terça-feira, 2 de abril de 2013

Sob meu critério (Parte 09) – Marcelo Silva

Eu a carreguei para o colchão, onde nos ajoelhamos de frente para o outro. Retirei o relógio e vi que eram quase quatro horas da tarde. Levantei seu vestido enquanto ela abria minha camisa à força, fazendo saltar cada um dos botões que rebentavam em direções adversas. Me sentei para tirar meus sapatos e meias e ao abrir meu cinto e minha calça, ela a puxou pela barra de uma só vez, fazendo-me apenas de cuecas em um único movimento. Como que se fosse combinado, deitamos nossas costas no colchão e sorrindo um para ou outro nos livramo-nos de nossas duas ultimas peças de roupa. Fiz menção de levantar e ir à mesa em busca de preservativos, mas ela entendendo minha intenção falou: “Não precisamos de mais nada entre nós, lembra meu bebê?”. Ela deitou-se e me olhou de lado, com as mãos para cima e as pernas entreabertas. Em um ângulo reto, posicionei minha boca em sua vulva quente, e mergulhei minha língua o mais profundo que me foi possível, fazendo ela me segurar pelas orelhas e pelos cabelos. Me esfregou em sua pélvis com tanta força que minhas gengivas doíam. Me faltava o ar e com a boca aberta eu sentia seus líquidos mais íntimos escorrerem em convulsões e arremetidas, me permitindo sorver cada gota de sua cachoeira mais intima.

Ela começou um gozo violento, onde por pouco não fui sufocado até a morte pelas suas pernas e sua vulva que se colaram em minhas vias e praticamente me tiraram todo o ar. Ela terminou e imediatamente me virou de barriga para cima, e sentou-se em cima de mim num encaixe maravilhosamente perfeito. Ela me beijava, passando seu ventre no meu enquanto me engolia por inteiro. Ela rebolava no meu colo e passava seus mamilos no meu peito, mordia meus mamilos e mesmo assim não parava de socar o máximo que consegui de mim, dentro de si própria. Em dado momento, ela virou-se de lado, sem permitir que eu escapasse de dentro de suas carnes, e abraçou minha coxa esquerda com as pernas e os braços, e neste posição conseguiu mais alguns centímetros de mim para ela, e sem se levantar, apenas esfregando sua pélvis para frente e para trás, ela começou a rir e chorar, olhava para o teto e balançava a cabeça falando coisas desconexas. E gritou! Gritou como se toda a sua vida quisesse sair pela sua garganta de uma só vez, uivou arqueando o pescoço para trás e esfregando mais ainda seu corpo no meu. Ela berrou com a boca aberta e cravou seus dentes na minha perna.

Quando pensei que ela agora iria querer um colo, fui abocanhado com tanta força e volúpia, que minha extremidade encontrou o fundo de sua garganta, a fazendo ela recuar um pouco para respirar e logo em seguida esfregar novamente nossos limites um no outro. Sua boca parecia que iria conseguir me engolir em toda minha extensão. E quando ela retirava-me de dentro de sua boca, eu podia vislumbrar a mistura de meu pré-gozo com sua saliva, formando um caldo transparente e escorregadio. O barulho provocado pela sua boca me engolindo e regurgitando, era animalesco. Sua cara de languida e devassa, emprestava a seu olhar uma feição de necessidade, sede, fome e vontade de me ter para sempre dentro de sua boca. Ela gemia sem parar, e cada vez que tentava ir mais fundo, ela respirava fundo e segurando a respiração e em silencio, mergulhava a cabeça em direção aos meus púbicos pelos, sendo limitada apenas pela impossibilidade de se ir mais fundo.

Então ela largou-me ainda retesado e duro, e veio até meu peito, onde se aninhou e pediu: “Quero gozar com você me dando o prazer e dor bebê. Come minha bunda? Com força? E se eu mandar parar ou chorar, você me ignora? Promete?”. Beijei sua testa, sua face e sua boca e delicadamente a coloquei de quatro, e me lambuzei em sua gruta úmida e cheia de gozo. Enfiei dois dedos lá dentro para pegar mais lubrificante e comecei a massagear seu pequeno anel com a ponta do dedo médio e fui entrando levemente. Ao encostar minha mão no vão de suas nádegas, comecei a gira o dedo solitário dentro de suas entranhas, fazendo movimentos de vai-e-vem lentamente e arrancando gritinhos de dor. Tentei introduzir dois dedos, e comecei a encontrar mais resistência. Ela juntou o lençol em uma porção e enfiou na boca, gemendo e gritando alto por trás dos lençóis e do colchão, onde ela enfiava o rosto para gritar. Retirei meus dedos e me lubrifiquei novamente dentro dela. Ao encostar a ponta de minhas carnes em suas nádegas, ela se retesou e se arrepiou, empinando-se mais ainda. Com o lado direito do rosto colado no colchão e olhando para trás com a cara mais safada do mundo, falou: “Me machuca! Por favor, me machuca!”

Me posicionei, e com ajuda de uma das mãos comecei a invasão, lentamente e sem parar. Ela começou a gritar, e antes mesmo que a primeira parte conseguisse alcançar seu interior, ela já mordia o lençol com força e tentava tirar o quadril de meu alcance indo para frente. Enfiei a mão esquerda em seus cabelos e a trouxe de volta, mantendo a penetração. Ela balançava a cabeça de um lado para o outro e mordia os lábios, batia com o rosto no colchão, punha as mãos para trás tentando me tocar ou se tocar ou simplesmente porque não havia mais o que fazer. Quando consegui que minha primeira parte saltasse para dentro dela, ela teve um breve momento de alivio, então a segurei pela cintura com as duas mãos, e comecei a puxar ela mais rápido, em minha direção. Foi a gota d’água para sua resistência, que desabou. Ela começou a bater o os pés alternadamente no colchão, e em uma tentativa vã, se jogava para frente, tentando me tirar de dentro dela. Não recuei e empurrei-me mais um pouco para dentro. Ela começou a gemer e a falar: “Ai... para um pouco, só um pouquinho... ai... não precisa tirar, só para um pouco, por favor.”. Ignorei-a e pendendo meus ombros para trás, me segurando em sua cintura; joguei minha pélvis para frente e me arqueei por completo, entrando completamente entre suas nádegas.

Ela começou a chorar e gritar de dor. Tentava me empurrar para longe com suas mãos, começou a falar que não agüentava e que queria parar. Me debrucei sobre suas costas e prendi seus dois braços com minhas mãos, segurando quase na altura dos cotovelos e mantendo ela de quatro com as nádegas para cima. Comecei a bombear vigorosamente, suas carnes quentes se abriam e abraçavam meu corpo. Ela chorava de dor e pedia para parar. E após alguns minutos quando ela começou a se acostumar com o invasor eu tirei tudo de dentro e passei a ponta do meu dedo médio direito no estrago que havia provocado. Instintivamente ela encolheu-se, diminuindo a abertura que forcei. Repeti varias vazes a brincadeira com o dedo, e só tarde demais ela se apercebeu que aquilo estava fazendo seus músculos e carnes voltarem para próximo de sua posição inicial, só para que eu pudesse deflorá-la novamente, e o fiz! De uma só vez coloquei todo o meu corpo para dentro dela, fazendo-a saltar para frente e se despregando de mim. Ela deitou de lado e chorou, tentando proteger-se com uma das mãos. Ela repetia sem parar: “Ai que dor! Ai que dor! Ai que dor!”, peguei-a pela cintura e coloquei-a novamente de quatro. Ela tentou fugir, mas passei meu braço esquerdo por baixo de seu pescoço e num meio “mata-leão” eu a segurei e de novo. E Novamente sem nenhum cuidado me introduzi entre sua pele. Ela gritava e chorava, pedia para que parasse; implorava para que eu a escutasse. E cada vez eu entrava e saia mais fundo, até que ela começou a gemer compassadamente, completamente estática na posição de quatro e de olhos fechados. Parecia que toda a sua mente tinha se voltado para suas nádegas que agora recebiam um delicioso castigo. Ela apenas respirava e gemia, e eu comecei a retirar-me por completo, esperar sua contração e entrar de novo com toda a força e fúria que a cena me provocava. Ela deitou a cabeça de lado no colchão. Agora já não mais gritava, apenas era tomada por um prazer imenso que a fazia se sentir mais submissa ainda, apenas empinando-se para mim, e gemendo e mordendo os lábios em sinal de total entrega, ela era minha e havia se entregado por vontade própria.

Cada retirada completa minha, eu sentia meus pelos do corpo inteiro se levantarem em arrepios de prazer. Cada vez que eu arremetia e estocava fundo, esvaziava meus pulmões até o ultimo milímetro cúbico de ar ser expulso. Comecei a diminuir o ritmo, procurando a melhor cadencia para aproveitar mais o momento. Mas ela percebeu minha intenção, se colocou de quatro e começou a controlar os movimentos, olhando para trás e rebolando, indo para frente e para trás, sem tirar os olhos de mim. Então comecei a perder o controle, pontos luminosos inexistentes começaram a piscar na frente de meus olhos, eu não conseguia mais me movimentar. Trinquei os dentes, apertei os olhos e deixei que ela terminasse comigo. E após alguns momentos de tortura, eu senti meus joelhos relaxarem, e uma onda de frio seguida por outra de calor, partiu da base de minha coluna, se espalhou pelas minhas costas, invadiu os ombros, e escorreu pelos braços. Eu apertei sua cintura pequena e frágil quase ao ponto de quebrar suas costelas e a trouxe para mim, para o máximo que fosse possível nesta existência; para que nada ficasse de fora. Mesmo assim travada, ela rebolava e não parava. Então eu comecei a inchar em pulsos dentro dela, e ela começou a gemer e responder cada pulsar meu com um igual e contrario em mim. E quanto mais eu gozava me derramando dentro dela, mas ela gozava me mastigando e fazia com que eu gozasse mais, ficando nesse moto - continuo por não sei quanto tempo.

Ainda presos um ao outro, nos deitamos de lado e ficamos de “conchinha”, quietos e calados. Até que começamos a adormecer juntos. Quando meu corpo começou a relaxar, lentamente fui sendo expulso de suas deliciosas entranhas, foi ficando escorregadio, e a cada movimento de saída ela se ajeitava mais e se aninhava em meu corpo mais relaxadamente. Até que por ultimo, meus últimos centímetros que ainda estavam presos a minha amada, se desprenderam, deixando escapar uma boa quantidade de meu esperma, que escorreu pelas suas coxas, se grudou nas minhas e nos uniu como gêmeos siameses.

Depois, adormecemos completamente, e durante toda a noite, nos movíamos de posição e nos aninhávamos novamente, experimentando todos os encaixes e posições possíveis. Ela era um quebra-cabeças, e eu conhecia os encaixes dela. A manhã seguinte nos surpreendeu exaustos, desidratados e famintos. Quase que me arrastando, fui até a caixa térmica e trouxe água e isotônicos. Nos reidratamos e depois de trocarmos alguns abraços gostos e vários beijos, trouxe frutas e iogurte. Comemos em silencio, apenas trocando sorrisos. Mas algo aconteceu. Os sorrisos foram amarelando e uma sensação incomoda se agigantava em nossas vísceras. Terminamos e nos olhamos meio constrangidos. Eu falei primeiro: “E então?”, e ela respondeu com a mesma pergunta: “E então?”.

Queríamos rir e se abraçar, mas sabíamos que nunca seria para sempre. Queríamos chorar e nos separarmos, mas sabíamos que nunca conseguiríamos nos afastar. Queríamos morrer, mas sabíamos que a nossa busca um pelo outro não deveria terminar assim tão rápido. Então nos levantamos e nos vestimos. Ela começou novamente a se pentear e se maquiar e falei que não fizesse isso, pois ela tinha acabado de sair de um cativeiro de vários dias. Não podia estar completamente linda.

Ela perguntou pelos seus sapatos. Falei que estavam dentro do carro e ela foi até o carro e os colocou. Quando se levantou, em cima daquele salto alto que a fazia ficar mais empinada, foi uma deliciosa e dolorida visão. Ela flanava pelo salão como se levitasse acima do piso. Eu queria correr até ela e a abraçar, sentir sua postura elegante em cima daqueles sapatos. Mas estava paralisado e absorto no manear de suas cadeiras a cada passo dado.

Quando ela passou por mim, contraiu as nádegas e fazendo “beicinho”, colocou a mão atrás e falou com sua voz de menina mimada: “Fez dodói...”. Eu abri um enorme sorriso e fui até ela, beijei sua face e a levei até a cadeira onde ela se sentou e sem avisar, peguei um de seus pés e quebrei o salto do sapato. Antes que ela tivesse alguma reação, repeti no outro salto. Ela arregalou os olhos, como se eu tivesse quebrado as suas duas pernas e seus dois braços. Eu sorri e comecei a falar que por conta do teatro do seqüestro, aquilo era necessário. Ela estava sentada de pernas cruzadas, braços cruzados, balançando um dos pés, olhos fechados e dentes e lábios cerrados. Quando comecei a falar ela fez um sinal para eu me calar, sem nem ao menos abrir os olhos, insisti em falar e ela abriu a palma da mão direita em minha direção e com o indicador esquerdo nos lábios fez: “Shiu!!!”.

Acho que nem mesmo se eu tivesse quebrado seus ossos, ela teria ficado tão consternada e furiosa. Me afastei e de cima da mesa peguei a gargantilha negra e pus no bolso, junto com o celular dela. Peguei sua bolsa com a mão esquerda e ofereci minha mão direita para ela se levantar. Ela retirou os sapatos, colocou os dois nos dedos da mão esquerda e com a Mao direita tomou-me sua bolsa. Ela saiu andando furiosamente até o carro. colocou a bolsa e os sapatos no teto, se virou e eu estava bem atrás dela. Ela respirou fundo, segurou a parte de cima do nariz com o polegar e o indicador direito e apertou os olhos. Se voltou para o carro, pegou os sapatos, olhou pro lugar onde antes havia os saltos, olhou para mim, colocou os sapatos novamente no teto do carro, se virou novamente e quase tendo um ataque de nervos, falou com o dedo balançando em riste bem na minha cara: “Nunca mais faça uma coisa dessas! NUNCA MAIS! Você pode fazer o que você quiser comigo, com meu corpo ou com minha alma, mas JAMAIS toque em meus sapatos novamente! Entendeu? E me beija logo... porque eu estou triste, com raiva e com vontade de chorar!”.

Eu a peguei em meus braços e antes mesmo de conseguir sequer iniciar um beijo, ela desabou em meus ombros, chorando copiosamente e me abraçando. Ela ficou vários minutos nesse pranto, até que se acalmou e me beijou. Pediu desculpas e eu fingi não saber do que se tratava. Nos beijamos mais alguns minutos e fomos em direção à saída. Fui pegar sua bolsa e seus sapatos em cima do carro, e ela rosnou alto: “Não toque nos meus sapatos!”, puxei a mão com tanta rapidez e tanta força que parecia que tinha tomado um choque. Peguei a bolsa e sai andando na frente, ela pegou os sapatos sem salto e segurou em minhas mãos. O mundo poderia acabar naquele momento, nada mais importava. Eu estava caminhando de mãos dadas com ela. Por mais curto que fosse o trajeto, por mais sujo, por mais escuro! Não importava, eu estava caminhando de mãos dadas com ela.

Paramos perto da porta da frente, dava para escutar os carros passando pela rua. Ela pegou a bolsa e pendurou em seu ombro. E com a voz tremula e os olhos marejados, ela me perguntou: “E agora?”. Eu repassei todo um roteiro, um script onde ela me deu carona até o posto de gasolina e quando estava indo para a borracharia, foi abordada por desconhecidos que a encapuçaram e prenderam, colocando ela dentro da mala do seu carro e indo embora para um lugar onde ela não pôde identificar. Ficou presa por vários dias e vendada, e que depois de algum tempo escutou que ela não era quem queriam, e que iam soltar ela. E ela foi solta na avenida, próximo ao posto de onde fora raptada junto com seu celular. E então ela ligara para a família para virem buscá-la. Ela teria que fazer todo o teatro. Olhei no fundo dos olhos dela e perguntei se ela seria capaz. Ela com os olhos lacrimejando respondeu: “Sim, cada segundo que ficar longe de você, será um tormento. Cada metro distante dos seus braços será um inferno de angustias. Quando passar por essa porta, minha vida entrará em choque. Não vou precisar fingir.

Ela respirou fundo, enxugou as lagrimas e falou: “Estou pronta!”, eu peguei seu celular do bolso e entreguei a ela. Falei que era melhor ela se aproximar da avenida antes de ligar o celular. Ela colocou os dois sapatos dentro da bolsa e apertou o celular contra o peito e respirou fundo. Quando ela se virou de frente para a porta eu toquei em seu ombro e quando ela voltou a me fitar, e estendi minha mão e abri, mostrando-lhe a gargantilha de veludo negro.

Ela olhou e me perguntou o que era aquilo. E eu falei que caso ela quisesse voltar, eu a esperaria por 48 horas, depois eu abandonaria o carro dela próximo dali para que pudessem achar e entregar a ela. E depois iria recolher e destruir tudo no galpão e ir embora para nunca mais vê-la, se assim ela o desejasse. Mas se ela entrasse em contato antes das 48 horas, eu precisava saber se ela viria como amante, amiga ou submissa. Que se ela estivesse disposta eu poderia tratar ela como uma princesa, com pétalas e poesias por todos os dias de sua vida, com carinhos e mimos e dengos da hora que acordasse até mesmo depois de dormir, quando eu estivesse velando o seu sono. Mas precisava de sua submissão e entrega total, que quando eu me sentasse, ela sentasse no chão ao meu lado, com a cabeça apoiada em meu colo e abraçada em minha perna. Para receber carinho, afagos e carícias que uma dama precisa e merece.

Para saber como ela retornaria, eu pedi que se aceitasse ser minha submissa, quando nos encontrássemos novamente, que ela estivesse usando essa gargantilha como se fosse uma coleira. Um símbolo de meu controle sobre sua submissão. Um pacto de amor e fidelidade. Falei que do lado interno dela, havia uma etiqueta pequena com o numero de meu celular. Ela não respondeu nada, colocou a gargantilha dentro da bolsa e se virou para a porta. Eu fiz sinal para ela ficar quieta, olhei para o relógio: 11:07 da manhã, o movimento de rush do meio-dia na rua em breve iria começar. Eu abri a porta rapidamente e sai para a calçada.

Depois de tanto tempo sem ver a luz do sol, meus olhos ficaram momentaneamente cegos e me desorientei por alguns segundos. Após me recompor, olhei para ambos os lados e a rua continuava deserta. Chamei-a e falei para sair rápido e de olhos meio fechados, ela assim o fez e rapidamente eu dei um beijo no meio de sua testa e falei: “Adeus princesa...” e apontei o caminho em direção a avenida. Ela beijou a ponta dos dedos e depois encostou os dedos em meus lábios e se virou, apressando o passo e acelerando até a esquina sem olhar para trás. Lutando contra a vontade de correr atrás dela, entrei e fechei a porta. Novamente estava eu cativo em minha solidão, com uma quase certeza que nunca mais a teria em meus braços novamente.

Quando voltei pelo corredor, eu revi a imagem de nós dois juntos de mãos dadas vindo em minha direção, passei por entre a alucinação e a desfiz em fumaça. Parei ao lado do carro, onde ela ficou olhando alternadamente para os sapatos e para mim. Abri meus braços e apoiei minhas mãos na quina da capota como se ela estivesse presa entre meus braços e com as costas no carro. Lembrei de sua fúria por causa dos sapatos e comecei a rir, um riso leve e nostálgico que foi morrendo lentamente e dando lugar a uma absurda coleção de dores de angústias e tormentos. Eu tentava respirar, mas me faltava o ar, minha visão escurecia e meu peito parecia que explodia seguidas vezes, destruindo tudo que havia por dentro de mim.

Fui até a mesa e lá peguei sacos de lixo pretos, e fui recolhendo todo o lixo produzido ali por nós dois. Todos os restos foram recolhidos e levados até a porta da frente. Voltei e desforrei o colchão e troquei o lençol por um negro como a noite. Peguei mais um saco para por todas as roupas, faixas de seda, toalhas e o que mais tivesse sido usado por nós. Ao encontrar o roupão, levei-o ao nariz e aspirei profundamente, sentindo o seu cheiro que ficou impregnado no fino tecido. Lembrei-me de sua calcinha e a procurei até achá-la dentro do bolso de uma camisa. Peguei o roupão e a calcinha e me joguei no colchão, abraçando e cheirando aquelas peças, na angustiante falsa-esperança de senti-la mais uma vez ao meu lado. Olhei para o relógio e vi que já se passavam alguns minutos do meio-dia. Eu deitei e usando o roupão como um pequeno travesseiro, deitei e relaxei sentindo o cheiro dela sendo exalado da calcinha que coloquei logo abaixo de meu nariz.

Fechei os olhos e comece a me lembrar de coisas recentes e antigas. Lembrei-me quando a vi pela primeira vez, na praça de alimentação do shopping há alguns anos atrás. Estávamos os dois em cantos opostos e eu observava as pessoas passando e comendo feito gado. E numa dessas varreduras visuais encontrei os olhos dela fazendo a mesma busca de algo. Durante um breve intervalo de tempo, nossos olhares se encontraram e ficamos hipnoticamente parados por alguns segundos, que me pareceram horas! Ela quem se assustou e desviou o olhar, virando o corpo para trás para tentar ver algo que estava atrás dela. Vi seu corpo esguio, sua jugular distendida e seus lábios levemente entreabertos. Rapidamente me levantei e deixando toda minha comida em cima da mesa, me misturei às outras pessoas e me esquivando de seu olhar segui para o outro extremo, me colocando atrás e longe dela.

De onde eu estava eu podia observar-la, mas ela não podia me ver. Vi ela olhando por alguns segundos para a minha mesa vazia com tudo em cima. Depois começou a percorrer toda a área de alimentação com os olhos. Quando ela olhou para trás eu baixei a cabeça e ela não me viu. Ela terminou de comer e se levantou. Ao seu lado tinha um dispensador de bandejas, mas ela atravessou o mar de cadeiras, mesas e pessoas e foi por a bandeja no “dispenser” que ficava ao lado da mesa onde eu estava. Vi quando ela olhou para os lados, depois para a mesa e para a comida ainda fumegante. Olhou para os lados mais uma vez e saiu. Antes de sair completamente da praça de alimentação, ainda se virou e vasculhou até onde seus olhos alcançavam. Com uma cara de curiosidade, ela se virou e saiu.

Eu comecei a adormecer quando ainda lembrava-me de como havia a seguido dentro do shopping, dando voltas absurdas para me posicionar de forma que não ficasse suspeito e para que também não fosse notado por ela. As imagens foram se amalgamando e se desintegrando até que tudo escureceu e adormeci profundamente com o seu cheiro tão perto, tão presente.

(Continua)


Sob meu critério (Parte 08) – Marcelo Silva

Fui até bem próximo a ela e retirei o cadeado, abrindo sua coleira. Me sentei e acendi um cigarro enquanto ela se vestia em silencio, sem esboçar nenhuma reação. Seu vestido, agora mais curto, cobriu sua pele primeiro, depois ela colocou a calcinha, que fez um “plec” quando ela ajeitou as laterais.

“Feche os olhos, por favor.” Pedi e ela recuou um pouco amedrontada, sem me certificar se estava mesmo de olhos fechados fui até a parede fechei os olhos para me acostumar mais rápido com a mudança de luminosidade e apaguei a luz negra, acendendo duas grandes fluorescente brancas, que inundaram o ambiente com uma luz que mesmo por trás de minhas pálpebras fechadas podia ser percebida.


Creio que ela não fechou os olhos, pois quando acendi a luz branca ela reagiu com um “Puta que pariu! Tomar no...” e parou a frase no meio. Quando abri os olhos ela estava de cabeça abaixada, apoiada no balcão com os cotovelos, e com as duas mãos nos olhos.
Engraçado, agora iluminado, aquele galpão não parecia ser o mesmo lugar. Olhei para o relógio e eram 9:00 da manhã. O calor já estava forte e agora eu a via bem de perto, sem os tons da luz negras sem as cores das chamas das velas a serpentear sobre sua pele. Em seus braços ainda podiam se notar pequenas marcas da cera.

Seu cabelo havia perdido o brilho, sua pele estava opaca e o esmalte de suas unhas apresentava vários defeitos. Ela havia mudado? Eu havia mudado? Emoções conflitantes vagaram por alguns segundos em minha mente, até que ela abriu os olhos e se assustou quando me viu de frente a ela, bem próximo. Deu um pequeno recuo para trás e falou: “Ai! Que susto!” e desviou o olhar, evitando cruzar com o meu.

Seu olhar parecia menos intenso, e sua boca, mesmo tingida pela sua doce saliva, parecia ressecada. Seriam meus olhos ou minha desilusão se auto-protegia fazendo com que a enxergasse diferente?

“Onde está minha bolsa?” perguntou-me e ainda em silencio fui até seu carro e a trouxe. Me apoiei de pé numa parede e ela colocou a bolsa em cima do balcão e abriu. Pegou um batom e um pequeno espelho. Lentamente espalhou a cor por sobre seus lábios. Depois espremeu um lábio contra o outro para igualar os dois e com a ponta do dedo mínimo retocou o canto esquerdo.

O silencio era constrangedoramente sepulcral, ela guardou o batom na bolsa e pegou uma escova, começando a pentear-se. A escova por vezes se prendia a seu cabelo que após o jogo havia ficado embaraçado, fazendo com que ela apertasse os olhos num sinal de incomodo com a dor do desembaraço.

Guardou as coisas na bolsa, e vagarosamente vasculhou cada canto do salão. Passou a ponta dos dedos por cima do balcão e engoliu seco. Então, pela primeira vez desde que eu falei que ela estava livre, nossos olhares se cruzaram e então ela perguntou: “Meu celular?”, e falei que entregaria na sua saída. Ela então sentenciou: “Estou pronta! E agora?”.

Expliquei que agora existiam duas opções: sair dali e voltar para a vida dela, afirmando que foi seqüestrada e que foi libertada na rodovia próxima por não ser a pessoa que queriam (O que explicaria as marcas em seus pulsos e tornozelos e evitaria o constrangimento de ter que se explicar sobre o que passou).

A outra opção seria sair dali e ir direto à policia e me denunciar.

Ela baixou os olhos e respirando fundo perguntou se não existia uma terceira opção. Eu perguntei qual seria essa terceira e ela levantou os olhos marejados e falou: “Qualquer uma que eu pudesse te ver novamente.

Ela estava jogando comigo, só podia ser!

“E seu marido?”, perguntei. Ela me respondeu que não o amava mais e que não era de hoje. Eu, com sarcasmo e cinismo respondi entre os dentes: “É, essa conversa de amor é complicada, não é mesmo?”. Ela entendeu o sarcasmo e continuou: “No ultimo ano devo ter feito sexo com ele duas vezes, três no máximo.”. Imediatamente eu retruquei: “E amor? Também não fez?”. Ela me fuzilou com os olhos e me perguntou se aquilo era um novo jogo meu, com palavras. Eu fiz que não com a cabeça e falei: “Sem mais jogos com você. Eu perdi e você ganhou. Sem revanches.”

“O que eu ganhei?”, perguntou-me e respondi que tinha ganhado sua liberdade. Ela apenas respondeu com uma expressão enfadonha: “Há!!! Isso...”. Continuei falando, explicando que agora ela poderia voltar à sua vida, ao seu marido, ao seu trabalho, à sua família. Que a essa altura todos deviam estar loucos sem notícias. Ela me interrompeu e falou mais incisivamente: “Eu não amo o meu marido!”. Olhei para ela por alguns segundos e continuei. Falei que seus pais e sua irmã deviam estar preocupados, ela levantou as sobrancelhas, fez uma careta de como se estivesse com dó de mim e negativamente balançou a cabeça falando: “Não. Eles devem estar preocupados com o meu marido, com o que ele está sentindo. Na certa minha irmã já deve ter levantado a possibilidade de que eu tenha fugido com outro, afinal eu sou a louca da casa.”. Perguntei o que de tão mal ela fazia com o marido amado e ela explodiu em um grito, berrando a plenos pulmões: “Eu já falei que não amo meu marido porra!!! Que saco...”. Dei um pequeno sorriso e pedi para que continuasse. Ela falou que era tratada como uma rainha pelo marido, que tinha tudo que queria e que desde sempre sua vida tem sido de caprichos e mimos atendidos por todos. Contou-me de seus medos e inseguranças e mostrou-me marcas no pulso de quando ela tentou se machucar.

Perguntei sobre seu marido e ela me falou que ele era um anjo de pessoa com ela, que a tratava bem e fazia todos os seus gostos. Mas que nos últimos anos era como se ela morasse com um irmão mais velho, com alguém menos intimo que um cônjuge. Com um sorriso cínico perguntei: “Então ele é uma pessoa amável?”. Ela arqueou as sobrancelhas, respirou fundo fechando os olhos e rangendo os dentes perguntou? “Pode parar, por favor?”. E mais cinicamente retruquei que não havia feito nada. E ela com um sorriso de desdém, quase nojo; respondeu: “Não, você é um santo! não é verdade?”

Perguntei-lhe o porquê dela ainda estar casada, ela simplesmente respondeu: “É complicado...”, tentou me convencer que tinha uma dívida de gratidão com ele, que sua família era muito tradicional e jamais aceitaria uma separação, que no momento ele passava por uma séries de problemas e que seu trabalho estava num momento difícil.
Na verdade ela não queria abandonar sua zona de conforto emocional. Era óbvio demais! Mesmo se ele a tratasse como lixo, mesmo que sua família fosse a mais louca e moderna do mundo, mesmo se ela fosse dona de seu próprio negócio, mesmo assim ela não se moveria um átimo em direção a nada. Era confortável, útil e agradável para sua alma medrosa, viver sob o mesmo teto com alguém que não amava. Era muito óbvio! Ela poderia perecer em depressão e tarja-preta, que mesmo assim, jamais sairia daquele castelo.

Pensei que talvez ainda houvesse amor entre os dois, que talvez ela não conseguisse mais enxergar o amor, mas que ele ainda poderia estar lá. Mas me lembrei de tudo que percebi nela, em suas postagens, nos seus perfis da internet. Não, ela não o amava mais.
Ainda dividia uma vida com ele, mas por puro conforto, apenas para não ter que sair de sua zona de conforto. Acendi outro cigarro, minha mão esquerda repousava a alguns centímetros de sua mão direita. Com o balcão a nos separar e ainda pensando em seu casamento, Fui arrebatado de meus pensamentos quando ela falou: “Antes de ir, gostaria de jogar um jogo com você...” ela sorriu e continuou: “Entre amigos!!!”. Retribui seu sorriso e perguntei quais eram as regras do jogo e ela me respondeu que me falaria algumas palavras e eu responderia o que viesse na cabeça. Um jogo mental fácil e batido. Sem grandes problemas para mim. Apenas perguntei a duração, quantas perguntas ela faria. Ela me respondeu que quando eu não respondesse mais, ela iria parar, pois haveria ganho a partida. Sorriu confiante e me intimou: “Vai desistir? E olha que nem vou tocar em você!”, dei uma longa tragada no cigarro, analisei as possibilidades, e perguntei: “Quanto tempo para minhas respostas?”, ela respondeu que teria que ser imediatamente, mas que me daria uma “trela” e eu poderia pensar um pouco, mas se demorasse demais, perderia o jogo. Ainda falou que caso eu não tivesse uma palavra de bate-pronto, poderia falar uma ou duas frases para tentar explicar a sensação, Mas que já sabia que eu falaria o suficiente. Hoje quando penso no que me meti, admiro-me com minha atitude de entrar naquela arapuca. Era óbvio demais! Mas naquele momento eu não me apercebi e Aceitei.

Ela se espreguiçou e ajeitou o vestido passando a mão por praticamente todo o tecido, tentando desmanchar os vincos de amassado. Ao passar nas nádegas, se retraiu e se encolheu, dando um pequeno gemido. Obvio que ainda doía. Ela, num olhar misto de raiva e vingança, me encarou e falou: “Agora, você me paga!”. Avançou o torso por sobre o balcão e sem que eu esperasse, pegou o cigarro aceso de minha mão e o levou aos lábios. Mas ela não fumava! Era apenas uma cena. Ela pegou o cigarro e o jogou no chão. Grande erro meu, ter aceito aquela intromissão. Queria terminar logo aquilo e abri mão do controle sobre o meu vício. Erro absurdamente enorme! Mas ter aceitado entrar naquela armadilha já tinha sido o primeiro de uma série de erros que ainda viriam pela frente. Ela aproximou sua mão direita de minha mão esquerda e tocando-a com a ponta do indicador perguntou: “pronto para perder?”, e respondi com outra pergunta: “Pronta para jogar?”, sentindo um arrepio premonitório percorrer minha espinha. Deveria ter saído dali naquele momento.

Ela iniciou:

“- Infância?”
“- Solidão...”
“- Solidão?”
“- Sim, foi o que falei!”
“- Não! Solidão é a próxima palavra.”
“- Há ta... Infância então...”. Ela demonstrou com uma careta que não gostou da brincadeira, fechou os olhos e respirando fundo falou novamente:
“- Solidão?”
“- Minha vida...”
“- Sua vida?”. Neste momento eu me vi preso. Ela iria usar cada resposta minha como pergunta da próxima rodada, agora eu teria que pensar várias jogadas à frente. Não estava encurralado, mas ela agora conseguia sutilmente me direcionar usando minhas próprias respostas. Ela não precisava pensar ou arquitetar uma estratégia, bastava continuar fazendo de minhas respostas as próximas perguntas, para que em breve eu desse um passo em falso. Esperta! Muito esperta. Agora cada resposta minha eu tinha que pensar muito antes de responder. Agora eu era prisioneiro de minhas próprias palavras. Mas continuei o jogo, e respondi:
“- Escuro...”
“- Escuro?”
“- Segredo...”
“- Segredo?”. Desta vez me demorei mais fitando-a nos olhos e ela cutucou meu relógio no braço esquerdo, me avisando do tempo. Foi quando notei que ela estava contando as perguntas nos dedos das mãos. Senti um certo alívio pensando que não passaríamos de 20 perguntas, 20 no máximo!
“- Medo...”
“- Medo?”
“- Eu responderia solidão, mas acredito que não seja permitido. Então deixa eu tentar uma figura de linguagem.”. Agora eu estava começando a me sentir desconfortável de verdade, as paredes pareciam que estavam mais próximas a mim e o calor aumentava consideravelmente. Continuei:
“- Uma sensação de apreensão, que me afasta e ao mesmo tempo me chama em direção ao desconhecido. Uma angustia! Isso: Angústia!!!”
“- Angustia?”
“- Meu pai...”. Cai pela primeira vez. Sabia que agora eu estava em um terreno pantanoso e cheio de armadilhas comecei a procurar o maço de cigarros e o isqueiro, pedi um tempo e revirei tudo, xingando e nervoso. Ela impassível não desgrudava os olhos de mim e depois de se divertir bastante me vendo abrir um pacote que estava dentro da bolsa, e quase rasgar o maço na tentativa de abri-lo, falou:
“- Está aqui, em cima do balcão. Esteve ai o tempo inteiro a poucos centímetros de sua mão.”. Dei um riso amarelo tentando disfarçar meu nervosismo e blefei:
“- Vamos continuar?”
“- Sim! A não ser que você não queira.”, e com um sorriso cínico e vingativo falou: “Se estiver se sentindo desconfortável, podemos parar por aqui. Mas foram apenas oito perguntas até agora. Acho que superestimei você. Quer parar?”
Mentindo descaradamente respondi que não, que estava começando a ficar interessante. Ela respondeu:
“- Sim. Eu vi seu interesse em achar o cigarro quando chegamos na figura de seu pai.” E continuou sem dar trégua:
“- Seu pai?”
“- Exemplo!!!”, e sorri comemorando a possível saída daquele corner.
“- Exemplo?”
“- Conduta...”
“- Conduta?”
“- Caráter...”. Agora eu estava voltando ao centro do ringue, minha mente já havia se acostumado ao jogo seqüencial e já conseguia prever jogadas adiante.
“- Caráter?”
“- Origem...”
“- Origem?”

Meu cérebro respondeu “Mãe”, mas minha boca falou “Sexo!”, e nem prestei atenção na sua pergunta posterior. Achando que seria “Sexo”, já estava pensando nas três ou quatro respostas seguintes, me baseando na seqüência lógica que estávamos percorrendo. Mas ela quebrou a ordem...

“- Mãe???”

e sem nem ter ouvido a pergunta, achando que seria “sexo”, respondi:

“- Prazer...”

Ela riu, notando que eu havia caído novamente. E repetiu pausadamente, frisando as letras:

“- Mããããããeeeee !!!!”
“- Ué... mas e a seqüência?”
“- Estava fácil demais, quer desistir?”
“- Não, mas preciso de mais tempo se você ficar mudando as regras do jogo.”

Ela contornou o balcão, e me virei para ela. Sem seus saltos altos ela ficava pequenina na minha frente, seu corpo esguio mostrava sua estrutura óssea bem delineada pela pele branca. Seus cabelos sendo levemente agitados pelo ventilador ondulavam em minha frente e me jogavam seu perfume de suor. Tentando disfarçar e fugir daquela teia de desejo, eu me voltei ao balcão e perguntei se ela havia desistido, ela se aproximou de mim e próximo ao meu ouvido falou:

“- Não desisti, apenas vim lhe dizer que sobre ter mais ou menos tempo para responder, minha resposta é: SEM CONSEÇÕES!!!”

Eram minhas palavras anteriores, sendo usadas contra mim. Ela passou a mão nas nádegas, onde as marcas ainda doíam e me olhando com uma cara séria, sentenciou:

“- Eu lhe falei que você me pagava, lembra?
“- Lembro, mas estou fazendo isso por que quero, apenas por isso!”
“- Não bebê! Você esta fazendo isso por outros motivos. Mas é legal você se achar no controle, isso vai fazer você cometer mais erros.”

Apaguei o cigarro no balcão com tanta força, que as pontas de meus dedos perderam a cor. Expirei a fumaça de meus pulmões por entre dos dentes semi-cerrado lentamente, quase num suspiro, tentando controlar a vontade que estava de estrangular ela ali mesmo! Ela continuou:

“- Mãe?”. Eu tentei pensar, justificar, achar um meio de sair do canto das cordas, mas tudo em vão. Para piorar, ela começou a brincar com a bituca do cigarro amassado, rolando-o com a ponta dos dedos e falou: “Para alguém tão conhecedor do mundo feminino, achei que a figura de sua mãe não causaria tanto estrago. Pensei que a palavra PAI fosse fazer isso. Interessante e intrigante. Pena que paramos por aqui, você perdeu.”

Segurei-a pelos pulsos, de forma até estúpida e rude, e falei:

“- Não! Não perdi ainda...”
“- então tá: Mãe?”
“- Frigidez...”
“- Sexo?”
“- Prazer!!!”, respondi sorrindo.
“- Prazer?”
“- Dormir e acordar junto de quem se gosta...”
“- Gostar?”
“- Descobrir...”
“- Sentir?”
“- Viver...”
“- Morrer?”
“- Solidão.”. Neste momento ela balançou negativamente a cabeça e falou: “Bebê, você começou a ficar repetitivo. Já respondeu isso.”. Acendi outro cigarro e ela pediu para que quando terminasse, apagar e jogar longe, jogando também a bituca anterior que ainda estava em cima do balcão, pois ela não gostava do cheiro. Eu respondi com um olhar cínico que da próxima vez eu apagaria o cigarro na testa dela. Ela mais uma vez balançou negativamente a cabeça e falou: “Você não entendeu, esse não é um jogo de dor física, eu não pretendo atingir seu corpo, eu quero machucar a sua mente e seus sentimentos”. Me engasguei com a fumaça ao ouvir aquilo e comecei a tossir, tentando desesperadamente me controlar e não exibir meu espanto e minha completa e total falta de tato com aquela situação. Ela foi até a caixa térmica e trouxe uma garrafa de água com gás, estendi a mão para pegar pensando que ela havia trazido para mim. Ela abriu a tampa e começou a beber enquanto eu me asfixiava em minha própria saliva e fumaça.
Ela parou no meio da garrafa e me falou: “Está com sede? A caixa térmica está cheia de água, isotônicos, refrigerantes, cerveja. Sirva-se! Faça de conta que esta na sua casa...”. E fechando os olhos continuou a despejar a água em sua boca e sorver vagarosa e deliciosamente todo o conteúdo da garrafa transparente. Com a garganta em chamas, fui até a caixa térmica e peguei uma cerveja. Abri e tomei praticamente de uma só vez. Aliviando as labaredas que pareciam brotar de minhas entranhas. Voltei a minha posição no balcão, e sem demora ela repetiu:
“- Morrer?”
Não sei de onde saiu aquela palavra, mas quando me dei conta ela já estava a meio caminho de seus ouvidos:”
“- Amar...”
“- Amor?”
“- Até algumas horas atrás, um sonho bobo e infantil...”. Ultima queda, agora minha face estava definitivamente afundada na poeira. Me sentia um nada, mas algo me compelia a continuar com aquela tortura. Há pouco, no fundo de meu peito, eu ainda acreditava que podia reverter aquela situação, mas depois de minhas ultima palavras, me peguei olhando para os lados, numa clara intenção de querer sair correndo dali.
“- Desilusão?”
“- Você...”
“- Eu?”
“- Sim!!! Você!”, berrei bem alto! “Não entendeu ou está surda? Desilusão me lembra você. Satisfeita?”
“- Mas eu não estava confirmando se desilusão te lembrava a mim. Eu estava falando a palavra seguinte! Melhor você parar de beber. Não vá culpar a cerveja pela sua performance, ok?”. Joguei a garrafa ainda meio cheia na parede, que explodiu em cacos e espumas que lentamente escorria pela parede, numa inútil tentativa de se segurar acima do chão. Assim como eu inutilmente também tentava não me afogar, afundando naquele jogo infernal, desconfortável e irremediavelmente perdido. Ela se assustou um pouco com a cena e brincou: “Que violência bebê! Vamos lá... a palavra é EU! O que te faz lembrar?”. Desviando meu olhar para o chão, falei:
“- Tudo de bom que possa existir, toda a beleza de todas as florestas em um único jardim, o sol e a lua, as estrelas e o cheiro da grama cortada, o ar que respiro e a luz que me faz enxergar. Você é o raiar do sol, quebrando a barra em uma manhã nublada, você é a dor deliciosa de se reencontrar um amigo, uma alma gêmea depois de várias vidas de desencontro. Você é a luz que ilumina os caminhos insípidos e estagnados de minha mente tortuosa. Você é o tudo, o nada e a mistura de todas as coisas, cores e sabores...”

Quando levantei e abri os olhos, ela não estava lá e me assustei ao perceber que ela estava de pé ao meu lado. Ela segurou minhas mãos nas suas e sentindo o calor de sua pele eu comecei a naufragar lentamente. E ela continuou:
“- Você?”
“- Um navio fantasma a vagar a tua procura, um holandês-voador assombrado por todas as possibilidades que sempre têm você nelas, um farrapo inútil sem forças para viver sem você, teu servo, teu escravo, tudo o que você quiser que eu seja...”

Agora suas mãos estavam sobre meus ombros e sua boca próxima a minha face, por um breve momento pude sentir seus mamilos intumescidos tocarem meu corpo por sobre a minha camisa preta. O perfume de seu suor se misturava com o cheiro de mulher que subia de entre suas pernas e me embriagava, tornando-me cativo, imóvel e hipnotizado. Ela continuou:
“- nós dois?”
“- um sonho! Uma perfeição, uma inspiração. Um lugar de paz e sossego, um porto seguro para tudo de bom e maravilhoso.”
“- Uma mentira?”
“- Que eu não te amo, que tudo era apenas um jogo...”

E a abracei ternamente, puxando seu corpo esguio de encontro ao meu peito, fazendo ela ficar na ponta dos pés e se pendurar em meu pescoço. Não havia excitação, apenas um doce sabor de algo que nunca experimentei, uma saudade de algo que nunca havia vivido; uma morte boa, isolada do resto do mundo pela sensação maravilhosa daquele abraço. Minha cabeça girava, meu corpo girava, o galpão inteiro girava. Eu conseguia nos ver de longe, como se eu fosse um voyeur de nós mesmos, eu vi e revi aquele abraço de diversos ângulos, podia focar minhas lentes imaginarias nos movimentos de seus dedos em meu pescoço, nos meus braços que seguravam sua respiração; na sola de seus pés que se contraiam e expandiam em busca de equilibro. Ela me olhou no fundo dos olhos e falou: “Eu nunca te conheci, nunca te vi, nunca nem sonhei com você. Mas eu te esperava! De alguma forma eu sabia que você existia! Que você não era apenas uma ilusão que meus olhos procuravam na multidão. No fundo eu sabia que você viria, sem nos conhecermos, sem nos sabermos; sem nada! Eu nunca te vi antes, mas te amo desde antes de nascer, eu já te amava antes de amar a mim mesma; eu sempre te amei sem nunca ter te conhecido meu amor!”.

Então ela deitou a face em meu ombro e suspirou profundamente, relaxando seu corpo que agora era suspenso pelos meus braços e abraços. Beijei sua face delicadamente, trazendo seus cabelos presos em meus lábios. Respirei fundo próximo a sua orelha, fazendo ela gemer baixinho. Beijei e cheirei sua jugular, sentindo a palpitação de nossos corações pulsando juntos em uma única e perfeita harmonia. Segurei sua nuca pelos cabelos e exibi sua face de frente para a minha. Ela de olhos fechados e tendo as vértebras do pescoço dolorosamente forçadas para trás falou: “Eu sou tua, sou sua de corpo e alma. Quero te dar prazer e nunca mais sair de teus braços. Quero ser tua gueixa, tua escrava, tua submissa feliz e obediente.”. Então ela entreabriu os lábios e pediu: “Me beija!” e lentamente fui aproximando meus lábios dos dela, que me esperavam num doce sacrifício. Toquei-os delicadamente e depois lambi todo o contorno de sua boca, Beijei seus cantos dos lábios e entreabri sua boca com a minha. Beijei seus dentes e invadi sua boca com minha língua ávida e sedenta dos sabores daquela mulher! Abracei-a com mais força, forçando o ar para fora de seu peito, ergui ela do chão durante o beijo e a sentei no balcão. Eu abraçava seu torso como se ela fosse a ultima tábua de salvação em todo o universo, como se minha vida dependesse daquela proximidade, como se nada mais importasse. Elevei meu olhar até o dela e falei: “Eu te amo tanto...”, ela respondeu: “Eu também te amo tanto amor meu, e sempre vou te amar. Mas esse jogo você perdeu.”

E enlaçando seus braços e suas pernas no meu corpo, me beijou com dezenas de “selinhos” pelo rosto, enquanto pedia com sua voz de garotinha mimada: “Me leva para o colchão?”

(Continua)