sábado, 26 de janeiro de 2013

Ode à Luiza


Ode à Luiza , minha musa ; minha princesa encantada.

A noite cai, bêbados passam, amantes de sua própria loucura. O relógio marca 21:37 e nada dela.

Minha musa surge do nada e na tela fria eu espero que suas letras apareçam, trazendo de volta uma alegria juvenil que há muito não sinto. Minha musa que me inspira não me mostra a face, e na inspiração, respiro o gás venenoso do tédio e da solidão. A musa se esvai por entre meus dedos.

Ela nada me prometeu ou garantiu, por mim ela nada fez. Mas sei que depois dela jamais serei eu mesmo. É mística a sensação de bem-estar que ela me proporciona, é como se o tudo e o nada se mesclassem num balé louco, sem cores; sem formas.

Sua voz é de menina, e o seu sorriso também. Ela canta palavras doces e pela linha telefônica escuto os músculos de sua face a formarem o mais doce e belo sorriso que eu jamais nunca vi.

A noite continua a cair, os carros passam e as nuvens no céu escondem nossa pequena estrela, a estrela que me guia até os pensamentos na musa. No andar de baixo, uma família discute algo, a gata no meu teto faz questão, através de seus miados, de avisar a todo o quarteirão que está no cio. O apito do guarda a se perder na imensidão desta noite vazia, me faz refletir sobre minha vida. Vida minha, por que me entregas tão belo presente na forma de minha musa, só para depois obstacolar meu caminho pela falta que ela me faz.

Quando fecho os olhos, imagino sua pele macia de seda do oriente a verter os suores de uma excitação provocada por mim. Imagino sua pele como a pele de um pêssego maduro, ela me confidenciou que os seus pêlos são dourados e os olhos castanhos. Será que já a encontrei e não me dei conta? Será que o destino já não nos colocou bem juntinhos, num ônibus, num bar; no ar?

Como disse o poeta, “disparo balas de canhão, é inútil pois existe um grão-vizir...” , por mais que eu tente acertar o seu coração, ele permanece intocado, resguardado pelo amor de seu companheiro. Espero que ela seja amada, que ela tenha poesias e flores ao despertar. Desejo que todas as suas noites sejam de prazeres e luxurias para que ela nunca se sinta infeliz. Rogo aos céus para que ele a faça muito feliz, que ele torne sua vida um mar de rosas, que ele nunca a magoe com palavras duras e carinhos de mercador, que ele nunca, nunca mesmo pense em traí-la com outra.

Desejo a minha musa, toda a felicidade deste e de outros mundos, pois a vida as vezes parece uma carroça louca, que desce este abismo sem fim num tropeço de sensações multicores, onde temos tempo apenas de olhar pela lateral e ver o que estamos perdendo. E nesta jornada ao fim do buraco estamos todos no mesmo barco, separados pelas classes, castas e credos nossos de cada dia.

Um dia ao embarcar mais uma vez nesta descida, encontrei a minha musa, ela procurava algo que eu poderia oferecer, ela queria prazer.

De meu canto, observei com o canto de meus olhos o canto suave de sua voz. E neste canto de encantos, encontrei-me dominado e apaixonado pela musa, pela deusa de voz doce.

Fecho os olhos e imagino meu peito devastado pelo sopro nuclear da saudade arrasadora que ela me faz, vejo prédios, passam praças; cantam vozes, mas ela não chega até mim. Vasto mundo vasto sem porteiras, por que me fizestes assim? Que fiz para merecer este coração apaixonado e esta alma de poeta, regidos por um juízo de passarinho? Por que eu tinha que vir a este mundo com esta necessidade tão grande de trocar amor com as pessoas?

Nenhuma resposta do vasto mundo, fica apenas a certeza de que nunca mudarei, pois a poesia é meu pão de cada dia, o amor é o ar que respiro, e minha musa é a mulher que hoje desejo.

22:14, na minha caixa postal reside apenas o vazio de sua ausência, no meu peito habita a solidão cruel de sentir-se só estando acompanhado, a terrível vontade de ser amado por alguém e tendo o amor mais sublime que poderia desejar. Por que somos assim? Será que é inerente à humanidade querer sempre mais? Será correta esta busca incanssável pelo novo, pelo desconhecido; pelo amor?

De onde vem esta minha paixão pela musa desconhecida? O que ela fez? Qual poção mágica ela me enviou pelo e-mail? Por que sinto esta falta de ar quando penso nela? De que é feito a matéria dos sonhos? Por que essa louca vontade de tê-la em meus braços?

Não sei as resposta, só sei que as vezes penso que nunca a terei, que nunca a verei; pois a mesma teima em esconder-se de mim, talvez pelo medo; talvez por não querer nada além da amizade e respeito que sempre fiz questão de mostrar que nunca mudarão.

Não sei de nada, só sei que nada sei; só sei o que ela me deixa saber e a cada centímetro que ela me presenteia, fico cada vez mais nas nuvens, fico cada vez mais apaixonado pela musa sem face, pela mulher sem rosto.

As vezes tenho gana de quebrar o vidro do monitor e entrar conexão adentro, à caça da pantera negra que se esconde na escuridão do desconhecido, já não penso mais direito, já não sinto mais nada, apenas resta a desilusão de saber que jamais seremos apenas um do outro, pois conhecemos os limites desta nossa fantasia. Sabemos que já o somos felizes com nossas famílias, mas é sempre bom sentir-se vivo, é ótimo saber que podemos conquistar e sermos conquistados. É maravilhoso saber-se feliz, mesmo estando no perigoso fio da navalha de uma aventura de sexo e prazer, de amor e romance.

Há... minha musa... onde andarás agora???

Marcelo Manoel da Silva
Caruaru, 30 de novembro de 1998
Noite fria e solitária...
22:43

Uma carta para uma capsula do tempo, organizada pelo amigo Henio Barros.


Em setembro de 2000, um amigo (Henio Barros) organizou uma "capsula do tempo" onde colocariamos cartas e abririamos dez anos depois.
Esta foi a minha carta:


Caruaru, Rua 73 numero 25 COHAB III, 07 de setembro de 2000

Oi cara!!!! Estás vivo???

Espero que sim!!!

Olha, com certeza aconteceram muitas coisas neste 10 anos, coisas previsíveis e acontecimentos inimagináveis.

Espero que a vida esteja melhor para todos nós, espero que Joãozinho, agora com 16 anos esteja de bem com a vida, com saúde e bem encaminhado, espero que Pedrinho tenha vencido todas as barreiras que a vida impôs a ele, espero que minha amada Rildinha tenha conseguido a paz que tanto almeja em sua vida, que sua vista esteja melhor ( afinal a medicina deve Ter avançado muito neste dez anos ). Quero encontrar minha família junta, unida e se amando.

Meu pai e minha Mãe, gostaria de vê-los com saúde, assim como minha irmã e minhas sobrinhas Renata, Kauanne e Tainã .

Como será que estarão o pessoal da casa de Rilda??? Sogro, sogra e cunhados(as) ???

E minha profissão??? Ainda sou programador??? Estarei vendendo tapioca??? E este pentium 3 500 mhz com 64 de ram e hd de 4 giga??? Acho que agora deve ser peça de museu... e por falar em info, será que bil gates consegui resolver todos os problemas do windows 2010???

Espero que minha vizinha tenha melhorado e deixado de maltratar a filha dela que agora esta aqui brincando com Joãozinho.

E meu carro??? O velho Del Rey 1984??? Qual o transporte que estarei usando agora???

Enio, você teve uma ótima idéia ao fazer esta capsula, você tá vivo também, né??? Espero que sim...

E meu irmão Adriano??? Espero que a felicidade tenha se agregado de vez a ele e a família dele.

Olha Marcelo, espero que você tenha resolvido teus grilos e tuas manias, afinal agora você tá com 41 anos e já deve estar na hora de começar a criar juízo, né???

Espero que você continue com fé em Deus e em seu filho, Jesus Cristo. Rogo aos céus que Cristo tenha iluminado o coração de Rilda e a tenha feito enxergar o mundo a sua volta, com os olhos e o espírito.

Gostaria de por nesta capsula, meus anseios e desejos de um mundo melhor, juntar o abraço de meus filho com o beijo de minha esposa e embalar com a amizade de meus amigos e guardar aqui dentro para se hoje ( dez anos depois ) me faltasse isto, eu receberia agora.

E a AIDS ??? já existe cura??? Ainda morre muita gente de fome?? E de sede??? A barragem de jucazinho resolveu mesmo nosso problemas neste dez anos??

Bom, vou ficando por aqui senão não paro mais... obrigado Senhor por esta oportunidade de estar aqui vivo hoje escrevendo para mim mesmo daqui a dez anos. Obrigado meu Deus, por minha família, por Rilda em minha vida, pelos dois maravilhosos frutos desta união, por tudo...

Obrigado Senhor...

Marcelo M. Silva

Carta para Rilda


São Paulo, 12 de junho de 2002

Rilda,

Hoje é dia dos namorados, e lembrando de todos os anos que passamos juntos, decidi te escrever. Mas não se preocupe: não é uma carta romântica, pode ler ela até o fim.

Hoje, depois de ver você tão nervosa naquela audiência com o teu advogado na prefeitura, eu pude ver todo o mal que te causei, toda tua vida que estraguei.

Onde foi parar a sua garra? A sua determinação? Que brilho de fúria e ira era aquele que habitava em teu olhar naquela audiência?

Eu destruí, não foi mesmo?

Sinto-me culpado e cheio de remorsos por ter sido a pessoa responsável pela destruição de algo que pensei ser inabalável.

É uma pena que não exista mais espaço para que eu possa te ajudar. Agora somos ex-marido e ex-mulher. E o pior é que você não me quer como amigo.

Pena você não se lembrar do porque eu ter te pedido um tempo para tentarmos retornar (Era para te proteger de algo que poderia te fazer muito mal, lembra?), pena você ter atropelado certos acordos e ter começado esta guerra onde não existirão ganhadores. Sinto muita falta de nossos filhos e de tua atenção para comigo. Hoje você não tem nem tempo para me falar sobre os processos de vida de João e Pedro, hoje você não tem tempo nem atenção nem para me falar que esta pensão mínima, exígua e ridícula que é tudo que por hora posso pagar esta atrasada.

Hoje eu ainda choro pelas dores desta ruptura que ocorreu em nossas vidas. Depois de você passaram muitas mulheres pelos meus braços, mas ainda nenhuma me fez esquecer o amor terno e fraterno com o qual regamos as flores de nossa vida. Mas eu estou e estarei sempre em busca de alguém para amar, para ofertar flores e poesias, para pintar-me de palhaço e tentar alegra-la nas horas tristes.

Hoje ainda choro por não poder mais te ajudar com tua visão, sofro com a falta da voz de Joãozinho, morro com a minha distancia do processo especial e dificilíssimo de Pedrinho. Aliás, você esta de parabéns de novo, como sempre você mostrou que é uma grande educadora e conseguiu através da vontade de Deus e de SUA força e determinação, fazer com que Pedrinho andasse aos 02 anos, contrariando os prognósticos médicos inicias que diziam que isso só ia ocorrer aos 04 anos.

Saiba que estás em todas as minhas três orações diárias, você foi a mulher de minha vida, a mulher que mais amei e nem vou tentar por outra em teu lugar, pois este lugar não será de mais nenhuma. Mesmo sabendo que nunca mais o destino nos colocará nos braços um do outro, sonho em ver teu sorriso amigo e franco, tua risada de olhos fechados, tua voz doce e meiga. Sonho com tudo isso que sei que és capaz de ofertar a um estranho, mas não és mais capaz de me oferecer. Mas eu apenas queria que você soubesse que um dia eu te amei mais que amava a mim mesmo, mais que amava minha família, mais que amava até meus filhos... Você não se lembra que não queria ver nossos filhos recém-nascidos até saber de você? Ate saber que você tava bem?

Mas isso é passado, em parte... Pois até hoje eu te respeito muito. Embora você não acredite, eu tenho um carinho e um respeito por você que seriam necessárias milhares de cartas como essa para expressar um milésimo do RESPEITO que tenho por você, por suas idéias, por sua luta e sua garra.

De quem foi a culpa? Minha!! Eu mesmo já admiti diversas vezes, até na presença de teu advogado. Ainda hoje quando alguém tenta te rebaixar perante meus olhos, eu brigo e exijo respeito por você que foi a mulher de minha vida e a mãe de meus filhos. Não gosto quando alguém vem tentar diminuir tua imensa luta por nos dois, depois por nos três e finalmente por nos quatro.

Lembrar-te ou lembrar-me de tudo que fostes capaz, de tudo que fizestes para me realizar enquanto homem? Enquanto profissional? Enquanto pai? Enquanto ser humano? É besteira, pois só é preciso lembra o que foi esquecido e nunca esqueci nada, sempre fui capaz de lembrar de tudo o que você me proporcionou.

Nossos caminhos foram definitivamente entrelaçados pelos nascimentos de nossos filhos. Mas agora que o MEU caminho desviou-se do TEU caminho, temos a obrigação de tentarmos nos respeitar, independente do dinheiro que ainda não posso dar a meus filhos.

Agora somos não mais que inimigos, somos apenas dois estranhos que estão destruindo as boas lembranças e as maravilhosas edificações erguidas, construídas e plantadas durante 12 anos. 12 anos é uma vida minha amiga! Uma vida que hoje vejo que destruí, vejo sua vida que você desperdiçou ao lado de alguém que fez de tudo para te merecer, mas não foi capaz... não fui capaz... pena... que pena...

As nossas musicas ficarão em nossa estória minha amiga, não adianta tentarmos afogar nossa vida passada pois ela foi feita muito mais de momentos maravilhosos do que de brigas.

Quem sabe um dia, ainda não nos encontremos com nossas vidas refeitas em caminhos diferentes, cada um com sua nova vida pela frente. E então daremos boas risadas e lembraremos ternamente de tudo de bom que vivemos. Nesse dia, eu poderei pegar em tuas mãos, olhar em teus olhos e te agradecer e te chamar de minha amiga... de minha melhor amiga.

É pena que hoje, ninguém se lembra que sou pai de João e Pedro, nem uma fotografia eu tive direito de ter tido no aniversario de meu filho. Não tive direito de saber como estava o andamento do processo de Pedrinho. Até para ficar junto dele era difícil, pois sempre aparecia uma tia ou alguém que o vê quase todos os dias mas mesmo assim o levava de mim, que quase nunca o vejo. Você não tem noção da dor que me afliges quando eu ligo para sua casa a procura de noticias e você me desliga na cara, fica calada sem responder e depois, tira o fone do gancho.

Mas depois de te ver nas audiências, depois de escutar o que tinhas a me dizer, eu sei que pela sua ótica eu recebi até mais do que merecia. Pena minha amiga, pena que as flores silvestres com as quais eu construía buquês para você murcharam, secaram e morreram sem deixar sementes em tua memória.

É uma pena que na sua família exista um histórico de reclusão e distanciamento de ex-maridos, mas tudo bem... sei que pela sua ótica eu fiz, faço e farei por merecer. Mas também sei que um dia você verá tudo isso de outra forma, você verá que foi muito doloroso ver você indo embora, ter voltado para levar nossas coisas, ter voltado para desocupar a nossa casa de minha presença. E foi muito doloroso também estar no sertão e você ligando o tempo todo, sentindo que já estava me perdendo... e já começava a ficar tarde demais para nós dois.

Sabe onde eu fui mais canalha? Quando ia visitar você e as crianças e deixava que o clima acontecesse a acabássemos um nos braços do outro mais uma vez. Nada mais covarde do que dar falsas esperanças a alguém que nos ama. Mas a culpa não foi apenas minha, éramos os dois a morrer de saudades e de amores. Éramos nós dois que lembrávamos da mais bela estória que nenhum autor jamais poderá escrever melhor. Pena... tudo isso acabou.

Mas oro a Deus que um dia, possamos rir de tudo isso, com nossas vidas reconstruídas e nossos filhos fortes e saudáveis. Naquela manhã em que você me falou que havia piorado tua visão e que não estavas tendo condições de medicar-se da forma correta e mostrasse-me teus braços com marcas pela luta gloriosa mas não menos penosa de carregar Pedrinho para todos os lugares por não ter mais um companheiro para te ajudar (se é que eu fui companheiro o suficiente para te ajudar um dia). Naquela hora eu pedi SINCERAMENTE a Deus que me tirasse um olho e um braço, pois eu preciso muito menos do que você.

Se você vai acreditar em tudo isso que te falo agora??? Não sei minha amiga... mas sei que eu não podia mais esperar para te dizer tudo isso, para te explicar que você é a pessoa que mais admiro, que mais sinto saudades em minha vida, que você é a pessoa mais digna, honesta, leal e sincera que um dia já conheci.

Mas...

Hoje te vejo como um leve e cansado reflexo da força de leoa que você era, um pálido reflexo da guerreira que enfrentava universos para defender suas idéias, seus próximos e principalmente: para me defender.

Eu acabei com tudo isso em você minha cara? Um dia teremos a resposta e quando isso acontecer, saiba que estarei pronto e resignado para arcar com todas as penas possíveis e impossíveis com as quais poderei ou serei castigado. Mas quem sabe um dia não possamos descobrir que nesta vida louca que construímos não houveram culpados?

Mas no momento, as evidencias apontam para mim como o único culpado por tudo.

Você, uma atriz perfeita e premiada que afastei dos palcos e que a única vez que tentei ajudar fazer por onde você voltar, você estava aprisionada em uma cidade onde nunca poderia atuar devido às cabeças minúsculas que por aqui existem.

Isso não me causa orgulho ou qualquer outra coisa do tipo. Isso apenas destrói tudo que pulsa vivo dentro de mim, eu não seria um centésimo do que sou hoje se não fosse por você, mas em contrapartida eu sei que se você hoje não é um milésimo do que foi um dia, eu sei que a culpa é toda minha.

Você não tem noção de um monte de coisas, ainda hoje eu procuro informações sobre tua visão e sobre a trisonomia 21 de Pedro e qualquer coisa que se relaciona a João, a Pedro ou a você. Mas como te dar isso??? Será que você iria aceitar ou faria como fez com o livro que Jardelita deu PARA PEDRO?

Sei que você não precisa de nada que venha de mim, você já deixou bem claro que eu apenas tenho deveres para com meu filho, mas é difícil para mim esquecer de tudo o que você fez por mim e hoje eu não posso nem tentar retribuir nada para você.

Achei ótimo saber que seu pai limpava o coco de Pedrinho, mesmo sabendo que aquilo foi colocado para me ferir, mas para mim serviu como paliativo para a minha preocupação com a tua vida nestes dias difíceis. Que bom que aquela pessoa que você tanto falava que destruiu a vida de sua irmã e que causou tanto sofrimento a sua mãe e tantas outras estórias que VOCÊ me contava, hoje está tornando-se mais humano e mais próximo. Fico feliz por ele e este exemplo me serve como referencia para que um dia eu possa ser melhor do que já fui. Não pense que fico infeliz por ele estar sendo a imagem masculina para meus filhos, ele foi um bom militar e isso já é mais que suficiente para me orgulhar do futuro de meus filhos.

Mas eu também me lembro de como ajudei com Joãozinho, das mamadeiras na madrugada, dos banhos, das colocadas para dormir, das fraldas que sempre limpei. Mas isso também não foi mérito meu, foi mais uma das milhares de coisas maravilhosas que aprendi contigo. Ainda hoje, eu uso teus mandamentos de como agir com crianças, de como agir com higiene e sempre me pego pregando estes ensinamentos que você generosamente me passou.

Obrigado Rilda, do fundo de meu coração eu só tenho a agradecer-te por tudo o que me fizestes. Gostaria de poder provar a você o quanto é duro saber de tuas dificuldades e não poder te ajudar mais que isso, saiba que agora que estou em São Paulo, lá farei de tudo para reconstruir minha vida do zero novamente, e quando isso começar a acontecer, eu farei de tudo para melhorar a vida de vocês, pois eu sei que o que eu fizer por você também, eu estarei fazendo pelos meus filhos.

Saiba que nunca esquecerei o que fizestes por mim e também não esquecerei jamais todo o mal que eu te causei. E lutarei para que um dia eu possa ao menos poder olhar para você com olhos de vencedor novamente. E nesse dia você saberá que você teve participação nesta minha nova vitória. Pois o que aprendi com você não se perderá nunca.

Faça o que achar melhor, eu concordarei. Já te fiz sofrer o suficiente e agora espero poder retribuir e compensar de alguma forma.

Se eu pudesse voltar no tempo, até aquele 13 de janeiro, eu pegaria a mesma carona, iria à mesma cidade, subiria à mesma mesa de luz, iluminaria a mesma mulher, faria o mesmo do-in, e começaria tudo outra vez. Pois não seria louco desperdiçar a chance de poder ser feliz novamente por tanto tempo o quanto eu fui ao teu lado. Não seria louco para imaginar um mundo sem João e sem Pedro, preferia mil vezes a pior das mortes que conjecturar a não-existencia de meus dois filhos.

Hoje estou num lugar distante, numa cidade fria que você detestaria. As pessoas são distantes por aqui, o tempo não para, o céu de estrelas some com as luzes da cidade grande e os horizontes me foram tomados pela miríade de edifícios que tiram-me o privilegio do nascer e do por-do-sol.

Obrigado minha querida amiga, nunca esqueça que antes de sermos amantes, casados ou namorados, sempre fomos AMIGOS, e eu sei que um dia essa amizade voltará, revigorada e fortalecida.

Você foi a mulher de minha vida, e mais que isso: você sempre foi A MINHA MELHOR AMIGA. Tudo bem que não sejamos mais namorados, noivos, amantes ou casados... Mas por favor, seja minha amiga.

Fica com Deus.

Marcelo Manoel da Silva
Pai de teus filhos
Teu companheiro e guardião e AMIGO durante 12 maravilhosos anos

PS.: Você pode pensar que é muito fácil para mim falar tudo isso, sem estar participando da enorme batalha que é criar dois filhos sozinha, ainda mais com os agravantes de tua visão e da situação especial de Pedrinho. Saiba que não é!!! Sinto muita falta de meus filhos que bem ou mal eu tinha perto de mim. Sinto muita falta da mulher que eu amei MUITO e hoje além da distancia física existe uma distancia psico-sentimental de milhões de anos luz. Saiba que ter a ciência de que nossa estória em comum REALMENTE acabou, não me deixa nem um pouco feliz, mas a vida continua. Afinal você também me ensinou que não podemos perder tempo lambendo as feridas e tirando o pó da queda, temos que continuar sempre em frente e tratando destes detalhes DURANTE a caminhada.

Covarde... Disso eu sei que não passo.


Covarde... Disso eu sei que não passo.

Alguém sabe o que é nunca poder contar com ninguém? Perder as esperanças nas pessoas mais próximas??? Ter medo de ter que precisar e depois ser cobrado??? Ser humilhado??? Não, tenho certeza que poucos sabem do que eu falo.

Muitos me perguntam o por que do meu gostar da solidão. Poucos sabem o quanto a solidão me protege deste mundo mesquinho, sem graça e cheio de taxas, preços e valores a serem cobrados e recebidos e pagos e extirpados.

Lembro-me de minha infância, onde meus colegas me elegiam para ser o idiota da turma, aquele que a quem sempre cabiam as piores troças, os piores apelidos, as piores humilhações. Lembro-me de ser o “esquisito” e por gostar de leitura ganhei a alcunha de “ Cientista” numa forma velada de me chamarem de louco.

Minha adolescência, repetindo minha infância em perseguições. Meus novos e antigos amigos a me roubarem os amores, a me excluírem de tudo em que eu não pudesse ser (in)útil. Minhas incertezas desta fase foram esquecidas, pois não havia espaço para isso. Eu só podia sofrer, fugir das normas, revoltar-me e sonhar com um porvir em que eu poderia mudar isso, em que eu seria o rei!!! O ultimo dos baluartes da justiça e puniria os culpados de minha vida tão linda e nutrida aos olhos dos outros. Mas tão infeliz de se ver de dentro de mim mesmo. Eu escutava os comentários de que nunca seria ninguém, que não daria para nada que prestasse porque não estudava, não se vestia, não falava, não vivia dentro dos padrões distorcidos da saudade de tudo que nunca sentiram, tiveram ou viveram.

Mas eu cresci!!! Trabalhei!! Amei!! Lutei!!! Virei um adulto com ilusões mil, para que o mundo a minha volta fosse moldado de acordo com meus padrões. Virei um adulto que detestava crianças, principalmente as que me lembravam a mim mesmo. Virei um adulto sem família, sem irmãos, sem amores, e no lodaçal das minhas tristezas que ninguém nunca conseguiu enxergar, tentei afoguei a criança que um dia habitou em meu peito. Virei um adulto rancoroso e ressentido. Larguei a mão de Deus e tornei-me o mais cético dos homens.

Mas ninguém é imutável, e a maturidade chegou para mim. Descobri o quão era maravilhoso trepar por amor e só por amor trepar, senti o sabor de ser leal e sentir-se amparado, vi o quão ridículo era viver de mentiras e de ilusões mesmo acreditando ou não nelas.

Conheci a mulher de minha vida, com ela eu viajei, ela me ajudou a largar os restos das mentiras de minha criação. Me amou como ninguém jamais amou, me deu forças para lutar, para trilhar, para ser eu mesmo sem ter que se preocupar com planos de ninguém. Ela me protegia, me aninhava em seus braços que foram para mim um porto seguro. Me deu dois filhos maravilhosos, me deu tudo o que o dinheiro, o estudo, e o tudo enfim nunca poderiam me proporcionar. Deixei de ser adulto e virei um homem. Fiel, Amigo, Carinhoso, Atencioso... Mas por causas nunca explicadas em detalhes reais, tudo isso acabou. E fui considerado o culpado. E a mulher que amei tanto me chamou de traidor, de mentiroso, de ausente, de canalha, de cafajeste e pegou tudo que construímos e partiu, levando meus filhos.

Viajei pelos meus sertões, procurei amores, vivi lutas, perdi amigos, morreram parentes, nasceram outros. Descobri que poderia transformar meu trabalho em lazer e meu lazer em uma forma de trabalhar. E voltei para a casa de meus pais.

Morando em uma casa que nunca foi a minha, descobri o quanto insignificante eu era.... sempre fui um animal noturno que produzia enquanto os outro dormiam.

Saudades de meus filhos que não me deixam ver... sinto falta de alguém que me ame... quero fugir desta casa que para mim representa uma prisão com a melhor comida do mundo, não quero esta gaiola de prazeres onde o amor nunca é perene. Ninguém sabe o que é viver como eu vivo, sendo exaltado em uma hora pela honestidade e sendo humilhado na outra pela falta de um sucesso que nunca quis. Quero fugir...

Covarde... Disso eu sei que não passo, porque fazem duas horas que estou tentando ter coragem para sair desta vida, para sumir deste universo, para enforcar meus problemas, para suicidar minhas aflições e não tenho coragem. O cheiro de pólvora no cano da arma, a frieza do metal em meu ouvido, o “click” relaxante do tambor a girar. Tudo tão fácil! Me bastaria coragem... mas... Covarde... Disso eu sei que não passo.

Até quando???

Marcelo bosta,fodido,deprimido,arrasado,cansado da vida
20.03.2001
aqui, nesta gaiola dourada, bem alimentado, bem vestido, aquecido e infeliz.

E chega a hora de mais uma vez partir.


E chega a hora de mais uma vez partir.

Já não tenho lágrimas desta vez, e se as tenho agora são diferentes, não são apenas lagrimas, são gotas de amor que brotam de meu peito, viajam pelas lembranças destes dias maravilhosos e deságuam no leito cansado de minha face.

Palavras são apenas palavras e não dizem o que quero dizer. Desnecessário dizer como estava meu peito antes de aportar em suas vidas. Estava só, desconsolado e largado. Hoje luto para esquecer meu passado e lutar no presente por um futuro melhor para mim, para meus filhos; para o mundo que é o meu mundo.

Quisera ter asas, asas longas e brancas feito um anjo. Assim voaria e planaria por entre rochedos, escarpas e serras e assim sempre estaria pertinho de vocês e assim seriamos sempre um juntos ao invés de sermos sempre vários separados.

“Sonho que se sonha só é apenas um sonho, mas sonho que se sonha junto é realidade” assim já dizia o poeta e me visto de poesia para esconder-me por trás de palavras, metáforas, mesóclises e figuras de linguagem. Escondo-me, pois é mais fácil para mim me refugiar do que enfrentar este salto que agora ensaio.

Saio de minha cidade, de minha família, de meu lar, de meu amor. Saio de minha vida para aportar na aridez do sertão, aridez dos corações que aqui permeiam e acampam olhares desconfiados de onde não poderei fugir.

Desta vez, a partida será mais fácil. Pois descobri uma nova família e um novo porto seguro para usar como referencia aqui, acolá ou nos confins do mundo.

Minha mana querida, amiga minha; lembra-se de quando eu era criança e fugi de casa, buscando refúgio junto a ti? Pois é, a estória se repete com outros atores, outros cenários; mas com o mesmo destino: a segurança de teu abraço e a proteção de teu olhar que apesar de aparentar tanta brabeza é feito de amor, amor e amor, muito amor. Quem pode imaginar que por trás desta frágil saúde, deste olhar penetrante reside tanta força, tanta coisa boa. Você é a coisa boa que brotou no terreno frio e escuro no qual minha vida transformou-se. Se cuide menina!!! Sem você o mundo para!!! Relaxe senão relaxará para todo o sempre, amém. Não se preocupe demais, sou capaz de tudo por você.

E tantas outras pessoas que conheci por aqui e aprendi a amar.


Agora faz-se tarde no sertão, e me lembro de meu agreste. O cheiro da fumaça dos carros, as pedras e cordas de minha vida, de meus filhos, de minha ex-esposa, de minha casa que tanto amava.

Sinto o tempo passar, cada vez mais me levando para longe de meus sonhos e anseios. Mas também passa o tempo, chegando a hora de minha partida.

O verde das poucas árvores se contrapõe com o azul do céu, pintando um quadro belo que me lembra a doçura de sorrisos quentes e que agora habitam a centenas de quilômetros de meu peito.

Passam corpos, rostos e sons, mas não passa o futuro que um dia esperei para mim, futuro que ontem foi sonho e hoje é desilusão.

Na rua, vozes falam e eu rio, pensando em como a vida às vezes teima em ser tão insidiosamente sarcástica. Penso em mim e meus pés formigam, a cabeça fica leve e sinto minhas artérias acelerarem ao ritmo de meu coração apressado. Sinto meu sangue fluindo como se estivesse preparando uma erupção de força de vontade para vencer a todos e tudo. Mas sei que não sou mais aquele herói intrépido que antes pensava que tudo podia e que tudo teria. Desilusão, teu nome é realidade, minha realidade.

Nesse torpor, viajo pelas nuvens que preparam o ocaso solar no horizonte. O céu começa a adquirir um tom lilás e os primeiros morcegos ensaiam seus vôos a caça de sustento.

Quisera ter asas, asas longas e brancas; feito anjo, feito demônio.Para abraçar meus medos, meus anseios e meus sonhos e alçar vôo por entre as nuvens, me levando para o alto da mais impossível escarpa. E lá, eu me despiria de tudo e começaria tudo outra vez.

Mil vidas queria viver para que tivesse mil chances de viver todas as maravilhas que tive oportunidade de sentir. O sorriso de meus filhos, o abraço quente da mulher amada, o vento a açoitar minha face a dezenas de metros do chão, o abraço de minhas irmãs, o respeito de minhas sobrinhas, as lágrimas de saudade de meu pai e a eterna saudade de tudo que nunca vivi com meu irmão e minha mãe.

Agora estou só, estou tendo minha mente torta e meu peito despedaçado como únicas escoras para agüentar-me na árida estrada que me aguarda pela frente. Mas sei que onde estiver poderei contar com o amor que vocês me proporcionaram, por onde eu for levarei vocês no peito.

A cada dia que nascer eu pensarei na força que vocês me deram e me fortalecerei para a batalhe árdua de meus dias. A cada noite eu pensarei no calor com o qual me acolheram e chorarei as alegrias das maravilhosas lembranças que plantamos juntos, de mãos dadas e unidos por um carinho muito especial que nasceu na esterilidade do sertão.

Eu estou feliz, pois amo vocês.

Obrigado

Marcelo Manoel da Silva
Serra Talhada, 07 de agosto de 2001.
Hoje e Sempre

Tenho visto muitas coisas nesse mundo de meu Deus.


Tenho visto muitas coisas nesse mundo de meu Deus. Tenho participado ativamente de vitórias, derrotas e empates (alheios e pessoais); e tenho ficado cada vez mais cansado de tudo isso.

Oxidei minha pele de tanto perceber que o que era para ser uma obrigação moral à todos, hoje virou uma exceção. Para se elogiar alguém se fala que ele é honesto. COMO ASSIM?

Tenho assistido pais darem presente para os filhos quando esses APENAS cumprem suas obrigações (passar de ano, ter comportamento exemplar, ter respeito pelos outros, etc)

De tanto assistir a falta de agradecimento ao Divino por parte das pessoas, tenho esfriado meu sangue. De tanto perceber que o ter é mais que o ser, tenho nublado minha visão para o simples. De tanto ver (cada vez mais sozinho) que o copo está meio cheio (perdendo para a maioria que o vê meio vazio), tenho me calado cada vez mais.

Onde foram parar as risadas? O que foi feito das gargalhadas? Hoje é normal você viver 10 anos ao lado de alguém e só uma vez, APENAS UMA ÚNICA VEZ, escutar uma gargalhada plena oriunda de sua boca. Eu queria apenas fazer as pessoas rirem. Gostaria de por a alcunha de “palhaço” no meu RG; queria plantar sorrisos pelo caminho para que quem visse depois pudesse colher alegria. Mas os únicos sorrisos que encontro são de “compreesão” ou risos mornos de quem encontrou muletas nas religiões, nas filosofias e nos fundos de copos vazios.

Quisera ter um gás venenoso que exterminasse com a dureza, com a seriedade bruta e com o rancor de coisas perdidas. Quisera ter um pó mágico que varresse das faces as marcas deixadas pelas caras amarradas dessas pessoas que perderam-se da criança que um dia foram. Quisera ter um meio de sair deste planeta onde o “exemplo”, o “tamanho” e a “conduta” pregam a aniquilação da infância que alguns de nós deixaram para trás.

Somos quem podemos ser, quando nos permitem que sejamos nós mesmos. Somos o fruto de uma sociedade egoísta e alheia que assiste a tudo com uma passividade covarde e ridícula. Esquecemo-nos que somos filhos do átomo e herdeiros de um poder deixado por Deus para que evoluíssemos em direção à luz. Mas a evolução (quando ainda encontramos uma cátedra, sinagoga ou grupo que busca harmonia) que nos é ensinada prega a seriedade e a distancia dos que estão do outro lado dos muros das escolas.

Perdemos o contato com o sal da terra, buscamos coisas materiais e abandonamos a árdua tarefa de atravessar uma rua, uma cidade ou um país para poder levar algo de bom e imaterial a quem precisa. Pensando em nossos problemas nos esquecemos de pensar que a cara fechada do outro lado do balcão talvez tenha seus motivos para cultivar o rancor e o mal-humor. Preferimos também fechar a cara do lado de cá do que fazer nascer um sorriso sincero e mostrar aos outros que existe a maravilhosa possibilidade da alegria!

Estou cansado. Esperançoso e cheio de fé! Mas cansado deste caminho cheio de flores e espinhos, onde a maioria observa o espinho e ignora as pétalas. Estou exausto de arrastar minha carcaça para dentro dos depósitos de lixo para lá plantar jasmins e ver que o jasmim não floresce no metal frio nem no vidro brilhante. Estou cada vez mais ressecando minhas raízes e fazendo brotar couraças em minha pele e sendo atraído pelo brilho do bezerro de ouro. Faltam-me forças para continuar entre essas pessoas frias, distantes e alheias à dor do próximo.

Esses dias recolhi um mendingo que passava mal e o pus no carro para levá-lo ao hospital. A moça do mercado falou que era melhor deixar ele ali mesmo, que seria um a menos! E no hospital a estória se repetiu. Ao constatarem que ele estava tendo um infarto, uma das enfermeiras mostrou-se visivelmente transtornada por ter que lavar o coitado para poder tratar dele. Sua pele tinha cracas de sujeira e o cabelo carregava uma grossa película de gordura.

Meu casaco novo com apenas uma semana de comprado tornou-se praticamente inutilizável, e no banco de meu carro ficou o cheiro daquele monte de lixo que já fazia parte do corpo do pobre senhor. Fiz apenas o que o Cristo nos ensinou a fazer, mas ao contar a meus amigos eu percebi que era visto como um lunático e que isso não era de minha conta. Esse golpe foi interessante pois pude ver que ainda consigo manter a minha sanidade no meio de tanta sociopatia disfarçada de modernidade.

É... Como diria um grande amigo: “Esse mundo anda muito mal-frequentado!”, e a freqüência de nossas almas parece a cada dia abrir-se em leque de vibrações diferentes e cada vez mais não conseguimos harmonia com nossos irmãos e irmãs, com os animais e plantas do planeta, com as almas boas e os anjos de luz que estarão sempre nos velando.
Os teólogos, pastores e filósofos não cansam de falar que para alcançarmos a paz temos que nos livrar das coisas ruins e buscar o amor ao próximo, mas o lado mal parece exercer uma grande influencia sobre nossas mentes e saímos pelo mundo como se fossemos zumbis em busca de nada e de coisa nenhuma.

Cartões de credito, dinheiro no bolso, carros novos, casas bonitas e status não nos levarão à paz! As preces são importantes mas não pensem que uma oração vai lhe garantir um lugar na próxima morada! Temos que largar o material e aprender a sorrir! Sorrir com os amigos, levar um semblante feliz a quem precisa; aprender novas piadas e brincadeiras para compartilharmos essa centelha, essa fagulha divina que se chama alegria!

Marcelo “PALHAÇO” Silva
Piracicaba-SP

27 de março de 2012

Chove em Caruaru


Chove em Caruaru, na cama de meu pai que a muito já morreu eu mergulho em lembranças antigas e dramas recentes. O meu caldo genético borbulha em dores de parto. Ao receber patadas de quem sempre ofereço paz e guarida eu colho as frutas do mesmo tratamento que ofertei a uma terceira pessoa a quem um dia a muito tempo atrás também me ofertou paz e guarida.

Meu rosto torto pelas pisadas atuais já não esconde o rancor, mas essa mesma face também não oculta a paz da resignação de toda esta dor cujas sementes eu mesmo plantei em tempos idos.

O sono se foi como uma mulher que partiu antes de se tornar amante. Na minha mente agora habita uma insondável inquietação, uma névoa espessa com perfume de um tempo que nunca existiu. Acendo um cigarro e a nicotina minha de cada dia entope meus pulmões num suicídio lento, leve e sutil.


Sou tomado pelo som dos pingos da chuva, como se fosse uma doce e antiga cantiga de ninar. Chove em Caruaru e ainda não encontrei aquele muro amarelo onde um avião cairia em mim, tornando-me pira humana e levando-me para minhas ultimas semanas purgativas, para meus últimos dias de expiação de tudo que fiz e de tudo que não fiz.

Escuto sons ao longe, alguém assovia no meio da noite. Na cama de meu pai eu começo a perceber o sono chegar. Chove em Caruaru e estou só com meus fantasmas, com meu destino a muito traçado; com a certeza de que a paz que um dia eu tive nunca mais irá voltar.

Chove em Caruaru, e na cama de meu pai eu não me encontro nem comigo mesmo. Chove copiosamente, uma chuva fraca que não lava minha alma; uma chuva que me convida a descer deste trem da vida.

Não quero mais escrever, quero apenas dormir na cama de meu pai e escutar a chuva que cai em Caruaru.

Marcelo Silva
Na cama de meu pai, escutando a chuva em Caruaru.
31 de julho de 2012