sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Augusto dos Anjos

O frio adormece-me os pés, o silencio isola-me da vida alheia; as palavras na tela fria do notebook não me encantam mais como outrora. O vento gelado que se infiltra pelas minhas janelas não esfria a fornalha de meu peito nem congela-me os dedos ávidos de minha imaginação.

Olho para as rosas em meu jardim, banhadas momentaneamente pelos faróis dos carros que passam apressados. De algum lugar escuto risadas. Hoje no meu auto-exílio eu me resguardo dos sorrisos e descubro o quão quente foi minha vida antes do tudo, durante o nada; depois daquilo que poderia ter sido e não o foi.

Do nada, lembro-me de meu pai declamando Augusto dos Anjos:

“Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!”


É meu pai... Como sempre, tinhas razão!!!

Marcelo Silva
Sexta-feira, 14 de outubro de 2011
(re)descobrindo que a angustia e a solidão são boas companhias para os poetas

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