sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Finitude

Ha anos que o fio da lamina vem se afiando, sendo afiado; criando a perfeita ferramenta do perfeito corte perfeito. Mas por mais fino que seja o fio, a carne sente sua penetração. O que um dia foram dois e depois uno se fizeram, agora voltam a serem dois caminhos distintos.

Tantas ilusões, tantos abraços e poesias perdidas no tempo. O peso da busca, a fragilidade das diferenças; a finitude dos meus alcances. O que conta mais ou menos? Sinto-me um fio de cabelo nos azulejos do Box durante o banho, escorrendo a serpentear em direção ao ralo. Hoje no esgoto, Amanhã nos rios e depois no mar, e quem sabe serei novamente o que um dia perdi por nunca ter sido.


A divindade que habita em cada ser pulsa nos menores organismos, isso nos torna mais próximo do universo mas afasta-nos de nós mesmos. O plágio das palavras e das frases não me ajuda, mas acende fachos na escuridão desta manhã morna e vomitável. Tento buscar a melhor forma de explicar este vazio, esta lacuna na vida; mas faltam-me palavras e idéias. É como se a melhor saída fosse a saída, é como se a solução final não fosse afinal tão banal. É como se buscasse o interruptor para desligar essa existência e tentar outra novamente.

Eu busco a ciência do inevitável, eu caminho pelas estantes dessa imensa biblioteca onde as lombadas não identificam as obras, mas as pessoas. E esta infinita leitura superficial de cada um arrasta-me pala um vale sombrio e pantanoso onde o ar queima meus pulmões e a luz do sol não consegue ultrapassar o denso nevoeiro salpicado de gritos desesperados dos que tanto avisaram e não foram ouvidos. “o inferno são os outros” diria Nietzsche, mas o inferno somos nós mesmos, os demônios foram criados e libertos a cada inspiração de nossos pulmões tão cheios de fuligem e fumaça. Que venha o inferno! Aos poucos me foge a fé, aos poucos se desvanece os últimos resquícios de reconhecimentos cristãos, budistas; ou qualquer outra forma de amor fraternal. Sinto tentado a se entregar à vendeta do destino, sem lenço e sem documento, sem fé e sem alma; como um coletor de almas, como um diabrete cuja função seja função nenhuma, como um servo que segue dois mestres, como um aprendiz de demônios, como um caçador de anjos.

Eu e meu corpo; A distancia, a velocidade, o saber. Nada disso importa pois não tenho um destino e vou para onde o vento das almas me levar. Eu que convivi com o doce sabor da vitória e a lacerante dor da derrota ainda continuo nessa busca por um Oasis de (in)sanidade nesse deserto de loucura que vocês chamam de casa. Pois o pior de todos os destinos, pois a maior dor de todas as chagas; pois a pior de todas as ironias nestes incontáveis mundos e infinitas estrelas é ser eternamente sozinho, é ser perenemente infeliz.

Marcelo Silva
23 de abril de 2011
Afogando-se docemente no visgo fétido da renuncia, da retirada da batalha; da desistência do caminho da luz.

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