sexta-feira, 12 de junho de 2009

Minha mão esquerda (02)

- Mais uma noite. Na grande sala branca, faces conhecidas aguardam enquanto suas vozes tornam-se burburinhos para depois virarem sussurros até que o silêncio é sintonizado. O odor do incenso invade meu peito, as luzes azuis conseguem atravessar minhas pálpebras cerradas enquanto a voz já conhecida comanda os passos do caminhar.
10... 9 ... 8... 7... 6... 5... 4... 3... 2... 1... 0...

O som monótono do mantra cumpre seu papel e embriagado pelo incenso eu mergulho nas trevas azuis de minha alma. No escuro da sala silenciosa eu abro os olhos e enxergo luzes e cores que não me pertencem, torno a cerrar a visão e descubro que de olhos fechados eu consigo enxergar longe, além dos muros que nunca enxerguei. De olhos fechados eu me enxergo e me dispo das couraças que há muito me protegem de mim mesmo.

No escuro encontro a luz!

O mantra se vai, e sem querer abandonar o abandono das trevas celestes, levo as mãos aos olhos e aperto até a dor surgir. Neste ponto cheguei a desejar a cegueira, para que nunca mais deixasse de ver todas as coisas que vi no escuro. Mas a luz veio e levou a escuridão, deixando um rastro harmônico gravado nas retinas do meu ser.

Mesmo na claridade, ainda sinto a maravilhosa escuridão que de luz me iluminou.

Marcelo Silva
09/06/09

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