais uma vez partir.


E chega a hora de mais uma vez partir.

Já não tenho lágrimas desta vez, e se as tenho agora são diferentes, não são apenas lagrimas, são gotas de amor que brotam de meu peito, viajam pelas lembranças destes dias maravilhosos e deságuam no leito cansado de minha face.

Palavras são apenas palavras e não dizem o que quero dizer. Desnecessário dizer como estava meu peito antes de aportar em suas vidas. Estava só, desconsolado e largado. Hoje luto para esquecer meu passado e lutar no presente por um futuro melhor para mim, para meus filhos; para o mundo que é o meu mundo.

Quisera ter asas, asas longas e brancas feito um anjo. Assim voaria e planaria por entre rochedos, escarpas e serras e assim sempre estaria pertinho de vocês e assim seriamos sempre um juntos ao invés de sermos sempre vários separados.

“Sonho que se sonha só é apenas um sonho, mas sonho que se sonha junto é realidade” assim já dizia o poeta e me visto de poesia para esconder-me por trás de palavras, metáforas, mesóclises e figuras de linguagem. Escondo-me, pois é mais fácil para mim me refugiar do que enfrentar este salto que agora ensaio.

Saio de minha cidade, de minha família, de meu lar, de meu amor. Saio de minha vida para aportar na aridez do sertão, aridez dos corações que aqui permeiam e acampam olhares desconfiados de onde não poderei fugir.

Desta vez, a partida será mais fácil. Pois descobri uma nova família e um novo porto seguro para usar como referencia aqui, acolá ou nos confins do mundo.

Minha mana querida, amiga minha; lembra-se de quando eu era criança e fugi de casa, buscando refúgio junto a ti? Pois é, a estória se repete com outros atores, outros cenários; mas com o mesmo destino: a segurança de teu abraço e a proteção de teu olhar que apesar de aparentar tanta brabeza é feito de amor, amor e amor, muito amor. Quem pode imaginar que por trás desta frágil saúde, deste olhar penetrante reside tanta força, tanta coisa boa. Você é a coisa boa que brotou no terreno frio e escuro no qual minha vida transformou-se. Se cuide menina!!! Sem você o mundo para!!! Relaxe senão relaxará para todo o sempre, amém. Não se preocupe demais, sou capaz de tudo por você.

E tantas outras pessoas que conheci por aqui e aprendi a amar.


Agora faz-se tarde no sertão, e me lembro de meu agreste. O cheiro da fumaça dos carros, as pedras e cordas de minha vida, de meus filhos, de minha ex-esposa, de minha casa que tanto amava.

Sinto o tempo passar, cada vez mais me levando para longe de meus sonhos e anseios. Mas também passa o tempo, chegando a hora de minha partida.

O verde das poucas árvores se contrapõe com o azul do céu, pintando um quadro belo que me lembra a doçura de sorrisos quentes e que agora habitam a centenas de quilômetros de meu peito.

Passam corpos, rostos e sons, mas não passa o futuro que um dia esperei para mim, futuro que ontem foi sonho e hoje é desilusão.

Na rua, vozes falam e eu rio, pensando em como a vida às vezes teima em ser tão insidiosamente sarcástica. Penso em mim e meus pés formigam, a cabeça fica leve e sinto minhas artérias acelerarem ao ritmo de meu coração apressado. Sinto meu sangue fluindo como se estivesse preparando uma erupção de força de vontade para vencer a todos e tudo. Mas sei que não sou mais aquele herói intrépido que antes pensava que tudo podia e que tudo teria. Desilusão, teu nome é realidade, minha realidade.

Nesse torpor, viajo pelas nuvens que preparam o ocaso solar no horizonte. O céu começa a adquirir um tom lilás e os primeiros morcegos ensaiam seus vôos a caça de sustento.

Quisera ter asas, asas longas e brancas; feito anjo, feito demônio.Para abraçar meus medos, meus anseios e meus sonhos e alçar vôo por entre as nuvens, me levando para o alto da mais impossível escarpa. E lá, eu me despiria de tudo e começaria tudo outra vez.

Mil vidas queria viver para que tivesse mil chances de viver todas as maravilhas que tive oportunidade de sentir. O sorriso de meus filhos, o abraço quente da mulher amada, o vento a açoitar minha face a dezenas de metros do chão, o abraço de minhas irmãs, o respeito de minhas sobrinhas, as lágrimas de saudade de meu pai e a eterna saudade de tudo que nunca vivi com meu irmão e minha mãe.

Agora estou só, estou tendo minha mente torta e meu peito despedaçado como únicas escoras para agüentar-me na árida estrada que me aguarda pela frente. Mas sei que onde estiver poderei contar com o amor que vocês me proporcionaram, por onde eu for levarei vocês no peito.

A cada dia que nascer eu pensarei na força que vocês me deram e me fortalecerei para a batalhe árdua de meus dias. A cada noite eu pensarei no calor com o qual me acolheram e chorarei as alegrias das maravilhosas lembranças que plantamos juntos, de mãos dadas e unidos por um carinho muito especial que nasceu na esterilidade do sertão.

Eu estou feliz, pois amo vocês.

Obrigado

Marcelo Manoel da Silva
Serra Talhada, 07 de agosto de 2001.
Hoje e Sempre

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