segunda-feira, 29 de julho de 2013

Princesa morta, Menina Posta...

Não me interessam mais as submissas de ocasião, não me apetecem as relações baseadas em sentimentos falsos; não me encontro mais quando olho para meu passado recente.

Não quero mais a submissão por hobby, busco a essência e não mais os sintomas. Busco a entrega, e não mais o receio, a imitação; as eternas promessas infindas.
Quero a mulher prenhe de entrega, fecunda de aceites e plena de si mesma , ciente de sua posição.

Quero a mulher-menina que chamarei de MINHA, quero o ponto de encontro no meio de uma série de coincidências, e coincidências não existem. Quero recebê-la em minha casa, e ainda no calor do encontro pousar meu olhar sobre meu domínio que ela chama de vida.


De frente à minha cadeira, a colocarei de joelhos sobre almofadas, pois minha posse não pode e nem deve ser danificada. Quero enfiar meus dedos em sua nuca e cerrar meus punhos, tencionando até as raízes de seus cabelos. Retesarei sua cabeça para trás e me aproximarei o bastante para que minha face sinta o calor de seu rosto, quero sentir o sabor de seu hálito quente, quero desfocar minha visão pela proximidade do meu objeto de desejo.

Arreganhando minhas narinas, quero aspirar o cheiro de sua pele. Meu lado primitivo e tão presente se inquietará com seu cheiro de fêmea no cio, fazendo-me libertar o lobo faminto que a grande custo tento controlar no meu dia-a-dia. Quero exibir o perigo preemente em meu olhar, quero que ela antegoze e fique ansiosa com a sede exibida nos meus olhos silenciosos e famintos.

Vou chegar bem perto de seu ouvido, e sem que nossa pele se toque, vou perguntar o que ela não quer ou não permite, e alertarei que todo o resto não delimitado será imposto, cobrado, praticado e introjetado através de seus poros. Farei ela compreender as regras de minha liturgia e conhecerei os limites de sua entrega, para assim termos um ritual próprio, nosso; único.

Ordenarei que se dispa, peça por peça. Que se exiba para meu deleite, que me mostre cada centímetro desnudado, exposto, oferecido por livre e espontânea vontade. Vou memorizar cada marca, cada curva, cada pinta, cada pelo de seu corpo. Quero e vou guardar cada detalhe de seu corpo e ler cada sinal de sua linguagem corporal. Vou invadir a sua mente e aprender seus segredos, suas intenções; seus medos e anseios.

E quando estiveres desnuda da forma que eu decida, a levarei às amarras, às contenções e aos labirintos perversos de minha mente insana, selvagem; dominadora. Vou invadir suas fronteiras e tomar seu corpo de assalto. Extenuarei suas forças, fustigarei sua vontade própria; A guiarei pelos meandros dos incômodos, pelas vielas da dor; pelos becos escuros da dominação e quando a jornada frenética (e milimetricamente calculada e controlada) terminar, a recompensarei, então suas amarras serão abertas, sua contida posição será banhada por minhas mãos ávidas em proporcionar-lhe o prazer do after-pain.

Cuidarei de cada centímetro de seu corpo, vasculharei suas marcas e delas me encarregarei. Banharei seu corpo,lavarei seus cabelos; hidratarei sua pele com óleos essenciais, farei com que cada milímetro de nossa escalada seja regiamente recompensada, farei com que ao final de seu deleite, ela deseje mais e mais jogos e sessões em busca não apenas de nossa liturgia de prazer, dor e submissão, mas também que ela busque o porto seguro e acolhedor de sua recompensa , se assim for merecedora.

E então, me dignificarei a oferecer meu corpo e minha mente para que ela escolha entre o descanso e entre a baunilha, entre a morte suave dos extenuados e entre a cavalgada sutil da fêmea; entre o sono dos que se abraçam e entre o sono dos que se amaram.

E assim, todos os caminhos se reabrirão e a luz invadirá os recônditos que foram cegos e entregues às trevas. Desta forma um ciclo se quebra e outro se inicia. Princesa morta, Menina posta. E tudo o que um dia foi planejado, e tudo o que um dia foi esperado, e tudo o que um dia foi negado reviverá em outros 50 milhões de tons de realidade, e os 50 milhões de tons de ficção ficarão onde devem ficar: nas mentes dos curiosos, nas fantasias dos covardes; nas mentiras dos que se negam a abraçar o destino e a vida.

Marcelo Silva
29 de julho de 2013
Ainda olhando para trás, mas agora não na espera da chegada de quem por escolha própria ficou pelo caminho, e sim no contemplar de uma lição aprendida, de uma fratura ainda exposta, porem indolor, morna e em seus últimos estertores de existência.







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