sábado, 16 de maio de 2009

Cibernia

Amanheceu mais uma vez, e como o vampiro que mora dentro de mim detesta o sol das manhãs, eu viro-me para o outro lado da cama. O transito sob minha janela faz questão de avisar-me que a jornada recomeçou, na minha boca jazem os restos do lanche da madruga, que agora imploram por ser escovados. Os primeiros cheiros da vida invadem meu quarto e encontram minhas narinas e eu tento dormir mais um pouco.

De repente lembro-me de alguém e salto da cama, e num salto de sobressalto aterriso em meu computador e ligo-o com uma curiosidade infantil e uma ânsia animal. Conecto-me desconectando-me do mundo intercontinentalmente globalizado para mirar meu olhar e checar meu e-mail.

A máquina fria alegra-me meu dia dizendo-me: “You have new e-mail in your mail-box”

Abro-o e vejo você em letras frias, mas de teor calcinantemente fervente, sinto meu peito disparar e a cada letra unida à outra, vão formando-se palavras e delas as frases que fazes e sabes que me conquistariam.

Sinto-me revigorado, um arrepio de excitação percorre meu corpo, partindo de meus calcanhares, espalhando-se pelas pernas, invadindo meu corpo, ruborizando minha orelhas e fechando meus olhos.

Minha vontade agora era estar ao teu lado, minhas mãos em tuas mãos, meus olhos em teu corpo, teu corpo em minha mente e minha alma em tuas mãos.

Há... Quisera poder levitar e alçar vôos de encontro as correntes de ar que me levariam até você agora...

Eu entraria pela janela de teu trabalho, pousaria bem atrás de você e levantaria os cabelos de tua nuca e aspiraria teu perfume até o ultimo centímetro cúbico disponível em meus pulmões. Depois beijaria mordendo teu pescoço e te abraçaria por trás, com a leveza de um colibri e a paixão de um furacão.

Quando você se desse conta e resolvesse olhar para trás, eu estaria saindo novamente pela tua janela, e me esconderia no topo da primeira arvore ou edifício que encontrasse, só para ver você na janela a me procurar.

E lá ficaria te guardando, vigiando e protegendo.

Mas eu acordei de novo e vejo que nem posso voar, mas sonhar é preciso e sempre vale a pena quando a alma não é pequena.

Sinto saudades de minha gaita, para agora tocar canções de amor com o pensamento em você, deixar que o som melancólico e nostálgico da harmônica impregnasse as paredes de meu quarto e saísse por todas as frestas da casa e invadisse os ouvidos alheios levando meus risos e prantos de amor por estas ruas, lares e copas das arvores para que as cigarras me acompanhassem numa sinfonia de sensuais lembranças e dores terríveis causadas pela terrível constatação da distancia entre nos dois.

Há... Musica, que falta você me faz, que lacuna minha gaita deixou; agora só posso escrever e não mais emitir os sons que meu peito canta e encanta-me os sentidos torpes e entorpecidos pela descoberta de uma nova paixão.

Sempre estarei com o pensamento em você, estarei banhando-me de velhos dogmas, velhas paixões, velhas ilusões causadas pelo doce engano da juventude que habitava em meus braços. O sábio uma vez falou que a maturidade desconfia da juventude porque já foi jovem um dia. E ele tinha toda razão. Fidelidade não é pacto ou obrigação, é união de pessoas que se harmonizam num mesmo comprimento de onda, são notas dissonantes que vibram na mesma freqüência, são duas pessoas entregues uma a outra num balé de romance, descoberta e paixão.

Se um dia se encontrares no meio de um penhasco e abaixo de você estiver serpentes peçonhentas a tua espera e acima de você, tigres lutarem pelo direito de te abater, procura ao teu redor, busca um lindo morango que estará nascendo na impossibilidade do rochedo e não se impressiones por ele estar ali. Pega-o e leva até tua boca, saboreio com o mais profundo respeito e aproveite este momento ao máximo, pois nossas vidas são breves e efêmeras como as mariposas, e possuem a mesma fragancia.

Sinto falta de você e persigo sua imagem como um cão farejador a busca da caça. Sua voz foi muito pouco para mim que agora quero teu corpo, tua alma; tudo enfim.

Você raptou minha atenção, aprisionou meus dedos, trancafiou meu olhar, obstruiu minha conexão. Mas um dia é da caça e outro do caçador e amanhã será um novo dia onde te raptarei e te levarei para meu covil de lobo solitário, rasgarei tuas roupas e te desnudarei de dogmas e empecilhos psico-sociais. Vou roubar todos os teus beijos, dilapidar teu coração, aprisionar teu ser junto ao meu e lutar por esta louca paixão que agora nos envolve.

De que são feitos nossos sonhos? Qual a matéria que compõe as fantasias, quem é o juiz da humanidade? Destino estranho e fatídico que nos une separados e nos separa quando unidos pela tela fria de um computador. Destino cruel que arrebata nossas emoções e guia-nos através de mares nunca dantes navegados. O que é o destino? Será esta imensa seqüência de fatos e estranhas coincidências que fez que nos encontrássemos quando precisávamos de carinho? De atenção? De romance?

Não sei, só sei que quanto mais sei descubro que nada sabia e agora sinto-me perdido neste arrastão de emoções e ilusões saudosas, saudade de tudo que nunca senti, ouvi, beijei; toquei.

Onde será o fim dessa nossa estrada? Viveremos felizes para sempre? Ninguém sabe, e isto é o que torna a viagem mais prazerosa, isto é que nos impulsiona para frente à procura do endereço de nossa felicidade.

Amar é viver, recordar é viver, sofrer é viver. E se passamos por esta vida sem ter amado, sem ter vivido um amor, sem ter sofrido pela vivencia de um amor é por que nossas vidas terão sido em vão.

Marcelo Manoel da Silva
Caruaru, 08 de Janeiro de 2002 10:25
Uma manhã chuvosa na qual os pássaros fizeram um longo vôo para nunca mais voltar.

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