sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Milena Rodrigues (Entre um casamento e outro) 01

Oi Criatura!!!!

Espero que estejas bem, e se não estiver espero que melhores após ler estas linhas tortas.

Sabe, ultimamente eu falava que tinha medo de tropeçar e acordar de um sonho bom que era estar com você. Mas parece que a topada aconteceu, mesmo com todo o cuidado que tive.

Já falou o sábio que recordar é viver, e recordo de você mudando de lado da calçada para me encarar bem de pertinho. Lembro de você em minha calçada me convidando para um rapel, lembro-me de seus olhares e de seu biquíni vermelho, de seu peso em minhas costas e de teu respirar suave e sensual em meus ouvidos.


Você me fez homem e menino dentro daquele carro, no chão frio do apartamento, na inusitada paisagem da pedra do açude, dentro de meu QG...

Ter teu corpo ao meu lado foi dádiva dos deuses, sentir-se amado por você foi maravilhoso; ter confiança em você foi muito bom...foi...

Ainda sinto o calor de tuas mãos nas minhas, sou capaz de relembrar as marcas de tua arcada em minha pele.

Foi muito bom descobrir em você alguém tão sem carinho, que se deixava levar por meus alentos e acalentos.

Você apareceu numa hora muito especial em minha vida, me deu forças e coragem de assumir situações que ainda não tinha como resolvidas. Foi uma pena você começar a me tratar assim tão friamente e distante justamente depois de me dar forças para que eu resolvesse minha vida pessoal anterior.

Você lembra das mensagens que me mandastes? Pois é... eu também acreditei em tudo e ainda acredito em sua sinceridade e cara-de-pau que nos é tão inerente ( não é leonina? ) e nesta confiança, espero que possas me dizer o que realmente aconteceu, para que eu tenha algo palpável para explicar aos meus sentimentos. Espero que você não venha com arrodeios, desculpas esfarrapadas; ou qualquer coisa que você escolha como mais correta e que no final só vai nos fazer mais frios e distantes.

Parafraseando o poeta: “...Que seja eterno enquanto dure...”, só esperava que fosse durar um pouco mais, só isso...

Agora estou olhando tua foto, vendo teu sorriso de menina sapeca com teus dentes gostosos de beijar. Teu colo bronzeado emoldurado pelo mosquetão, teus cabelos agitados pelo vento.

É uma pena que sejamos assim tão parecidos, pois isso nos faz conhecedores muito profundamente um do outro. Gostaria que fosse eu ou você mais diferentes, para que assim quem sabe você não tivesse se enchido de mim tão rápido, e já que somos tão parecidos, acho que você acabou enjoando de você mesmo, né pé-de-galo?

A tarde cai, pássaros passam, descrentes de seu próprio perigo. O relógio marca 13:40 e no relógio de meu peito marca o passo-a-passo para o nada.

Minha musa surgiu do nada e nesta tela fria eu escrevo letras de lembrança, trazendo de volta uma alegria juvenil que há muito não sentia. Mas você que tanto me inspira não me mostra mais a face, e na inspiração, respiro o gás venenoso do tédio e da solidão. A musa se esvai por entre meus dedos.

Sua voz é de menina, e o seu sorriso também. Ela canta palavras doces e pela linha telefônica escuto os músculos de sua face a formarem o mais doce e belo sorriso que eu jamais nunca vi.

A tarde continua a cair, os carros passam e as nuvens no céu escondem o azul que me acalma e que me guia até os pensamentos nela. No carro da frente, uma família discute algo, a gata no meu teto faz questão, através de seus miados, de avisar a todo o quarteirão que está no cio. O apito do guarda a se perder na imensidão desta tarde vazia, me faz refletir sobre minha vida. Vida minha, por que me entregas tão belo presente na forma dela, só para depois obstacolar meu caminho pela falta que ela me faz.

Quando fecho os olhos, imagino sua pele macia de seda do oriente a verter os suores de uma excitação provocada por mim. Imagino sua pele como a pele de um pêssego maduro.

Como disse o poeta, “disparo balas de canhão, é inútil pois existe um grão-vizir...” , no meu caso, existem batalhões de grão-vizires a procurarem por ela, mensagens, flores, telefonemas... é uma pena... por mais que eu tente acertar o seu coração, ele permanece intocado, resguardado pelos amores de companheiros passados, presentes e futuros. Espero que ela seja amada, que ela tenha poesias e flores ao despertar. Desejo que todas as suas noites sejam de prazeres e luxurias para que ela nunca se sinta infeliz. Rogo aos céus para que a façam muito feliz, que tornem sua vida um mar de rosas, que nunca a magoem com palavras duras e carinhos de mercador, que nunca, nunca mesmo pensem em traí-la com outra, mesmo que seja como forma de descontar algo.

Desejo-te toda a felicidade deste e de outros mundos, pois a vida às vezes parece uma carroça louca, que desce este abismo sem fim num tropeço de sensações multicores, onde temos tempo apenas de olhar pela lateral e ver o que estamos perdendo. E nesta jornada ao fim do buraco estamos todos no mesmo barco, separados pelas classes, castas e credos nossos de cada dia.

Um dia ao embarcar mais uma vez nesta descida, encontrei você, e você procurava algo que eu poderia oferecer, você queria prazer, carinho, romance...

De meu canto, observei com o canto de meus olhos o canto suave de sua voz. E neste canto de encantos, encontrei-me dominado e apaixonado pela musa, pela deusa de voz doce.

Fecho os olhos e imagino meu peito devastado pelo sopro nuclear da saudade arrasadora que ela me faz, vejo prédios, passam praças; cantam vozes, mas ela não chega até mim. Vasto mundo vasto sem porteiras, por que me fizestes assim? Que fiz para merecer este coração apaixonado e esta alma de poeta, regidos por um juízo de passarinho? Por que eu tinha que vir a este mundo com esta necessidade tão grande de trocar amor com as pessoas?

Nenhuma resposta do vasto mundo, fica apenas a certeza de que nunca mudarei, pois a poesia é meu pão de cada dia, o amor é o ar que respiro, e você é a mulher que hoje desejo.

Na minha mente reside apenas o vazio de sua ausência, no meu peito habita a solidão cruel de sentir-se só estando acompanhado, a terrível vontade de ser amado por alguém. Por que somos assim? Será que é inerente à humanidade querer sempre mais? Será correta esta busca incansável pelo novo, pelo desconhecido; pelo amor?

De onde vem esta minha paixão pelo desconhecido? O que ela fez? Qual poção mágica ela me enviou pelo olhar? Por que sinto esta falta de ar quando penso nela? De que é feito a matéria dos sonhos? Por que essa louca vontade de tê-la em meus braços?

Não sei as respostas, só sei que às vezes penso que nunca mais a terei, que nunca mais a verei; pois a mesma teima em esconder de mim a real causa deste súbito afastamento. talvez pelo medo; talvez por não querer nada além da amizade e respeito que ofereci a ela, talvez fosse melhor que fossemos apenas bons e grandes amigos... desde o começo...

Não sei de nada, só sei que nada sei; só sei o que ela me deixa saber e a cada centímetro que ela me presenteava, ficava cada vez mais nas nuvens, ficava cada vez mais apaixonado por ela... mas agora seu distanciamento e sua frieza me mostram o real caminho de um trabalho escolar a ser feito e entregue na sala de aula. Mas como tudo é relativo, relativo também seria o que deve ser chamado de trabalho escolar, onde deve ser a aula e finalmente: quem poderia te ajudar na confecção deste trabalho.

Às vezes tenho gana de quebrar o vidro de minha alma e deixa-la escorrer pelos campos do senhor, para sair em forma de nevoa à caça da pantera negra que se esconde na escuridão do desconhecido, já não penso mais direito, já não sinto mais nada, apenas resta a desilusão de saber que jamais seremos apenas um do outro, mas é sempre bom sentir-se vivo, é ótimo saber que podemos conquistar e sermos conquistados. É maravilhoso saber-se feliz, mesmo estando no perigoso fio da navalha de uma aventura de sexo e prazer, de amor e romance.

Foi muito bom estar com você... gostaria muito de continuar esta estória, mas isso não é mais de minha alçada, agora você parece que já começa a voar, ensaiando novas conquistas.

É uma pena minha amiga, meu amor, minha amante... é uma pena que você tenha enjoado de estar com um espelho que refletia apenas você mesmo. Espero nunca perder teu carinho, afeto e amizade... pois isto sim é para sempre: Teu sorriso amigo a me banhar de tua beleza...


Marcelo Manoel da Silva
Caruaru, 13 de dezembro de 2001
Tarde fria e solitária...
13:27

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