sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Solidão

Eis que minha eterna companheira se faz presente mais uma vez. Mascarada e mistificada ela chega trazendo um vazio no peito, uma sensação de fracasso embalada em um papel grosso e úmido de velhas sementes plantadas e não-germinadas. Ela me persegue desde sempre, às vezes me acolhe e outras me aprisiona, às vezes minha amiga e outras minha amante; as vezes privacidade e outras solidão.

O dia se arrasta sem sinais de vida, sem o som do telefone a gritar querendo atenção, sem nada que demonstre que a vida ainda pulsa. Feriados têm essa propriedade de deixar o dia mais silencioso, deixam no ar um sabor de nostalgia; como o cheiro de algo que nunca senti, como o sabor de uma fruta inexistente.

Agora faltam poucos dias para o dia D, agora já vislumbro a esquina patética desse fim-de-estoria. E assim caminhemos! Provavelmente nos esbarraremos em outras esquinas quaisquer. Talvez nos reconheçamo-nos, talvez não nos notaremos; talvez sejamos outros seres com nossas feridas abertas e curadas; pustulentas e cicatrizadas.

Erramos! Ô Deus! Como erramos! A cor do caminho, o perfume do quarto, a vida nos quintais, as fugas e saídas. Erros que se alimentavam uns aos outros e cresceram de forma avassaladora, perene e mortal.

Um longo e penoso processo de isolamento e de re-construção de uma nova vida, em busca de novos caminhos, em busca de novos amigos; em busca de coisas que não pude ter justamente por não ter por onde, nem como, nem por que.

Outra vida sempre nos espera, outro dia ha sempre de nascer; outro olhar ha sempre de se fechar e cerrar as janelas da alma. Sinto essa passagem como uma acupuntura de milhares pregos grossos que foram sendo inserido ao longo dos últimos anos na minha pele, e nesta terra estranha e fria os pregos não tem pontas! E agora a extração de cada um desses metais deixa uma grande marca, um grande furo na minha alma que talvez um dia venham a se fechar, mas as cicatrizes irão perdurar e acionar uma tatuagem dessa experiência que vai se grudar no meu ser e talvez me seguir na próximo capitulo do longo rosário das existências.

Ligo a TV, luzes e sons invadem meu quarto. Por uns instantes essa invasão esconde a solidão e a desilusão que pousam em meus ombros como abutres a espera de minha inevitável queda. O silencio não esta sendo minha melhor opção. Navego pela paleta de cores e sons e deixo-me levar pela doce nevoa de Orfeu, mas é um sono sem sonhos, tenho tido uma vida sem sonhos; é uma vida cinza.

Chego à borda do poço... É tudo tão fácil... Apenas um passo a frente... E nada mais conta...

Marcelo Silva
Sexta-feira santa
2011
(...Quanto tempo até o fim da queda??? )

Um comentário:

  1. n posso dizer q isso é lindo, mas posso dizer q é inprecionante como consegue descrever tudo isso em algumas frazes.
    só quem ja passou entenderá a profundidade destas frazes, quem nunca passou apenas imaginara,
    Q bom q consegiu sair dessa fase inteiro...
    q Deus sempre abençoe a sua vida...
    de sua mais nova amiga Elma!!!!!!!

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