sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Jardim seco e estéril

De todas as flores que brotam de meu cerne poético, apenas algumas são colhidas, deixando a grande maioria a morrer pensa nos galhos. De todas as flores não colhidas, não brotarão brotos plenos de crescimento.

Eis a roseira! Ainda vive! Mas eis também a frieza da jardinagem que a ela releva o nada!

E a roseira prenhe de amor vai morrendo, findando-se pela falta de solo fértil onde o que brota de seu interior possa encontrar ressonância e inflar-se do adubo-amor.

Eis a roseira que já não mais brota...

Eis o poeta que já não mais palpita...


Eis-me eu...

Sinto que o dia-a-dia atual me deixa cada vez mais solapado, tomado e relegado à planos mais terrenos, menos criativos, mais materiais, menos românticos.

As pessoas são más! Mesmo achando que estão fazendo o bem.

Pois necessita-se de um mínimo de aurora.

Precisa-se de uma musa que ao menos represente algo de belo, puro e (in)tangível

É necessária uma aurora!

Para mim, bastaria a réstia da aurora por baixo dos pesados portões de minha prisão.

Se ao menos eu pudesse enxergar a luz que me foi tirada, se ao menos eu pudesse tocar a brisa que não chega nas masmorras que hoje vivo; se ao menos pudesse escutar o canto dos pássaros sem as grades para filtrá-lo. Já seria muito.

Só queria um amor, e na busca, busquei longe; e no encontro, vi-me tolhido.

Faz-se imediata a presença de um mínimo de reconhecimento, um mínimo de atenção.

Olho-me no espelho e a dor maior é ver que não sou 100% imperfeito, que se fuçar bastante, tem algo bom por baixo de toda a lama.

Se minha musa escolhida não me completa, que eu tenha outra! (nem que seja imaginária)

Assim criarei a escultura da mulher buscada, a tela do amor perdido; a poesia da vida sonhada.

Assim, serei feliz dentro da caverna onde as sombras substituirão a realidade, serei feliz por trás dos véus que me protegerão das palavras frias e da opacidade do amor circunstancial. Assim talvez no sonho da mulher amada eu encontre a paz que a muito perdi.

Marcelo Silva
17/07/2009
Atordoado, porém atento!
...Hoje e sempre...

Quando podiamos ser felizes

Você poderia amar alguém que não te atrai? Você se sentiria atraído por alguém que não ama? O que faz nós, criaturas imperfeitas, sentirem este aperto no peito quando encontramos pessoas especiais? O que você faria com relação a alguém que te tira o fôlego cada vez que se aproxima? Qual a sua reação ao sentir o sangue ferver nas veias ao sentir o cheiro desse alguém, mesmo esse alguém não fazendo o seu tipo?

Sinto-me perdido num labirinto de emoções desde a primeira vez que senti teu corpo junto ao meu, foi tão maravilhosamente intempestuoso, sem cobranças, sem limites, sem nada... Apenas nós dois.

Foi tão louco e certo que me assustei e fugi para sempre (sempre?).

Mas a cada reencontro nosso na rua, fica o gosto amargo da fuga, do medo e da solidão em minha boca.


Tive dezenas de mulheres, centenas de paixões; milhares de desilusões.

Mas nossa estória sobreviveu e dos escombros deste cataclismo que abalou minha vida, surgiu uma flor, e ela tem o teu nome.

Mas como te dizer que te amo?

Como confessar esta paixão por você, sendo você tão diferente do padrão estético de beleza que me move nas rotas do amor?

Como aceitar este carrossel de emoções em que sou jogado a cada vez que te vejo?

Por que sempre que estou me sentindo só, ou quando brigo com as mulheres, ou ainda quando no fim de tarde de um dia cinzento (daqueles com sabor de preguiça) quero correr para ti, atirar-me em teus braços a procura as vezes de carinho, outras vezes de sexo e prazer, e outras tantas vezes apenas a procura de você?

Eu sei, São perguntas sem respostas...

A única certeza que tenho, é de que se te encontrar mais uma vez na rua, estando os dois sozinhos, soltos e perdidos a procura de se achar, vai ser como da última vez e acabaremos um dentro do outro, se abraçando e desejando que aquele momento nunca mais se acabe.

Eu sei disso, eu tenho certeza disso; pois é mais forte do que eu, mais forte que as leis dos homens e de Deus.

Se a vida fosse mais simples... Eu apenas teria que correr para teus braços e me embriagar no cheiro oleoso de tua pele. Mas tem outras coisas, tem a família, tem os filhos; tem meu medo de enfrentar coisas simples como esta.

E agora eu tenho que partir desta cidade, desta terra para talvez nunca mais voltar. O sul maravilha me chama e eu não posso mais esperar, mas antes de partir eu tinha que te falar tudo isso.

O que achas que eu deveria fazer?

Esquecer esta loucura? Transformar-me em teu escravo e amante? Jogar tudo para cima?

Tambem não sei, minha cara, só sei disso que até agora escrevo nestas linhas tortas e desconexas que agora você lê.

Sabe, estou me lembrando agora exatamente de teu olhar sedutor e safado, olhar de mulher no cio.

O teu andar de bailarina, sestroso e sedutor, que desliza pelas minhas retinas e marca minha mente, feito uma tatuagem.

Fecho meus olhos e vejo você nua, em meus braços com os olhos fechados e a boca semicerrada pelos espasmos de teu orgasmo.

Teus quadris a corcovear em cima de mim, como se fosse você uma amazona e eu teu animal, tua montaria de prazer.

Se faz tarde no meu agreste. O cheiro da fumaça dos carros entorpecem meus sentidos tontos de você.

Sinto o tempo passar, cada vez mais me levando para longe de você. Mas tambem passa o tempo, chegando a hora de minha partida.

O verde das arvores se contrapõe com o azul do céu, pintando um quadro belo que me lembra a doçura de teu sexo.

Passam corpos, rostos e sons, mas não passa você.

No ônibus, vozes falam e eu rio, pensando em você e meus pés formigam, a cabeça fica leve e sinto minhas artérias acelerarem ao ritmo de meu coração apressado. Sinto meu sangue todo indo para entre minhas pernas e fazer crescer minha masculinidade.

Nesse torpor, viajo pelas nuvens que preparam o ocaso solar no horizonte. O céu começa a adquirir um tom lilás e os primeiros morcegos ensaiam seus vôos a caça de sustento.

Quisera ser eu um deles, para invadir teu quarto durante teu sono e cravar minhas presas afiadas na carne macia de teu pescoço, beijando, sugando e misturando-me a ti.

Quisera ter asas, asas longas e brancas; feito anjo, feito demônio.Para te abraçar e alçar vôo por entre as nuvens, te levando para nosso ninho no alto da mais impossível escarpa. e lá , eu te despiria, te beijaria os pés, separaria tuas pernas e cravaria minha boca quente e sedenta em teu sexo, lambendo e bebendo teu sumo de mulher.

Morderia tua cintura e arranharia tuas costas, iria por os bicos duros e excitados de teus seios em minha boca e faria você gemer de dor e prazer ao toque sutil de minha arcada dentária.

Beijaria teu pescoço e tuas orelhas, tua nuca e tua boca.

Aos nossos beijos, eu te abraçaria com a leveza de um colibri, para acariciar tuas costas; te apertaria com a força de uma tempestade, para por toda minha porção de carne de homem, para dentro de tuas entranhas de mulher.

Bombearia minha pélvis num ritmo frenético, e a cada estocada, veria tua cabeça jogada para trás, com a boca aberta de prazer e os olhos fechados de paixão.

Ao nosso gozo, procuraríamos a boca um do outro, enfiaríamos nossos dedos em nossos cabelos e gritaríamos dentro de nossas próprias bocas. Iríamos urrar de prazer.

Ainda comigo dentro de você e com nossas pernas bambas, nos deitaríamos no chão para trocarmos carícias e palavras de carinho. Eu iria sentir teu sexo ainda a latejar e olharia para teus olhinhos a me pedir mais.

Mil vidas queria viver para que tivesse mil chances de te conhecer.

05 de fevereiro de 2001
Em Caruaru-PE
Indo embora para Piracicaba-SP

Milena Rodrigues (Entre um casamento e outro) 02

Esta noite tive um sonho...

Estava no alto de um pico, admirando o fato de estar ali e ter dominado aquele colosso, venci a sua impossibilidade e o conquistei, e agora me restava o caminho de volta.

Seu topo era coberto por uma densa mata negra que emoldurava seu cimo, tentei descer por suas laterais mas existiam duas grutas de onde emanava um suave perfume que me embriagou e tive que prussicar de volta ao topo.

Refiz minha ancoragem e desci pela sua frente deslizando por sua testa e vi suaves desenhos e contornos que formavam sua face.


Na cavidade de seus olhos encontrei duas jóias preciosas e hipnotizadoras.

Na negativa de seu nariz pude sentir um hálito milenar e inebriante antes de dar um lance que me jogou em sua boca de dentes brancos como a mas alva das pombas brancas.

Do queixo ao colo, faltou-me corda e tive que me lançar a sua direita, onde pousei em seu ombro moreno e quente, delicadamente esculpido.

De lá pude avistar seus montes pontudos, onde pude ancorar-me e continuar minha descida. Mas não quis continuar naquele momento, esperei que o sol baixasse e deitei-me em seu colo macio.

Rapelei seu ventre rijo, sentindo o calor de suas carnes firmes. Acomodei-me em seu umbigo para de lá montar nova base e continuar descendo até uma outra mata negra de vegetação baixia.

Esse lance foi o mais difícil e também o mais delicioso. Pois esta via exalava um cheiro que aguçou meus sentidos e deixou-me com a adrenalina a mil por hora, meu peito arfava e um vento frio me gelava a espinha.

Ao chegar no centro desta mata, deparei-me com uma fenda perigosa e escorregadia, que num vacilo meu, sugou-me e prendeu-me em seu interior. Tentei todas as técnicas possíveis para minha libertação, mas foi em vão. Esta fenda prendeu-me de uma forma que só pude me libertar quando ela assim o quis.

Estava exausto e minhas forças se esvaiam como a água fria escorre entre os dedos.toda a minha perícia não foi o suficiente para passar ileso por este setor.

Agora me encontrava pendurado, flácido e agarrado no que me restava. Lancei minhas cordas e vi que minha decida estava apenas a meio caminho. Desci suas coxas grossas e pude constatar o belo desenho de suas ancas, seus pelos a cobris tudo como uma suave relva. O seu umbigo agora estava encoberto pela vegetação de seu púbis. A única visão de cima que tinha eram de seus bicos tensos e retesados, como os chifres de um touro miúra prontos a desferir o golpe fatal no toureiro que ousasse arriscar-se a enfrenta-los.

Desci vagarosamente, deliciando-me com o perfume sutil que emana de sua pele. Ao fim da via, estava estacionado em seus joelhos esculpidos de forma harmoniosa e detalhada, faltava pouco.

O chão agora era mais próximo, meu fim agora também era próximo. Estava no fim de minha jornada e ao fim de minhas forças. Lancei a ultima via e aterrisei em seus pés e beijei-os em forma de agradecimento e orgulho.

Desci ao seu sopé e afastei-me para admirar tão bela via, pude constatar o quanto era pequeno perto de sua imensa beleza. Mas me senti grande em poder abrir uma nova via onde tantos já passaram, pois aquela via era única, era minha.

Estava suado e tremendo, tenso e relaxado ao mesmo tempo. Senti vertigens em meu corpo e comecei a viajar em um enorme e incomensurável gozo de prazer pela conquista alcançada.

Então comecei a acordar e ver que o sonho não era sonho, era a lembrança do corpo da mais bela ninfa dos bosques, sonhei com um passado recente onde sonhei que fui feliz. A montanha rochosa era o corpo de Milena.

Marcelo Manoel da Silva
Caruaru, 17 de dezembro de 2001
Tardinha, depois de Jonhy Bravo no Cartoon NetWork

Milena Rodrigues (Entre um casamento e outro) 03

O que é acordar?

Acordar de um sonho bom?
Acordar de uma noite na qual você não dormiu?
Acordar de um doce pesadelo que mesmo te machucando, ainda assim é bom.

Há... como gostaria de saber se é bom recomeçar um sonho que sempre acaba, que sempre insiste em não continuar. É uma pena que Existam dias que são permeados por um sorriso bobo de uma paixão que não sai de mim e existam outros dias onde corro e escondo-me de mim mesmo para não pensar em você e descobrir que nunca saberei se serás minha realmente.


Sábado à noite, vivi um sonho, me vi sendo moldado por uma forma que era e não era a minha, me vi transformado em cores, cheiros e nuances. Vi-me pronto para ti. E mais uma vez você não me quis. E mesmo assim fui rastejar, implorar pela tua doce e suave companhia. Pelo teu doce e suave veneno que me entorpece os sentidos e deixa-me jogado pelo chão de estrela das minhas noites solitárias.

Então aconteceu o que esperava, consegui impressionar-te e raptar seu desejo e tua companhia.

E na noite, o mundo assistiu a um espetáculo de beleza e luz, elegância e sensualidade, carinho e romance. Pois fomos feitos um para o outro em todos os sentidos: beleza, educação, elegância, sensualidade, presença de espírito... em tudo, até no gênio desgraçado e inconveniente que aprendi a controlar e você aprendeu a usar para fugir de mim.

Agora estou aqui no frio de uma falta sem fim, no calor de uma chama que teima em não se apagar, num escuro onde a luz dos olhos teus não me alcançam.

Imagino-me em uma carruagem sem cavalos ou condutores, sem freios nem controle, sem portas, janelas e sem saídas, descendo uma ladeira sem fim onde o final que me aguarda é a dor e a destruição de sentimentos e planos que construí para vive-los ao teu lado.

Nesta ego-trip eu vejo passar na minha frente às nuances de minha vida até te conhecer, e vejo-me feliz ao lado de alguém que me amava, vejo-me feliz ao lado de meus filhos, vejo-me feliz comigo mesmo. Foi outro sonho bom do qual acordei e agora já não quero voltar para ele por completo, sinto falta de meus filhos e de mim mesmo.

Pelas frestas da madeira da carruagem eu vejo as mulheres que encontrei pelos sertões, vejo os planos que fiz na aridez do vale do São Francisco e que lá mesmo deixei. Lembro-me da volta à minha doce Caruaru, dos planos reiniciados e das mulheres que reconheci nesta volta revoltosa. Camas divididas, casas desfeitas, cabeças soltas e sonhos presos.

E aqui te conheci de novo e nos encontramos com a casualidade de teus planos de cruzar calçadas para fazer-me pensar na coincidência do encontro.

Serra dos cavalos, rapel de biquíni, carona em minha garupa, poesias de bar e amores dentro de carros estranhos.

Fui fisgado pelo teu olhar de menina safada, pelo teu aceno de mão a me chamar para dentro de teu corpo. Você despertou o amor que morava em meu peito, enfeitiçou-me com teus elogios e carinhos, deliciou-me com uma juventude que invadiu meus olhos, escorreu pelas minhas artérias e desaguou nos suores meus misturados aos teus.

Conheci-te, te quis, te tive e te perdi mais uma vez.

E agora ??? que queres que faça com este amor que você mesma não deixa morrer? Queria lutar por você, mas você não quer lutar nem por você mesma.

Onde se esconde o caminho para teu coração? Onde mora o amor em teu peito?

Queria agora ser um ser de luz e sombras, para misturar-me à noite e entrar pelas frestas de teu quarto e deitar-me ao teu lado para ver-te dormir. Depois assumiria a forma da luz, para invadir teu quarto junto com os primeiros raios de sol e despertar-te de teus sonhos, sonhos que sei que nem sempre (ou quase nunca) faço parte.

Mas é uma pena, pois nunca sei se te encontrarei a dormir ou se tua cama estará vazia e você preenchendo outros espaços em outras camas.

Nunca é cedo demais para ser tarde, nem tampouco tarde demais para ser cedo. Porque você não some de uma vez ou aparece para sempre? Teu cheiro esta tatuado dentro de meu peito e tuas formas estão impregnadas na ponta de meus dedos, teu olhar me persegue na escuridão de meu quarto, tua presença me faz fazer promessas a você e a mim mesmo, promessas de lutas e batalhas inglórias pela honra de tua companhia.

Nossa noite de sábado foi maravilhosa, encantamos a tudo e a todos com nossa imagem bela de romance e beleza. Depois saímos à noite para vermos o que provocaríamos nas pessoas com nossa presença e descobrimos o quanto somos belos e felizes um ao lado do outro, somos um conjunto de luzes e sombras, belos como uma estrela. Voltamos para nossa cama e lá, te coloquei para dormir em meus braços, você adormeceu tranqüila e serena. Tive que usar de mil artifícios para conter-me e não te agarrar e te fazer mulher mais uma vez.

Vi-te adormecer e despertar em meus braços, pude admirar tua pele morena e teus cabelos negros e teu corpo sem roupas. E quando acordastes, matasse-me mais uma vez com o veneno doce, viciante e embriagador do teu sexo. Nos bebemos, nos comemos, nos amamos um ao outro. E nos perdemos de novo, mais uma vez, novamente.

Contive-me a noite toda para não te perguntar se continuaríamos esta bela estória de amor, este romance que quis, quero e não sei o que fazer para continuar querendo ou não.

Mas a resposta não veio de tua boca. E se veio, veio maquiada e você não conseguiu fazer-me entendedor.

E agora estou aqui, sem você e você aí; não sei por onde.

Estou ficando preocupado comigo mesmo, pois estou ficando com ciúmes do ar que te rodeia, da cama em que te deitas, do lençol que te cobre, da comida que invade teu interior e da roupa que te abraça o dia inteiro.

Preocupo-me comigo mesmo pelo medo do que teu medo possa causar a mim mesmo. Tenho medo de perder-te, mas tenho mais medo ainda de perder-me de mim mesmo. Porque você não vem de uma vez para mim? Porque você da atenção a conselhos de alma sebosas recém convertidas que nem conseguem agir da forma que pregam? Onde está a real razão de tuas fugas de minha companhia?

Eu te amo, como um pássaro ama o ar em que voa, eu te amo como o peixe ama a água que o mantém vivo, eu te amo como o amor ama a si mesmo.

Vem amor, vem como a madrugada que traz a paz aos amantes, vem minha querida, vem de volta e traz de volta a minha vida e a minha paz que você leva embora a cada vez que sai de perto de mim. Vem minha amada, vem trazendo as flores que brotam aos teus belos pés, vem de volta pro nosso aconchego e traz a segurança que sinto ao teu lado, vem para me fazer feliz nos braços teus, vem para meus braços e para a paz que perdemos a cada vez que nos separamos.

Não quero ter apenas noites de prazeres com você, quero ser tua alma gêmea, quero estar ao teu lado nas alegrias e tristezas, saúde e doenças, quero namorar e brigar com você, pois se é ruim brigar com você, é muito pior brigar sem você.

Quero poder te dar a mão quando precisares, quero ser teu sendo você minha, quero construir asas para voarmos juntos por entres bares e lares, sobrevoarmos as cidades que sonharmos e pousar na mais deserta das ilhas sob o luar de nossas fantasias.

Quero ser teu guardião e te guardar de todas as ameaças físicas e imateriais que porventura venham a atormentar nossa paz que nos é tão cara e difícil.

Quero roubar as flores do jardim do éden e fazer uma guirlanda para coroar teu busto firme e belo.

Quero subir a mais alta das montanhas e gritar ao muno que te amo.

Quero, quero e não sei se é licito te querer tanto assim, você mora em minha mente, habita minha alma e nem de minhas preces lembro-me mais. Mas sei que Deus, na sua infinita sabedoria sabe que este pecado é perdoável, pois me esqueço do mundo para lembrar-me de ti.

Eu te amo tanto.

Não deixa que o pranto de meu coração mate-me desta forma. Sou eu quem foi designado por Deus para ser tua companhia, sou eu quem te ama meu amor. Sou eu quem largou, larga e largaria tudo por você.

Vem morar em meu peito, vem matar esta sede implacável e insaciável que me mata aos poucos. Traz de volta meu oxigênio e deixa eu te amar, te louvar minha deusa de beleza, minha fonte de vida.

Você é meu porto seguro, minha musa real e palpável, meu mar de calmaria e meu pouso tranqüilo.

Seria tão bom se você se decide-se por mim. Você só saberá se é vontade de Deus, se usar seu livre arbítrio para tentar descobrir. Estamos sós e juntos, estamos livres e aprisionados. Estou preso aos teus pés, amarrado pelo pescoço com as cordas de teus cabelos, ancorado em teu olhar para nunca mais sair.

Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo...

(entendeu???)
Marcelo Manoel da Silva
(seu eterno ex-ex-namorado)
Caruaru, noite de 23 de dezembro de 2001
23:22 (quase véspera de Natal)

Milena Rodrigues (Entre um casamento e outro) 01

Oi Criatura!!!!

Espero que estejas bem, e se não estiver espero que melhores após ler estas linhas tortas.

Sabe, ultimamente eu falava que tinha medo de tropeçar e acordar de um sonho bom que era estar com você. Mas parece que a topada aconteceu, mesmo com todo o cuidado que tive.

Já falou o sábio que recordar é viver, e recordo de você mudando de lado da calçada para me encarar bem de pertinho. Lembro de você em minha calçada me convidando para um rapel, lembro-me de seus olhares e de seu biquíni vermelho, de seu peso em minhas costas e de teu respirar suave e sensual em meus ouvidos.


Você me fez homem e menino dentro daquele carro, no chão frio do apartamento, na inusitada paisagem da pedra do açude, dentro de meu QG...

Ter teu corpo ao meu lado foi dádiva dos deuses, sentir-se amado por você foi maravilhoso; ter confiança em você foi muito bom...foi...

Ainda sinto o calor de tuas mãos nas minhas, sou capaz de relembrar as marcas de tua arcada em minha pele.

Foi muito bom descobrir em você alguém tão sem carinho, que se deixava levar por meus alentos e acalentos.

Você apareceu numa hora muito especial em minha vida, me deu forças e coragem de assumir situações que ainda não tinha como resolvidas. Foi uma pena você começar a me tratar assim tão friamente e distante justamente depois de me dar forças para que eu resolvesse minha vida pessoal anterior.

Você lembra das mensagens que me mandastes? Pois é... eu também acreditei em tudo e ainda acredito em sua sinceridade e cara-de-pau que nos é tão inerente ( não é leonina? ) e nesta confiança, espero que possas me dizer o que realmente aconteceu, para que eu tenha algo palpável para explicar aos meus sentimentos. Espero que você não venha com arrodeios, desculpas esfarrapadas; ou qualquer coisa que você escolha como mais correta e que no final só vai nos fazer mais frios e distantes.

Parafraseando o poeta: “...Que seja eterno enquanto dure...”, só esperava que fosse durar um pouco mais, só isso...

Agora estou olhando tua foto, vendo teu sorriso de menina sapeca com teus dentes gostosos de beijar. Teu colo bronzeado emoldurado pelo mosquetão, teus cabelos agitados pelo vento.

É uma pena que sejamos assim tão parecidos, pois isso nos faz conhecedores muito profundamente um do outro. Gostaria que fosse eu ou você mais diferentes, para que assim quem sabe você não tivesse se enchido de mim tão rápido, e já que somos tão parecidos, acho que você acabou enjoando de você mesmo, né pé-de-galo?

A tarde cai, pássaros passam, descrentes de seu próprio perigo. O relógio marca 13:40 e no relógio de meu peito marca o passo-a-passo para o nada.

Minha musa surgiu do nada e nesta tela fria eu escrevo letras de lembrança, trazendo de volta uma alegria juvenil que há muito não sentia. Mas você que tanto me inspira não me mostra mais a face, e na inspiração, respiro o gás venenoso do tédio e da solidão. A musa se esvai por entre meus dedos.

Sua voz é de menina, e o seu sorriso também. Ela canta palavras doces e pela linha telefônica escuto os músculos de sua face a formarem o mais doce e belo sorriso que eu jamais nunca vi.

A tarde continua a cair, os carros passam e as nuvens no céu escondem o azul que me acalma e que me guia até os pensamentos nela. No carro da frente, uma família discute algo, a gata no meu teto faz questão, através de seus miados, de avisar a todo o quarteirão que está no cio. O apito do guarda a se perder na imensidão desta tarde vazia, me faz refletir sobre minha vida. Vida minha, por que me entregas tão belo presente na forma dela, só para depois obstacolar meu caminho pela falta que ela me faz.

Quando fecho os olhos, imagino sua pele macia de seda do oriente a verter os suores de uma excitação provocada por mim. Imagino sua pele como a pele de um pêssego maduro.

Como disse o poeta, “disparo balas de canhão, é inútil pois existe um grão-vizir...” , no meu caso, existem batalhões de grão-vizires a procurarem por ela, mensagens, flores, telefonemas... é uma pena... por mais que eu tente acertar o seu coração, ele permanece intocado, resguardado pelos amores de companheiros passados, presentes e futuros. Espero que ela seja amada, que ela tenha poesias e flores ao despertar. Desejo que todas as suas noites sejam de prazeres e luxurias para que ela nunca se sinta infeliz. Rogo aos céus para que a façam muito feliz, que tornem sua vida um mar de rosas, que nunca a magoem com palavras duras e carinhos de mercador, que nunca, nunca mesmo pensem em traí-la com outra, mesmo que seja como forma de descontar algo.

Desejo-te toda a felicidade deste e de outros mundos, pois a vida às vezes parece uma carroça louca, que desce este abismo sem fim num tropeço de sensações multicores, onde temos tempo apenas de olhar pela lateral e ver o que estamos perdendo. E nesta jornada ao fim do buraco estamos todos no mesmo barco, separados pelas classes, castas e credos nossos de cada dia.

Um dia ao embarcar mais uma vez nesta descida, encontrei você, e você procurava algo que eu poderia oferecer, você queria prazer, carinho, romance...

De meu canto, observei com o canto de meus olhos o canto suave de sua voz. E neste canto de encantos, encontrei-me dominado e apaixonado pela musa, pela deusa de voz doce.

Fecho os olhos e imagino meu peito devastado pelo sopro nuclear da saudade arrasadora que ela me faz, vejo prédios, passam praças; cantam vozes, mas ela não chega até mim. Vasto mundo vasto sem porteiras, por que me fizestes assim? Que fiz para merecer este coração apaixonado e esta alma de poeta, regidos por um juízo de passarinho? Por que eu tinha que vir a este mundo com esta necessidade tão grande de trocar amor com as pessoas?

Nenhuma resposta do vasto mundo, fica apenas a certeza de que nunca mudarei, pois a poesia é meu pão de cada dia, o amor é o ar que respiro, e você é a mulher que hoje desejo.

Na minha mente reside apenas o vazio de sua ausência, no meu peito habita a solidão cruel de sentir-se só estando acompanhado, a terrível vontade de ser amado por alguém. Por que somos assim? Será que é inerente à humanidade querer sempre mais? Será correta esta busca incansável pelo novo, pelo desconhecido; pelo amor?

De onde vem esta minha paixão pelo desconhecido? O que ela fez? Qual poção mágica ela me enviou pelo olhar? Por que sinto esta falta de ar quando penso nela? De que é feito a matéria dos sonhos? Por que essa louca vontade de tê-la em meus braços?

Não sei as respostas, só sei que às vezes penso que nunca mais a terei, que nunca mais a verei; pois a mesma teima em esconder de mim a real causa deste súbito afastamento. talvez pelo medo; talvez por não querer nada além da amizade e respeito que ofereci a ela, talvez fosse melhor que fossemos apenas bons e grandes amigos... desde o começo...

Não sei de nada, só sei que nada sei; só sei o que ela me deixa saber e a cada centímetro que ela me presenteava, ficava cada vez mais nas nuvens, ficava cada vez mais apaixonado por ela... mas agora seu distanciamento e sua frieza me mostram o real caminho de um trabalho escolar a ser feito e entregue na sala de aula. Mas como tudo é relativo, relativo também seria o que deve ser chamado de trabalho escolar, onde deve ser a aula e finalmente: quem poderia te ajudar na confecção deste trabalho.

Às vezes tenho gana de quebrar o vidro de minha alma e deixa-la escorrer pelos campos do senhor, para sair em forma de nevoa à caça da pantera negra que se esconde na escuridão do desconhecido, já não penso mais direito, já não sinto mais nada, apenas resta a desilusão de saber que jamais seremos apenas um do outro, mas é sempre bom sentir-se vivo, é ótimo saber que podemos conquistar e sermos conquistados. É maravilhoso saber-se feliz, mesmo estando no perigoso fio da navalha de uma aventura de sexo e prazer, de amor e romance.

Foi muito bom estar com você... gostaria muito de continuar esta estória, mas isso não é mais de minha alçada, agora você parece que já começa a voar, ensaiando novas conquistas.

É uma pena minha amiga, meu amor, minha amante... é uma pena que você tenha enjoado de estar com um espelho que refletia apenas você mesmo. Espero nunca perder teu carinho, afeto e amizade... pois isto sim é para sempre: Teu sorriso amigo a me banhar de tua beleza...


Marcelo Manoel da Silva
Caruaru, 13 de dezembro de 2001
Tarde fria e solitária...
13:27

Eu, Pasto dos vermes.

Eu, Pasto dos vermes.

Falha-me a visão, turvando o horizonte que nem sei se desejo mais enxergar. A circulação resfolega num pulsar forçado e obstruído, maturando minha carne para os ávidos predadores das tumbas. Minhas vísceras se contorcem num misto de dor e revolta avisando da eminente falha catastrófica. Minha pele perde a elasticidade e enruga-se como um trapo inútil cheio de remendos e nodoas.

Hoje sou uma carcaça vazia e sem rumo. Arrastando-me como o holandês voador vou fatasmagoriando a antecipação do inevitável fim. Das trilhas que rumei levo as cicatrizes tatuadas em minha alma, nos caminhos que pisei deixei as fétidas marcas de minha desumanidade.


Em breve serei apenas lodo escumalhado, devorado, digerido e defecado por milhares de seres que se engalfinharão numa orgia de vermes, baratas e formigas. E tudo que sonhei, e tudo que planejei, e todos os prazeres e fantasias que busquei, tudo re-alimentará o pó do qual viemos.

Eu que caminhei soberbo, que cuspi em pratos, que provoquei prantos e tristezas serei uma lembrança que aos poucos se sublimará no gás do esquecimento. Serei um ponto genético a vagar através da descendência que um dia neguei.

E nem mesmo os vermes para os quais serei pasto saberão a diferença entre minha carcaça e o estrume.

Marcelo Silva
20 de abril de 2011
Caminhando em direção ao cadafalso

Solidão

Eis que minha eterna companheira se faz presente mais uma vez. Mascarada e mistificada ela chega trazendo um vazio no peito, uma sensação de fracasso embalada em um papel grosso e úmido de velhas sementes plantadas e não-germinadas. Ela me persegue desde sempre, às vezes me acolhe e outras me aprisiona, às vezes minha amiga e outras minha amante; as vezes privacidade e outras solidão.

O dia se arrasta sem sinais de vida, sem o som do telefone a gritar querendo atenção, sem nada que demonstre que a vida ainda pulsa. Feriados têm essa propriedade de deixar o dia mais silencioso, deixam no ar um sabor de nostalgia; como o cheiro de algo que nunca senti, como o sabor de uma fruta inexistente.

Agora faltam poucos dias para o dia D, agora já vislumbro a esquina patética desse fim-de-estoria. E assim caminhemos! Provavelmente nos esbarraremos em outras esquinas quaisquer. Talvez nos reconheçamo-nos, talvez não nos notaremos; talvez sejamos outros seres com nossas feridas abertas e curadas; pustulentas e cicatrizadas.

Erramos! Ô Deus! Como erramos! A cor do caminho, o perfume do quarto, a vida nos quintais, as fugas e saídas. Erros que se alimentavam uns aos outros e cresceram de forma avassaladora, perene e mortal.

Um longo e penoso processo de isolamento e de re-construção de uma nova vida, em busca de novos caminhos, em busca de novos amigos; em busca de coisas que não pude ter justamente por não ter por onde, nem como, nem por que.

Outra vida sempre nos espera, outro dia ha sempre de nascer; outro olhar ha sempre de se fechar e cerrar as janelas da alma. Sinto essa passagem como uma acupuntura de milhares pregos grossos que foram sendo inserido ao longo dos últimos anos na minha pele, e nesta terra estranha e fria os pregos não tem pontas! E agora a extração de cada um desses metais deixa uma grande marca, um grande furo na minha alma que talvez um dia venham a se fechar, mas as cicatrizes irão perdurar e acionar uma tatuagem dessa experiência que vai se grudar no meu ser e talvez me seguir na próximo capitulo do longo rosário das existências.

Ligo a TV, luzes e sons invadem meu quarto. Por uns instantes essa invasão esconde a solidão e a desilusão que pousam em meus ombros como abutres a espera de minha inevitável queda. O silencio não esta sendo minha melhor opção. Navego pela paleta de cores e sons e deixo-me levar pela doce nevoa de Orfeu, mas é um sono sem sonhos, tenho tido uma vida sem sonhos; é uma vida cinza.

Chego à borda do poço... É tudo tão fácil... Apenas um passo a frente... E nada mais conta...

Marcelo Silva
Sexta-feira santa
2011
(...Quanto tempo até o fim da queda??? )

Sêmem

Como o sêmen que inútil escorre pelos dígitos do onanista, eu escorro estéril pelas ladeiras desta cidade. Como um abutre em autofagia eu espero a morte para saciar minha fome de mim mesmo. Um dia tive asas, asas longas e brancas (feito um anjo, feito um demônio) e através delas estive em bares, lares e outros lugares. Eram asas imaginárias que ganhei no vapor barato da cânhamo, eram asas amparadas pela beleza da arte pura e ingênua. Eram asas que um dia me foram arrancadas e no lugar foi me imposta uma camisa de força, de castidade lúdica, para que nunca mais eu ousasse alçar vôo pelas janelas desta prisão.

E veio o vapor novamente, e rasguei a camisa de força, e minhas asas voltaram. Mas meu corpo já não suporta o esforço do vôo e canso-me logo após breve rasante por sobre mim mesmo. Minha mente anseia voar! Não o vôo treinado, conduzido; pré-estabelecido das noites de sextas-feiras, quero o vôo liberto e sem condicionamentos que me leva às estrelas e que por vezes me arrebenta nos muros da experiência. Quero sair deste corpo sem que o cordão de prata me obrigue a voltar, vou sair deste casulo abandonando este corpo, esta casa; esta vida.

Aos amigos a amizade, aos inimigos o meu melhor pote de fel; aos desconhecidos a minha ilustre insignificância.

Quase toda forma de amor morre para (talvez) renascer como uma fênix, quase todo amor escraviza, humilha e afoga a unidade do pequeno com o imenso. Se um dia pudesse voltar ao meu futuro que mudei no passado, eu teria um atelier ao invés de uma casa, um ninho ao invés de uma cama, um abraço ao invés de um olhar, um amor ao invés de uma companhia; um futuro ao invés de um passado.

Vejo o tempo passar levando meu irmão, meu pai, meus filhos, meus grandes e imensos amores, nacos da minha alma. Ô tempo! Eu que te meço, eu que te sirvo, eu que te odeio! Ô tempo! Se até o universo é assombrado pela tua frieza por que te medimos? Para mim o tempo passou como passa a paisagem pela janela de um trem em veloz movimento, mostrando a bela moça no caminho e que pelo mesmo caminho ficou, mostrando as crianças que ali mesmo ficaram, exibindo a vida que escolhi e desperdicei. Agora vejo o tempo passando e levando meu tempo que não tive tempo de medir, usar e mudar! Que venha o tempo final para mim e inicial para tantos. Saio deste marcador com a cabeça erguida de sempre, com a soberba dos que fizeram por merecer e por merecer a soberba sofrem pelo preço que ela impõe ao soberbo.

Saio desta vida como um ator que sai de cena, como um córrego que seca, como o ultimo acorde de uma musica, como o tudo que o todo não compreende.

Marcelo Silva
21 de abril de 2011
Ao pingo do meio-dia

Finitude

Ha anos que o fio da lamina vem se afiando, sendo afiado; criando a perfeita ferramenta do perfeito corte perfeito. Mas por mais fino que seja o fio, a carne sente sua penetração. O que um dia foram dois e depois uno se fizeram, agora voltam a serem dois caminhos distintos.

Tantas ilusões, tantos abraços e poesias perdidas no tempo. O peso da busca, a fragilidade das diferenças; a finitude dos meus alcances. O que conta mais ou menos? Sinto-me um fio de cabelo nos azulejos do Box durante o banho, escorrendo a serpentear em direção ao ralo. Hoje no esgoto, Amanhã nos rios e depois no mar, e quem sabe serei novamente o que um dia perdi por nunca ter sido.


A divindade que habita em cada ser pulsa nos menores organismos, isso nos torna mais próximo do universo mas afasta-nos de nós mesmos. O plágio das palavras e das frases não me ajuda, mas acende fachos na escuridão desta manhã morna e vomitável. Tento buscar a melhor forma de explicar este vazio, esta lacuna na vida; mas faltam-me palavras e idéias. É como se a melhor saída fosse a saída, é como se a solução final não fosse afinal tão banal. É como se buscasse o interruptor para desligar essa existência e tentar outra novamente.

Eu busco a ciência do inevitável, eu caminho pelas estantes dessa imensa biblioteca onde as lombadas não identificam as obras, mas as pessoas. E esta infinita leitura superficial de cada um arrasta-me pala um vale sombrio e pantanoso onde o ar queima meus pulmões e a luz do sol não consegue ultrapassar o denso nevoeiro salpicado de gritos desesperados dos que tanto avisaram e não foram ouvidos. “o inferno são os outros” diria Nietzsche, mas o inferno somos nós mesmos, os demônios foram criados e libertos a cada inspiração de nossos pulmões tão cheios de fuligem e fumaça. Que venha o inferno! Aos poucos me foge a fé, aos poucos se desvanece os últimos resquícios de reconhecimentos cristãos, budistas; ou qualquer outra forma de amor fraternal. Sinto tentado a se entregar à vendeta do destino, sem lenço e sem documento, sem fé e sem alma; como um coletor de almas, como um diabrete cuja função seja função nenhuma, como um servo que segue dois mestres, como um aprendiz de demônios, como um caçador de anjos.

Eu e meu corpo; A distancia, a velocidade, o saber. Nada disso importa pois não tenho um destino e vou para onde o vento das almas me levar. Eu que convivi com o doce sabor da vitória e a lacerante dor da derrota ainda continuo nessa busca por um Oasis de (in)sanidade nesse deserto de loucura que vocês chamam de casa. Pois o pior de todos os destinos, pois a maior dor de todas as chagas; pois a pior de todas as ironias nestes incontáveis mundos e infinitas estrelas é ser eternamente sozinho, é ser perenemente infeliz.

Marcelo Silva
23 de abril de 2011
Afogando-se docemente no visgo fétido da renuncia, da retirada da batalha; da desistência do caminho da luz.

Eu, veneno...

Eu, veneno...

Colhi as flores infectas das buscas sem sentido e separei o doce pólen do egoísmo;
Escavei as batatas da arrogância e delas retirei a fina casca da falsidade;
Nos ventos do norte capturei a poeira fina e penetrante da indiferença;
Nas margens da nascente da loucura eu garimpei as pequenas jóias da desilusão;
Na cocheira dos vermes recolhi o estrume sanguinolento dos que já se foram antes de mim;



Da marcenaria dos planos diabólicos e perversos separei o pó-de-serra das madeiras mais podres que usei para erguer o tapume de minha inanição;
Nas sarjetas das ruas fui buscar as palavras vis vomitadas no calor das angustias;
Da latrina do ódio roubei as cortinas sépticas dos vícios para usar como filtro;
Do entulho de minha vida roubei a cabaça dos segredos sujos para servir de pote;
De minhas lembranças arranquei o caule da mentira para usar de pilão para maceração final;
Para usar como solvente, fui atrás das lagrimas que ao invés de me purificar travaram minha face numa mascara fria e sinistra.

Esperei a hora correta quando os segundos se arrastam na solidão deste quarto, quando os minutos se distorcem no pranto do medo, quando as horas se encontram todas em apenas uma. Neste putrefato momento, misturei todos os ingredientes até obter uma pasta fétida, pegajosa e borbulhante. Nesta gosma encontrei minha alma verdadeira e entendi a grande sacada do poeta Augusto dos Anjos: nada sou além de um arremedo de um projeto fracassado, quando me pus como pasto dos vermes na verdade estava acima do que sou. Quando compreendi a podridão da alma humana ainda não estava pronto para chegar a tal patamar, quando descobri que todos nós somos um nada insignificante ficou mais fácil observar minhas facetas nas bolhas do veneno que explodiam na superfície como pústulas da varíola, exalando o hálito dos cânceres que corroem as gargantas dos que se calam.

Brinco com a fumaça acida que se desprende e forma mortalhas de vapor à minha frente, arde-me os olhos e calcinada fica minha pele próxima ao pote fecal que agora remexo, cozinhando meus últimos momentos nessa trilha escura, nesta senda sem sentido. Ergo os olhos ao teto e percebo o quão tarde já é para tudo que planejei um dia e que não acionei, o bafo da mistura é meu hálito cariado, o verde borbulhante é meu sangue, as pústulas são minhas sementes.

Eu sou a flor de urtiga. Atrativamente perfumado e ironicamente venenoso, meus espinhos ferem e matam, minhas sementes eu as laço nas pedras, são difíceis de morrer (de esquecer). Pássaros e lagartos procuram abrigo sob minha sombra peçonhenta sem saber que espero a morte deles para nutrir-me de seus cadáveres. Sou um predador sem sentido, uma serpente sem piedade; uma pedra sem alma. Vago pela vida sem querer saber onde chegar, arrasto-me entre as almas em busca de prazer e poder; busco espelhos e holofotes para enganar-te e emaranhar tua bondade às minhas cobiças.

A poção pronta se agiganta, o fedor começa a se espalhar como uma granguena, o próprio pote já não suporta mais seu conteúdo e grita em prantos de arrebentação. Já meio cego pela minha própria peste e tremulo com a febre negra que me invade me aproximo deste espelho meu e preparo-me:

BEBE DESGRAÇADO! Que eu sorva essas fezes transmutadas que me restaram como alimento pois minha sede jamais será saciada! À minha espera estão os grilhões do inferno, me aguardam as almas que atormentei e que agora despedaçarão meu ser, dilacerarão meus sonhos e semearão meus pesadelos com as doces lembranças que fiz questão de macular! Para mim (ô eu que apenas sou escumalha vil), sobrará os vermes ávidos para roer meus ossos, para mim hão de separar várias eternidades para que eu saiba que meu futuro é a lama pestilenta de onde nunca deveria ter saído!

Que eu saborei minha ultima dor pois será meu ultimo sentimento humano antes de voltar ao ventre negro que me criou, que eu aproveite e senta! Já que sentimentos não fizeram parte de minha passagem. Que eu tenha coragem, pelo menos a mesma coragem que tive quando os que precisavam de mim foram deixados à beira do caminho. Que eu tenha coragem ô reflexo de canalha! Não a coragem dos heróis, mas a coragem dos covardes que abandonaram essa vida assim como eu agora me preparo para o mesmo fazer.

Assuma eu o meu posto como candidato a demônio, pois se alguma utilidade eu possa vir a ter, será a de ser o instrumento do mal para por a prova a fé dos diferentes de mim (os bons!) e castigar os que assim como eu carregam o veneno no sangue falso que pulsa pelos labirintos salgados e estéreis de minhas artérias. Rogo que toda esperança me seja negada, que toda misericórdia me seja retirada e que possa me amalgamar às trevas que me criaram. Pois assim será!

Marcelo Silva
25 de abril de 2011
...só podia ser uma segunda-feira...